A raposa sem rabo
Conta-nos Esopo que uma raposa teria ficado presa pela cauda em uma armadilha, e que após tentativas inúteis de se libertar incólume, teria decidido roer o próprio rabo, conseguindo se livrar da prisão ao custo de parte do corpo.
Acabrunhada pela perda da pomposa cauda, a raposa teria convocado todas as outras para uma assembleia, quando pronunciou discurso inflado contra o rabo, argumentando ser essa uma parte inútil do corpo que só serviria para ficar presa em armadilhas, propondo, por conseguinte, que cada uma delas cortasse a própria cauda.
Desconfiadas, as outras raposas fingiram concordar com a propositora, pedindo-lhe que fosse ela a primeira a cortar a sua, dando a todas elas o exemplo. Embora a raposa relutasse em se mostrar, acabou sendo obrigada a expor a cauda inexistente, confirmando as suspeitas da maioria, que supunha haver algo errado com seu rabo.
Muito tempo depois, uma raposa moderninha caiu em igual cilada, tendo sido obrigada, ela também, a se livrar da formosa cauda para se manter viva. Tendo chegado em casa, sem o rabo picotou todo o pelo de uma maneira estranha, penteou-se de modo extravagante, incrustou umas peças metálicas pelo rosto, e saiu pelas ruas, lançando moda excêntrica. Novos tempos.