A princesa abelha

Ainda muito novinha, a princesa abelha decidiu alçar voo e sair pelo mundo em viagem. Voava nas alturas, inebriada pela beleza do céu, e pelo frescor do ar rarefeito, quando um belo príncipe veio lhe cortejar, voando em torno dela, zumbindo asperamente, aproximando-se ousadamente. Encantada com os arroubos do nobre pretendente, a princesa se entregou a ele, em pleno voo. Entrelaçados em penetrante abraço, voaram juntos, loucamente, até o cimo mais extremado, em alegria estonteante.

Quis o destino que o nobre príncipe sucumbisse no mais alto do voo, enquanto um amplo sorriso de felicidade lhe iluminava o semblante. Morreu feliz, no colo da amada, congelando eternamente o momento de felicidade inigualável.

Tendo retornado das alturas, a princesa não teve tempo para chorar; iniciou a construção de sua casa e dos berços que, sabia, logo iria necessitar. Um a um, foram nascendo muitos bebês; muitas abelhinhas cresceram diligentes, solícitas e obedientes.

Logo a família ficou imensa, em uma casa proporcionalmente grande, repleta de berços ocupados, preenchida por uma multidão de abelhas, suas filhas, suas súditas obedientes; e tudo funcionava com perfeição na colmeia.

Certo dia, no entanto, saudosa da aventura anterior, decidiu empreender novo voo, ciente de que sua casa ficaria em boas mãos. Aprontou-se, muito alegre, e tentou dirigir-se à porta de casa para alçar voo, mas foi barrada pelas súditas, impedida de sair. Indignada, ordenou que suas obedientes subordinadas desobstruíssem o caminho, mas em vão. Ainda solícitas, suas vassalas acatavam todas as suas ordens, exceto as que permitissem a sua fuga.

Prisioneira em sua própria colmeia, impedida de voar, de dirigir seu próprio destino, a abelha teve que se resignar a seus afazeres de rainha, dia após dia, lacaia de suas próprias súditas, escrava do poder.

(O poder corrompe, escraviza e contagia todos os que se lhe aproximam).