Dendê

Era um aquário com uma infinidade de peixes pequeninos, dourados e dóceis. No entanto um peixinho se destacava dos demais. Parecia que destoava daquele lugar. Era inteligente e não estava satisfeito com aquela ração. Acreditava que além do vidro havia um outro lugar melhor a ser visto.

Desde que percebera que à proporção que crescia o aquário diminuía, Dendê começa a procurar uma saída. O peixinho era uma sardinha, mas só porque veio parar naquele aquário por indicação de um baiano... Já sabe, o nomearam de Dendê.

_ Dei sorte, já pensou se me apelidam de acarajé? Ou então de caruru? Vatapá!

De tanto Dendê querer ser chamado de sardinha, chamavam ele de tudo, menos de sardinha.

_ Ô pequeno, venha cá!

_ Você mesmo, baiano!

_Oxente, axé, mainha, painho... Tudo! Agora chamá-lo de SARDINHA, ninguém acertava.

Era isso o dia todo naquele aquário. E o peixinho sonhava em sair daquele lugar para ter a honra de ser chamado pelo seu legítimo nome: Sardinha!

Dizem que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura” , no caso de Dendê a chance de sair foi justamente no dia de trocar a água do aquário. Ele sabia que os coleguinhas mortos eram devolvidos ao rio que passava a poucos metros... E fingiu-se de morto.

Foi um sacrifício e tanto ficar imóvel prendendo toda a respiração, enquanto ouvia os coleguinhas dizendo:

_Vixe mainha, Dendê morreu, foi?!

_Ó paí, ó ! Lá se foi o Dendê...

A vontade era dizer que estava bem. Mas se falasse com um seria aquela confusão e voltaria para o aquário. Então continuou o seu teatro. E foi parar no rio.

_ Que maravilha! Agora eu tenho esse rio só para mim!

Nem bem começa a comemorar, aparece um cardume de traíras protestando:

_Esse rio é nosso! Quem é você que ousou entrar no nosso rio?

Com um prazer enorme, Dendê se identifica como sempre sonhou:

_ Eu sou Sardinha!

As traíras trocaram olhares e ...

Zás!

Colocaram Dendê numa latinha e entregou ao chefe dos Capitães da Areia para negociar com o dono do supermercado.

Elisabeth Amorim

Obrigada pela leitura e uma semana de paz!

Bahia/2013

Elisabeth Amorim
Enviado por Elisabeth Amorim em 03/08/2014
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