A GIRAFA FOFOQUEIRA
Quando Deus criou o mundo, concedeu a cada animal o poder de se comunicar, como os seres humanos, através de olhares, expressões do corpo e também por meio de sons, os mais variados.
Mas, nem tudo que é criado para o bem, ao bem servirá, também, assim acontece com a natureza animal. Os bichos, como os humanos, não foram apenas dotados de boas qualidades, mas, entre a bicharada, havia um animal que causava muita confusão: a girafa, a mais faladeira entre todos os bichos.
Quem diria, logo a girafa, sempre tão pacata e serena! ***
No princípio, porém, a estória era bem outra: quando um gato miava sobre qualquer assunto, um burro zurrava, um cachorro grunhia, piava a ave, uma fera urrava, era a conta! A tal da girafa mudava o rumo do assunto e reinventava todas essas conversas e distorcia falas.
Sabendo disso, apenas um bicho se preservou: o macaco, pois era de pouca prosa e passava o dia balançando nos galhos, preso nas árvores pelo rabo. Ele rolava de rir, quando a confusão era formada pelas conversas atravessadas de dona girafa.
Os esforços da velha coruja em aconselhar a faladeira de nada adiantaram, pois, ela não queria ouvir ninguém, só falar... Falar, sem pensar no que dizia.
***
Um dia, depois de muita briga e choradeira, resultado das conversas fiadas de nossa heroína, o castigo veio a galope. Dos céus, de onde não caem apenas chuvas e recompensas, veio a paga e a solução para tamanha desavença!
A faladeira, sem um motivo aparente, passou a desprezar as ervas terrestres ao longo dos caminhos e a preferir apenas os brotos das árvores, os mais tenros e macios, que só se apanhavam no alto. Resultado: o seu lindo pescoço, antes normal, foi crescendo, crescendo, se esticando... Até ficar longo como o vemos hoje.
O castigo não se resumiu nisso, não, o pior estava por vir. Devido ao tamanho do pescoço, sua voz foi ficando fraquinha, fraquinha, até sumir, deixando ela de emitir qualquer som ou ruído, perceptível a qualquer animal.
Com tudo que aconteceu, deixando ela de inventar falatórios e de criar confusões, passou a ser calma e tranqüila, a observar do alto os seus semelhantes, sem lhes causar nenhum mal.
Hoje, tanto na selva como nos jardins zoológicos, não mais aborrece a ninguém e é até mesmo muito admirada e estimada por todos que a visitam, sejam crianças ou mesmo adultos.
E sua voz, quando voltará ao normal?
Só os céus podem responder.
FIM