Boludo era um cachorro muito bem tratado. Havia sido comprado por uma família rica, e tinha tudo a tempo e a hora. Mas ele era mal-humorado e vivia implicando com Rosinha, a caçula da casa. Um dia ele ficou irritado com as brincadeiras dela e tascou-lhe os dentes. Quando ele queria brincar estava tudo bem, mas quando era a vez de Rosinha e ele estava sem paciência, a brincadeira acabava em mordida. O pai de Rosinha, muito chateado, resolveu dar um castigo para Boludo. Amarrou uma correia no pescoço dele e o amarrou no fundo do quintal. Rosinha, que era uma boa menina, ficou com pena e foi conversar com Boludo. - Olha, Bo (como o chamava) você é um mal agradecido. Eu lhe dou todo carinho, você tem a ração da melhor qualidade, os brinquedos mais lindos e, no entanto, me mordeu só porque não gostou da brincadeira. Quando a gente não gosta de uma coisa ou não concorda com a opinião de outra pessoa, a gente tem que conversar. Você já imaginou se todas as pessoas que não gostassem de uma determinada coisa saíssem por aí mordendo todo mundo? Boludo ouvia tudo , mas não lhe dava atenção, olhava para o outro lado.
- Eu vou pedir ao papai pra soltar você, mas você tem que me prometer que vai se portar bem. - Ele pensou um bocado e chegou à conclusão de que não havia nascido para viver preso. Assim que Rosinha conseguiu que seu pai soltasse Boludo, ele pulou o muro e foi embora pra rua. Primeiro saiu correndo para se distanciar da casa onde morava e não ser descoberto. Depois diminuiu o passo e visitou as praças, fez xixi em diferentes árvores e correu atrás das pombas que passeavam perto do pipoqueiro. Chegou uma hora, no entanto, que a fome apertou. Ele nunca havia tido esse tipo de problema. O que vou fazer? Onde vou arranjar comida? Se eu fosse gente e tivesse um cartão de crédito não haveria problema. Entraria no Bob’s, pediria um queijo com banana e um suco, mas como sou cachorro... Pensou muito antes de se decidir a virar uma lata onde havia restos de comida e de sucos. Tudo lhe pareceu muito nojento e ele desistiu. Bom, vou aproveitar para fazer uma dieta, afinal tô gordo mesmo. Não quero mais ser chamado de Boludo.
O tempo passou.... passou.... e a fome só aper-tando. A noite chegou e ele, se sentindo fraco de fome, resolveu dormir. Mas dormir onde? Ao relento, naquele frio? E se viesse alguém lhe fazer algum mal? Ele sabia que tinha muito gente má, que até rouba dos mendigos. Vou ficar acordado a noite toda e vou dormir durante o dia, é mais seguro. Nesse meio tempo ele parou pra pensar e resolveu voltar pra casa. Chegou meio sem jeito e pediu perdão aos seus patrões. Sabem o que ele disse para se desculpar? Ele disse simplesmente: au,au,au,au,. Abanou o rabo e lambeu a mão dos seus donos. Eles entenderam que aquele au,au,au era um pedido de desculpas e o acolheram. Agora, depois de saber o que é a vida na rua, ele ficou muito mais simpático e, ao invés de morder, ele faz carinho. Rosinha lhe serviu uma boa refeição e ele foi para a sua caminha para descansar daquela aventura.