Camila Peraí
- Peraí, pai!
É assim que começa toda a frase da pequena Camila. Durante o dia, vá-lá. Mas, à noite, na hora de dormir, não dá.
- Camila, prepare a cama.
- Peraí, pai!
- Põe o pijama!
- Peraí, pai!
- Já escovou os dentes?
- Peraí, pai!
- Agora deita e fica quieta!
- Peraí, pai!
Não seria mais fácil que ela pulasse essa frase e já fizesse o que tinha que fazer? Mas, isso ia ser fácil demais. O pior de toda esta preparação para dormir, não é nem o “peraí”, mas a inquietação ao deitar na cama.
- Camila, fica quieta para eu ler história.
- Peraí, pai.
E deita. E vira ao contrário. E põe o pé no travesseiro; o travesseiro no chão; o lençol na cabeça; o ursinho dentro da blusa; fica em pé para olhar em cima da cômoda; e se olha no espelho; pula na cama de novo; põe o pé na parede e a cabeça no chão.
- Para de plantar bananeira menina, isto são horas?
- Peraí, pai.
Por mais que se tente fazê-la ficar quieta, somos sempre vencidos pelo cansaço e a falta de paciência e a deixamos mexer como quiser.
- Você está me empurrando da cama...
- Peraí, pai.
Mas, depois de duas ou três histórias, com seus olhos atentos e o este incômodo que parece sentir por seu corpo pedir por repouso, seu ímpeto é vencido pelo cansaço e adormece.
Fecho o livro e o guardo em sua estante. Pego o lençol que restou todo amassado entre a cama e a parede e o estendo sobre o seu corpanzil imóvel. Apago a luz e vou saindo pé ante pé para também me entregar aos prazeres do sono.
- PERAÍ, PAI! – Grita a pequena ao enganável pai – Deixa a luz acesa? Tenho medo do escuro!
E a noite também é uma criança para a pequena Camila.