O Galo Virgulino - Parte II
Lembrou que no quartinho de ferramentas havia cincerros, aquela peça que se coloca no pescoço dos animais e faz barulho de sino batendo.
Com uma corda fina laçou quatro deles nos caibros do galinheiro, tendo o cuidado de levar uma ponta da amarra até a janela de seu quarto.
Naquela madrugada o galo bateu as asas e começou a cantar:
- "Có... cória... cóó..."
Imediatamente, Galdino puxou a corda e todos os cincerros bateram de uma só vez. O barulho foi alto.
Galdino olhou pela janela e viu Virgulino em disparada pelo quintal. As galinhas aprontaram o maior rebuliço, os cachorros latiram alto. As luzes da casa se acenderam. Todos se levantaram perguntando o que tinha acontecido.
Dona Cila foi até o quarto de Galdino e lá estava ele olhando pela janela e rindo.
- Que foi isto, meu filho?
- Assustei Virgulino, mamãe. Ele me acorda todo dia com o seu canto.
A mãe irritada disse:
- Precisava de todo esse barulho, meu filho? Não só o galo assustou, mas todos nós. É só mudar o galinheiro de lugar, para longe do seu quarto, não acha?
Naquela noite, o galo não cantou mais.
Cedo, Galdino foi procurar Virgulino, que não estava no galinheiro.
Percorreu todo o terreiro, tendo o encontrado todo encolhido, debaixo da ramagem do pé de maracujá. Estava bem escondido, triste, assustado.
Galdino, arrependido, passou a mão sobre Virgulino todo carinhoso pensando - não precisa ser igual ao cangaceiro. Somos inconstantes, temos nossas fraquezas, nossos medos, mas o Senhor deu a todos os seres o modo certo e livre de se expressar. Hoje, eu que vou cantar prá você:
- Galinho, galinho meu, nunca mais corto o seu canto. Abre o bico, pois o sol já nasceu. Vem saudar o amanhecer, presente lindo que Deus nos deu.