Era uma vez, uma formiga albina... No dia em que ela nasceu, houve um eclipse no sol. Tudo escureceu na colônia das formigas. A fada da sabedoria foi convidada para uma reunião que deveria acontecer nos primeiros dias de vida da formiguinha. Ela nascera com sífilis, estava, portanto, fora dos padrões do formigueiro. Ficaria cega e surda. Seria um fardo para as saúvas... Deveria ter sido arrancada do ninho quando ainda era ovo e jogada fora.

A reunião aconteceu, e naquele dia... Naquele dia o primeiro ministro Fortunato Formicida, abriu a sessão com um pronunciamento solenemente fúnebre:  “Augustos e digníssimos representantes desta corte, hoje nasceu em nosso meio uma formiga predisposta a tornar-se deficiente. Ela não será capaz de assumir as funções de guarda nem de operária. Assim, diante da presumível incapacidade para o trabalho e como está escrito em nosso código: “Quem não vive para servir, não serve para viver”, minha proposta é que seja sumariamente exterminada, ou banida para sempre do formigueiro.

O destino da formiga albina estava prestes a transformar-se num exílio de vida ou numa pena de morte, mas, por sorte, a fada madrinha postou-se no meio da assembleia e vaticinou: "Esta menina será frondosa como uma palmeira e, quando soprar o vento Norte, criará asas, navegará os sete mares e será muito aplaudida... Seu nome é Ravana e toda a Terra conhecerá seus feitos. O som de seu trompete é um acalanto para a alma de quem dela se aproxima..."

Houve um profundo silêncio no mundo encantado das formigas. Em seguida, a rainha decretou: “A partir de agora, Ravanita se chamará Beethoven. Providenciem uma orquestra. Organizem o coro, quero ouvir uma sinfonia”.
— Beethoven existiu de verdade, vovó?
— A formiga Beethoven só existiu na imaginação de seu criador, mas o compositor existiu. Suas músicas acalentam a alma e estimulam o cérebro a desenvolver as sete inteligências múltiplas.

Texto: Adalberto Lima