A MINHOCA NONOCA - A minhoquinha que queria virar borboleta

Há muito tempo, em uma terra distante, quando as coisas e os animais falavam, tinham muitas árvores encantadas, castelos e animais também.
As árvores na sua maioria eram muito velhas, grandes e faziam muita sombra. Tinham as árvores crianças e jovens também, nascidas das sementes que caiam na terra. Na sombra, muitas folhas se amontoavam e apodreciam. Havia grande umidade que era o paraíso e o reino das minhocas.
Bem junto a uma árvore enorme e bastante idosa, morava uma minhoca muito fofinha. Era uma princesinha do Reino de Húmus, do Povo das Minhocas, que se chamava Nonoca.
Era, porém muito infeliz a coitadinha, porque as minhocas donzelas do reino viviam rindo e dizendo que Nonoca não era comprida como uma princesa minhoca deveria ser. Por isso ela vivia chorando por não se achar comprida nem fina o suficiente para ser considerada uma minhoca bonita. Ela era curtinha, rosada e fofa.
Sua mamãe, a rainha de Húmus lhe perguntava: - Por que você chora Nonoca, minha princesinha?
- Porque sou curtinha e gordinha, ao invés de ser como as outras, lindas, finas e compriiiiiidas...! E assim mamãe, sem um atrativo especial o príncipe Minhoco não vai querer se casar comigo!
Sua mãe a consolava dizendo: - Você é muito jovem ainda e vai crescer bastante, e tem talentos que as outras não têm. As pessoas são mais admiradas pela bondade do coração do que pela beleza exterior. Você vai subir bem alto na vida, e um dia será a rainha de Húmus, você verá. “Quem tem esperança, sempre alcança”!

Certo dia, ela estava com a cabecinha para fora da terra, pensando muito quieta, quando o professor Corujão ao avistá-la disse: - Sei que anda chorando princesa Nonoca! Por que não sai para passear um pouquinho? Eu fico aqui no galho protegendo você de qualquer pássaro mau. Assim se distrairá conversando com as cinco irmãs borboletas.
- Irmãs borboletas Professor !? - Perguntou admirada a minhoca Nonoca.
- Sim, você não as conhece ainda? São umas gracinhas e muito bondosas, só pensam em ajudar os outros animais. A branquinha se chama Nadinha, porque além de ser branca é pequenina, quase que a gente não a vê; a vermelha se chama Brasinha, porque parece uma brasa viva de verdade; a azul se chama Celeste, da cor do céu; a amarelinha é chamada Mel, porque parece mesmo uma gota de mel contra o Sol; e, por último a poética Rosinha, por ser tão cor-de-rosa quanto à flor.
- Aonde posso encontrá-las? Pergunta Nonoca.
- Não se preocupe, elas logo aparecem, são tão travessas que parecem estar em todo lugar ao mesmo tempo! – Diz o professor Corujão.
Dito e feito! Foi só Corujão terminar a última sílaba eis que surgem as cinco irmãzinhas tagarelas e esvoaçantes.
- Tipi-ti, Tipi-ti, ti, ti, pititi? – Pergunta Brasinha para Celeste, na linguagem das borboletas, - que só falavam assim entre elas.
- Pi-titi, pi-titi! Titi-tiii! - Disse por último Nadinha apontando para Nonoca.
Na verdade, nem Nonoca, nem as borboletinhas, tinham se visto ainda, e Brasinha, perguntou para Celeste: - Que bichinho engraçado era aquele? E Nadinha disse: Como esse bichinho é bonitinho! Resolveram então conversar com Nonoca na linguagem universal dos bichos e Celeste pergunta:
- Quem é você? O que você é?
- Me chamo Nonoca, uma princesa minhoca.
Então Brasinha, a mais arteira falou: - Vamos convidá-la para brincar?
Celeste, a mais ponderada das irmãs, lembrou à Brasinha: - Como ela irá brincar conosco se ela não pode voar!? É certo que ela tem um corpinho parecido com o nosso, mas lhe faltam as asas!!
- É mesmo! - Disseram as outras borboletinhas em coro.
- E agora? – Disse Mel. E a poética Rosinha concluiu: - Vamos ensiná-la a voar como uma borboleta...!
- Brasinha disse: - Rosinha ficou biruta, vai ver seu cérebro virou flor! – Pi-pi-pi-pi-pi -, todas riram no modo das borboletas.
- Rosinha, que nunca se zangava, diz para suas quatro irmãs: - O que vocês não sabem, é um grande segredo que só eu conheço de Nonoca. O professor Corujão me contou - um dia em que eu voava sozinha -, que o maior sonho da princesinha das minhocas era um dia ela poder voar.
- Imaginem isto meninas! Disse Celeste. E prossegue: - Papai do Céu faz tudo certo mesmo, é pela vontade tão grande dela voar que seu corpinho é igual ao nosso, e não tão comprido e fino igual ao das outras minhocas! Só lhes faltam as asas...

Então, o Reino de Húmus, ficava bem debaixo de Dona Flora, a grande e velha árvore encantada da floresta. Ela já existia a mais de 700 anos, por isso é que cochilava tanto.
Um dia, as borboletinhas tiveram uma ideia. Iam pedir para a velha árvore, dar uma chacoalhada em seus galhos e derrubar umas folhas. Suas folhas eram muito bonitas, rajadas de amarelo, vermelho, verde e cor laranja, pareciam asas de borboleta mesmo! E o melhor da história é que suas folhas eram encantadas também, pois elas pertenciam a Dona Flora, a Árvore Encantada da Floresta!
Suas folhas faziam o que ela pedia. Que ficassem ali no chão para aumentar o Reino de Húmus junto à suas raízes, ou que voassem com os ventos indo bem distante, para ajudar outros reinos animais. Por isso elas voavam como asas de borboleta...
Assim resolvido lá foram elas, e a responsável para falar com Dona Flora era Celeste. Mas, que decepção para as borboletinhas! Dona Flora estava em um sono profundo. Ela chama: - Dona Floraa, ô Dona Floraa, acorde, quero falar com a senhora! E nada! Todas gritam juntas: - Dona Floraaa!! Por favor, acorde, precisamos da senhora! E nada da velha árvore acordar.
Que faremos agora? - Pergunta a sapeca Brasinha.
- Vamos pensar todas juntas para acharmos uma solução - diz Celeste.
Foi a borboletinha Mel, que sugeriu uma solução. Ela diz: - Escutem meninas, eu sou a predileta do Senhor Vento Ventania - que vocês sabem é muito ranzinza, mas ele gosta muito de mim! Que tal se formos até a caverna onde ele mora, e dai eu sendo a predileta, entro e vou falar com ele?
E suas irmãs: - Falar de que assunto Mel !?
- Aí é que está o plano garotas, já que Dona Flora não acorda de jeito nenhum, vou pedir para meu amigo o Senhor Vento Ventania que é forte e valentão, para ele dar um assoprão em Dona Flora para acordá-la ...! Que tal a ideia Celeste?
- Acho muito boa, mas eu temo por você Mel, já pensou se o Senhor Vento acorda assustado e lhe assopra? Você vai parar na Lua! E dai nunca mais vai existir a Melzinha querida... Credo! Nem pensar...
- Mas não vai acontecer nada, ele é bonzinho comigo, ele foi muito com minha carinha amarela, depois todas vocês vão estar juntas comigo, pelo lado de fora. Vamos galera, vamos nessa...!!
Mel as convenceu e lá foram todas para a toca do Vento, que era balofo, grandalhão e ranzinza, mas só quando ficava bravo. Com a Mel então, ele se derretia. Ele dizia que, se fosse um “borboleto” ele queria ser o vovô da borboletinha Mel. Ela contou isso para as irmãs que se acalmaram.
Chegaram à casa do Senhor Vento, uma caverna muito funda e escura, enorme, para ele poder caber lá dentro. Na entrada da caverna todas pousaram em uma pedra, só a Mel continuou voando para dentro da caverna e chamando assim: - Senhor Ventaniaaa! Eu posso entrar?
- QUEM ESTÁ AI !? Pergunta falando grosso e bravo o Vento...
O senhor não ouviu que eu o chamei de Senhor Ventania, quem mais o chama assim pelo sobrenome? Disse Mel.
- Oh, Oh, Oh! - Ri o Vento grandalhão, igual o riso do papai Noel. - Que cabeça de vento a minha, mas claro, só podia ser a minha amiguinha Mel!
Feliz com a visita da amiguinha, o Vento pergunta a ela, o que ela precisava. Mel então lhe conta que precisava acordar dona Flora, e o resto do caso ela contava pelo caminho.
O Vento então diz que só ia ajudar porque era um pedido da borboletinha Mel, e que ela podia contar com ele também para quem fosse amigo dela. Isso a encheu de orgulho, por ter um amigo tão bom e muito forte. Assim quando ela precisasse se defender de alguma coisa ela pediria para seu amigão.
Na saída da caverna estavam pousadas suas irmãs, e o vento as olhou bem e perguntou quem eram elas. Elas ficaram com medo do Vento ficar bravo. Mel disse que eram suas irmãzinhas e o vento muito feliz disse assim: - Então quero ser o vovô de cinco lindas borboletinhas e todos riram: Oh, Oh, Oh, - Pi, Pi, Pi, Pi !! E seguiram adiante.
Chegando ao bosque, Dona Flora continuava dormindo. Mel pede para o senhor Vento assoprar bem forte a Velha Árvore Encantada, e Celeste então lhe explica que precisava acordá-la para ela derrubar umas folhas no chão.
Então o Vento aspira muito ar a ponto de ficar parecendo um balão gigante. De repente ele solta todo o ar, em um grande assoprão em direção de Dona Flora. A Velha Árvore Encantada leva um grande susto, e acorda esfregando os galhos nos olhos dizendo:
- O que é isso? O que está acontecendo? O mundo está acabando??
-Pi,Pi,Pi,Pi – começam a rir as borboletas, e o Senhor Vento também, que cumprimenta a vela amiga: - Como vai Flora querida? Estamos velhos mesmo, só queremos dormir, agora a pouco Mel também me acordou e sabe por quê? Para acordar você... Oh, Oh, Oh, Oh!
- O que vocês querem crianças, diz Dona Flora pra as borboletinhas, sob os olhares do Professor Corujão empoleirado em um tronco.
- Desculpe-nos Dona Flora, termos pedido para o Senhor vento acordá-la, mas é que nós não conseguíamos; a senhora dormia pesado e precisamos que derrube umas folhas encantadas no chão. Só a Senhora pode fazê-lo. O Professor Corujão contará para a senhora a boa ação que vamos fazer com suas folhas.
Ali mesmo todos se agradeceram e o Senhor Vento despede-se de Mel e suas irmãs, dizendo que quando precisassem não precisavam temer era só procurá-lo.
Dona Flora dá um chacoalhão em seus galhos derrubando um monte de folhas de todos os tamanhos. As borboletas e o Professor Corujão, entre muitas, escolhem duas que acharam mais adequadas. E Celeste vai chamar Nonoca em sua casinha no chão. Chama no buraquinho: - Nonocaaa!! –
Logo ela vem para fora. Colocam duas folhas uma ao lado da outra e pedem para Nonoca ficar entre elas. Nonoca emocionada obedece as amigas e entra no meio das duas folhas. Nisso, Celeste pede para Nonoca soltar aquela colinha que as minhocas têm no corpinho e imediatamente as folhas que eram encantadas se colam na minhoquinha, formando um par de asas lindas, rajadas iguais às das borboletas de verdade. Agora era só fazer o teste do voo. Nonoca chorava e ria de emoção. Dizia: - Não acredito que vocês fizeram isso para mim! Vocês não são borboletas, são fadas. Obrigado Dona Flora, bela e bondosa Árvore Encantada! 
Todos: Dona Flora, Professor Corujão e as cinco irmãs borboletas, piscaram para o Vento que fingira ter ido embora, mas estava na mata. Disseram: - AGORA...! JÁ... Voe Nonoca, voe... levante um voo bem alto!! Antes dela dizer: - “Não Consigo”; o Senhor Vento assoprou bem rasteiro, devagar e forte... Nonoca começou a levantar voo. O vento soprou mais forte e Nonoca foi mais alto, mais alto, circulava no azul do espaço. E bradava feliz: - I U P I I I !!

Celeste gritava aqui do solo: Bata as asas Nonocaaa!! Ela bateu. Quase começou a cair... O Senhor Vento soprou, ela subiu. Treinou. Treinou. E conseguiu voar sozinha!

Então o Professor Corujão falou a todos os amigos e ao povo do Reino de Húmus que saíram com a Rainha para verem Nonoca voar:
- O sonho da Princesa Nonoca só se realizou, porque ela nunca desistiu de seu sonho, embora parecesse impossível. Ela venceu todos os obstáculos, é certo com a ajuda dos amigos, porque ninguém na natureza faz nada sozinho, sejam homens ou animais. Acima de tudo é preciso ter uma firme e forte vontade. A persistência, o sonho, e a força de vontade, nunca desistindo até o fim, nos levará à vitória!

-  UM VIVA PARA A PRINCESA NONOCA... Todos: VIVAAA!!

Nonoca se casou com o Príncipe Minhoco.
O Professor Corujão foi o oficial celebrante, as irmãs borboletas convocaram todos os animais alados da floresta para fazerem uma imensa e colorida revoada.
O Senhor Vento soprou sementes aladas, como flocos e plumas sobre o Reino de Húmus.
Dona Flora derrubava em rodopiantes voos milhares de folhas rajadas sobre a cerimônia.
Todos os amigos que lhe ajudaram estavam presentes.
A Grande Orquestra Sinfônica de Pássaros da Floresta, de todos os timbres de canto, entoou o hino nupcial e animou o Baile e a Festa!

E ASSIM... TODOS DESTA HISTÓRIA FORAM FELIZES PARA SEMPRE!
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 12/01/2014
Reeditado em 30/03/2017
Código do texto: T4646085
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