Mistério na biblioteca na escola do Vale Encantado
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"Fica estabelecida a possibilidade
De sonhar coisas impossíveis
E de caminhar livremente em
direção aos sonhos".

(Montaigne)
Este texto é dedicado a todas as crianças que passaram por mim e àquelas que ainda vão passar.




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Era uma vez... Num lugarzinho encantado dormia Mariele.
O sono ainda cobria a flores do jardim com um edredom macio e quentinho
De longe, lá da sua cama ela ouvia a vovó chamá-la:
_____Marieeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeele!
Não precisava chamar duas vezes!
Ela, já sabendo do que se tratava respondia feliz:
__________Já estou indo vovó!
Já era hora de se levantar para ir à escola e isso completava a sua felicidade .



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Mariele era uma garotinha que morava com sua avó. Ela era linda, seus cabelos eram longos e negros que luziam à luz do sol.
Seus olhos eram vivos e espertos, negros como a noite sem luar, mas eles brilhavam, apaixonados, quando se viam diante de um livro. Curiosos, não viam à hora de decifrar o que havia dentro deles.
Mariele, se arrumava bem bonita e saía pelas ruas, saltitando alegremente, como fazia todos os dias, logo chegava aos portões da escola.
Sua escola era linda, ela ficava perto da mata e por isso dava para ouvir bem o canto da passarada ao entardecer, avisando que já era hora de voltar para casa.
Nessa escola havia uma belíssima biblioteca mas, ultimamente, vinha ocorrendo um mistério indecifrável.
Toda tarde, quando Delma ia fechá-la, as obras de Monteiro Lobato estavam todas espalhadas pelo chão.
Delma reclamava : ____Não sei como isso vem ocorrendo, a biblioteca fica sempre fechada, a chave fica bem no alto e ninguém tem entrado lá ultimamente.Isso é um mistério para super Delma decifrar!
A professora, da classe ao lado, comentava que todos os dias, ela e as crianças, têm ouvido um barulho estranho, de algo caindo, mas não sabiam onde. As crianças ficavam assustadas.
Bruna, uma criança viva e esperta, para deixar o acontecido mais interessante, inventava ofegante:
_ Minha tia disse que essa escola é assombrada mesmo! No tempo dela vivia caindo coisas e ninguém nunca encontrava nada caído.
E assim passaram os dias. Tudo voltou ao normal. Ninguém mais comentou nada sobre o fantasma que rondava a escola.
O barulho havia desaparecido.
Mariele, sempre prestativa e atenciosa, com vontade de aprender, nunca faltava à aula. Sempre era a primeira chegar.
Todas as manhãs, exatamente às seis horas e quarenta e cinco minutos, lá ia Mariele com sua mochila cor- de- rosa, correndo pela rua em direção à escola.
Chegando à escola, deixava sua mochila no banco da pracinha e ia dançar e cantar com suas amiguinhas, no gramado verdinho.


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Logo soava o sino avisando que era hora de entrar para a sala de aula.
Na porta, a professora esperava seus alunos com um sorriso iluminado, sabendo que aquele seria mais um dia de surpresas.
Isso acontecia todas as manhãs, no inverno ou na primavera.
De vez em quando, um gato, um cachorro, até mesmo uma borboleta atravessava o corredor correndo e desaparecia sem fazer barulho.
Tudo era calmo, algumas vezes o vento trazia ruído distante, lá da mata, de um macaco guinchando. Ou de uma pomba arrulhando. Isso era motivo de euforia no meio da aula.
Depois de certo tempo, o barulho reapareceu e, logo de manhã, os livros começaram aparecer espalhados pelo chão, feito ramo de batatinha quando nasce.
Ninguém conseguia entender.
Certo dia, Delma enfezada resolveu ficar de prontidão espiando pela janela. Nesse dia, como de costume, só ouviram o estranho barulho que vinha do corredor:
______Klunk! Clunc! Plunc! Tlunc!
Seguidos por....
___ Praaa! Praaa! Praaaa!
Que barulhão!!!
Mas ninguém encontrou nada que justificasse aquele barulho.
Delma não se deu por vencida, dia após dia, vivia espiando pela janela e tudo permanecia igual.
Ela resolveu mudar de tática, passou a ficar escondida sem fazer o menor barulho, atrás das prateleiras.
E ficou surpreendida com o que presenciou.
Já era bem à tardinha, o ambiente estava completamente numa penumbra, bem escurinho...
De repente, a velha porta se abriu, assustadoramente, fazendo um som de rangido que não chegava a ser ensurdecedor mas, incomodava –lhe os ouvidos e causava-lhe arrepios.
______Nherrc!

____Ah... Mariele, a doce menina!
Delma pensou:
_______Só quero ver essa menina derrubar os livros, ela vai ver só o que vai acontecer -lhe, um bom castigo, um mês sem fazer educação física.
A menina entrou e parou, admirada, em frente às obras de Lobato quando.....
Praaa!......Praaa!.... Praaa!
Um barulho assustador.....
Todos os livros vieram ao chão sem que ela os tocasse.
O mais interessante é que de dentro dos livros saíam: borboletas, arco- íris, duendes, fadas e as histórias eram contadas num instante.
Delma ficou perplexa.
Mariele sorria e interagia com toda aquela magia.
Aquele momento, para Delma, foi eterno.
Depois de algum tempo...
Mariele respirou fundo e sorriu para toda aquela bagunça, abriu a porta lentamente, voltou para a classe sem perceber a presença de Delma.
A professora pergunta:
____Aonde você estava, Mariele?
E ela responde, toda vermelhinha, de vergonha:
___Fui ao banheiro, pro!
___Eu lhe pedi para sair, lembra?
E assim terminava mais um dia de aula.
No dia seguinte, aconteceu novamente a mesma história e, assim ainda, por vários dias o barulho inexplicável, os livros esparramados e Delma espiando e se emocionando com o que presenciava.

Num belo dia, quando Mariele chegou à escola, a biblioteca já estava aberta. Delma estava lá, lendo e contando histórias para as crianças.
Mariele ficou muito feliz. Agora ela podia tocar nos livros e desvendar todos os mistérios que eles traziam.
Esse mistério continuou guardado em segredo no coração de Delma e Mariele.
Assim foi estabelecido o direito de manusear os livros e, através dele, a vontade de sonhar coisas impossíveis e de voar livremente nas asas das palavras em direção às suas realizações.
Delma aprendeu o valor da leitura e Mariele fez da leitura um momento de prazer.
Fim ....
Esta história acaba assim!
Se gostou,senta e espera que logo vem outra...





Angela Maria Green.

Qual é a dimensão da descoberta do prazer de ler?
Como será que ele chega?
Mariele vivia com sua avó, a literatura não fazia parte do seu contexto e ela tinha loucura por livros e sonhava ser escritora.


Temas:
Certas bibliotecas são locais inacessíveis;
Ainda não é permitido o acesso livre a elas.
Elas guardam um tesouro que não pode ser manuseado.
Já outras bibliotecas...
São a casa do saber, estão abertas e acolhem sem exigir faixa etária, é direito de todos.

 
Angeluar
Enviado por Angeluar em 04/04/2014
Reeditado em 04/04/2014
Código do texto: T4756685
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