O menino, o velho e o burro folgado

     Há muito tempo, num tempo em que ainda existiam reis e rainhas, príncipes e princesas, castelos, dragões e outras coisas que não existem mais hoje em dia, moravam numa pequena vila um velho e um menino. O menino era neto do velho e, é claro, o velho era avô do menino!
     O velho possuía um moinho. Era um lugar antigo onde se moía o trigo para fabricar a farinha, que depois servia para fazer pão. Mas a história que eu vou contar tem a ver com um burro, pois no moinho, haviam três burros que serviam para carregar os sacos de farinha até a cidade.
     Um dia, por causa da falta de dinheiro, o velho resolveu vender um dos burros na feira.  Assim, logo que o sol nasceu, puseram-se a caminho: o velho puxando o burro por uma corda e o menino indo um pouco mais à frente. Logo cruzaram com uma menininha usando um chapeuzinho vermelho engraçado, que parou, olhou bem para eles e disse:
     - Para que serve esse burro se vocês têm que andar a pé? – e foi-se embora, cantarolando pela estrada afora, bem sozinha, carregando uma cesta.
     O velho ficou olhando curioso para aquela menininha, achando que ela estava entrando numa história errada. Mas, enfim, achou que ela tinha razão e colocou o menino no lombo do burro para continuar a viagem.
     Andaram mais um bom pedaço do caminho quando cruzaram com um caçador. Um homenzarrão nervudo, de nariz vermelho, que logo foi disparando:
     - Vocês viram uma menininha passar por aqui? E um lobo?
     - Uma menininha nós vimos, sim senhor – disse o velho, continuando com a impressão de que o caçador também estava entrando na história errada. Ia pela estrada bem lá para frente. Mas um lobo não vimos, não senhor .
     - Obrigado, obrigado – disse o caçador. Mas que absurdo, meu velho! Um menino forte como esse em cima do burro, deixando seu velho avô ir a pé! 
     O menino então, pensou, desceu do animal, ajudou seu velho avô a subir e continuaram a viagem. Não andaram nem um pouco a mais e passaram em frente a uma estalagem. Na janela da estalagem estava uma velha senhora que era muito conhecida nas redondezas e se chamava Carolina. Ela olhou bem para eles com seus olhos tristes, e logo criticou:
     - Vocês não viram por acaso uma menininha de chapéu vermelho carregando minha cesta de lanche? Estou morrendo de fome e essa menina não chega...
- Vimos sim, respondeu o velho. Ela deve estar chegando por algum caminho mais longo, porque passou por nós lá no começo da estradinha.
     A vovó Carolina ficou preocupada com a menina que podia ter se perdido pela floresta. Porém, ficou preocupada também com o menino que estava junto com o velho. Foi logo criticando:
     - Que vergonha! Vou contar para todo mundo. Um menino tão pequeno andando a pé, e um velho descansando em cima do burro!
     O velho então, pensou, pôs o menino com ele em cima do burro e continuaram a viagem. Já estavam quase chegando à cidade quando encontraram uma mulher, lavando roupas num riacho à beira do caminho. A mulher, que estava cantando alguma coisa como “eu não posso mais ficar aqui, a esperar...” parou de cantarolar e lavar, olhou bem para eles e disse:
     - Gente desalmada, sem coração! Não sentem vergonha? Não vêem que são muito pesados para esse pobre animal? O burro está quase morrendo!
     O avô e neto então, pensaram e desmontaram do animal.
     Era quase meio dia quando chegaram à feira, carregando o bicho nas costas. O menino carregava o velho, que carregava o burro, formando uma espécie de pirâmide, enquanto todos que passavam diziam:
     - Mas que tolice! Afinal, para que serve um burro?