O papel e a caneta
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– Pare, vai! Está me fazendo cosquinhas! – diz a folha, arrepiada.
– Está fazendo charminho, não é mesmo? Sei que adora atrito – responde a caneta, sorridente.
– Verdade! Já pensou, amiga, se não existisse o atrito?
– Não haveria cosquinhas! Repete a caneta.
– Nem cartas de amor – completa a folha, esboçando tristeza.
– Ah, não fique triste! Você gosta tanto de sorrir.
– Claro que gosto! É que prefiro quando me preenche de sonetos, de bons textos...
– Não gosta das leis que crio para reger o comportamento dos homens?
– Não! Prefiro a liberdade, o voar da imaginação, incrustrada em mim. Odeio regras, pois a simplicidade deveria ser a tônica da existência de tudo.
– Que tal uma receita? – insiste a caneta.
– Só se for de bolo de chocolate! – responde a folha, lambendo os lábios.
– E a prescrição daquele seu problema, serviria?
– Remédio para a minha loucura?
– Exato!
– Não quero! Prefiro continuar respondendo que não sou louca, mas o refúgio dos poetas – sentencia a folha, cruzando os braços.
A caneta, inesperadamente interrompida, silencia dentro de um bolso, na escuridão.
E a folha, naquele instante, nada mais que rascunho, é jogada no lixo.
Na manhã do dia seguinte, D. Zefinha, a faxineira, tomada por estranho sentimento, vasculha a folha amassada, lê o diálogo e se emociona... Durante a releitura, surpresa: as letras escoam por entres as linhas da folha e formam singela declaração:
Obrigado!
Crato-CE, 29 de setembro de 2013.
23h53min
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