O Galo Virgulino - Parte I
- Mas não é possível! Outra vez! E mais outra! Oh, não!!!
Galdino virou-se bruscamente na cama e puxou a colcha à altura do ouvido. Não, não adiantou.
Lá fora, o galo Virgulino encheu novamente o peito e saudou a madrugada que mal clareava.
- "Có... cória... cóó..."
Galdino disse irritado:
- Parece que ele capricha no finalzinho. Por que esse "cóó" tão prolongado? Ai, meu Deus! Todas as noites, principalmente quando é lua cheia. Para o Virgulino, 3 horas já é o amanhecer. O sol ainda não despontou e ele confunde os horários. Mas hoje não fica assim não!
Levantou-se rápido, pegou o estilingue e atirou pedras na cobertura de zinco do galinheiro, que ficava muito perto do seu quarto.
Galdino esperou. Ouviu baixinho um "có... có..."
Silêncio.
Ele voltou para a cama:
- O galo se assustou, agora sim.
De repente, num bater de asas, Virgulino soltou com mais força o seu canto:
- "Có... cória... cóó..."
Galdino pensou em um plano para "tampar bico de galo" - mas agora não.
Cobriu novamente a cabeça, dormiu e sonhou. Sonhou com o dia em que o padrinho Odorico lhe trouxe de presente uma caixa com o galinho dentro.
Ficou tão feliz... Tomou afeição imediata. Era lindo, lindo.
A plumagem avermelhada reluzia com reflexos de marrom escuro, quase preto.
Olhinhos redondos, a crista vermelha - que nem tomate maduro -, contrastava com o bico amarelado.
Ah! Nunca viu pé de galo tão forte!
Galdino lhe deu o nome de Virgulino. Iria ser arrojado que nem o cangaceiro do sertão!
Rindo muito o padrinho disse:
- Virgulino rima com Galdino!
À medida em que o tempo passava, o galo crescia e o seu canto tornava-se mais forte, mais alto, ganhando espaço no galinheiro, onde as aves se recolhiam à noite.
Como toda criança, Galdino tinha um bicho de estimação e não queria ficar sem ele. Pensou num plano para assustar o galo - se ele não cantou por causa das pedras, é porque tem medo de barulho...
(Continua)