O ACORDAR DOS TRÊS PATINHOS
O ACORDAR DOS TRÊ PATINHOS
Nada existe tão bucólico, do que presenciarmos, com seus oito anos de idade, sentada num tosco banquinho, esperar ao anoitecer pela chegada dos três patinhos, para vê-los dormir sempre no mesmo lugar.
Essa menina morava num casarão, com bastante espaço verde.
Havia um pomar com pés de caquís, abacates, goiabeiras, uma parreira de uvas, e até uma bananeira.
O quintal era bastante grande, onde uma figueira frondosa, no outono, dava um enorme trabalho para todos, pela coleta diária das folhas que dela caíam.
Lá também existia um galinheiro, onde patos, marrecos, galinhas e perus conviviam pacificamente.
Uma mini-horta fornecia as verduras, hortaliças para o consumo diário de toda a família e até um pé de erva-cidreira, que como chá era de grande valia.
Assim vivia aquela menina, com uma infância tranqüila e feliz, morando bucolicamente, dentro de uma cidade.
Muitos anos se passaram. Ela cresceu e por curiosidade eu quis saber, qual o motivo que a levava todos os dias, ao entardecer ir para o mesmo lugar, para assistir a chegada dos três patinhos.
Ela então, minuciosamente relatou-me toda a história, deixando-me comovida, dada a singeleza, com que narrou todo o acontecido.
Ficava extasiada ao ver os três patinhos seguirem a mamãe pata, e em seguida agasalharem-se, sob sua plumagem, conservando somente os biquinhos de fora.
Entretanto, era ainda o seu desejo saber, como e quando eles acordavam.
Não tinha a mínima idéia, quando isto acontecia.
Acordava cedinho, para presenciar. Eles já haviam acordado e corriam pelo quintal.
No dia seguinte levantava mais cedo, mas chegava tarde novamente.
Durante dias tentou novamente, mas sem sucesso.
Não podia imaginar qual o motivo que os fazia acordar tão cedo, entretanto eles sabiam quando, iria amanhecer e era ainda meio escuro, para a menina sair sozinha no quintal.
Até hoje quando muitas décadas se passaram, ainda relembra como era doce e alegre ver os patinhos dormirem, sem esquecer das tentativas frustradas de não os ver acordarem.
Curitiba, 2002.
Página do livro da autora = Quando florescem os Cafezais
Dinah Luardelli salomon