Cuzinho de galinha
Ticintina não era de catequizar feito Tirrita, nem de disciplinar feito Tibebé. Mas
tinha mais aplicação e tolerância pedagógica do que ambas. Afinal, desincumbia-
se com rapidez das tarefas mais singelas, de varrer, principalmente, na casa de
vovó e, logo xispava pra nossa casa pra nos pagear enquanto papai e mamãe se
revezavam em seus turnos de fábrica.
E era comum passarmos horas no quintal ouvindo os seus casos, geralmente
referentes à sua meninice passada na Onça do Pitangui, enquanto ela se esforçava
por nos repassar alguma de suas poucas, mas divertidas, habilidades, manuais - e
outras mais.
Assim, logramos ir aprendendo, ao menos visualmente, como escolher e descascar
uma cana caiana, como fazer uma peteca e até, como descascar uma laranja.
Não o descascar comum, que já não mais nos aprazia, mas aquele em que ela,
ao abrir a tampa da fruta, usava a ponta da faca, e ia roletando um cone a que
chamava, baixando a voz, "cuzinho de galinha" - que sempre dava mais caldo à
boa laranjinha...