O gato de Dona Genoveva

Nos seus quase 80 anos, muito ativa de olhos brilhantes, conhecia a tudo e a todos, e sabia tudo o que se passava ao redor de mais de cinco quarteirões.

Sabia da mulher do juiz com o mecânico, do açougueiro com a mulher do pastor Luiz Inácio (mera coincidência).

Dona Genoveva uma mulher de fibra, viúva aos 26 anos, passou sua vida inteira, a cuidar de gato e passarinhos (pius pius, e frajola).

Todas as noites um hábito muito peculiar, sentava-se ao luar, e admirava as estrelas, ficava ali por horas e horas; alguns até acreditavam que ela podia conversar com elas, tal envolvimento e encantamento que despertava nos outros.

Só se recolhia em dias de chuva, mas muitos afirmavam, que a viam na janela da sala de estar, prostrada ao vidro, que molhado do lado de fora, podia-se perceber o calor de sua respiração que se formava emoldurando seu rosto.

Muita paciência é o que alguns apregoavam dessa simpática senhora.

Mas Joe uma criança muito ativa, vivia a fazer travessuras nos seus oito anos, frente a sua casa.

Ela sentava-se na varanda e via toda aquela imensa energia daquele garoto.

Um sorriso encantador, olhos sempre questionando, era ele o preferido dessa senhora, o neto, talvez um bisneto que ela não tivera.

Mas ele adorava assustar o gato de dona Genoveva.

Prendia em seu rabo, prendedores de roupa, que pegava nos quintais vizinhos, só pra vê-lo rodopiar sem parar, tentando pegar o que apertava sua calda, sem sucesso, até que de tanto girar, ficava tonto e acabava por cair, e caia também o objeto de tortura.

Apesar da má criação junto de seu protegido, ela deixava a criatividade de Joe florescer.

E se encantava com seu sorriso.

Ela vivia nele todo o glamour de uma bisa, que biologicamente não fora.

Depositava naquele menino mais que um carinho fraternal. Podia se dizer sem dúvida que ela o amava, como um bisneto de verdade.

Um belo dia próximo às festas juninas. Dona Genoveva escuta alguns estampidos, lembrou imediatamente do gato e de Joe.

Foi apressadamente até a porta da frente ver o que se passava. E quando abriu, levou um susto, o seu gato, corria desesperado para safar de mais uma traquinagem.

Joe era um menino habilidoso, e conseguira amarrar na calda do felino, uma das bombinhas que ganhara de seu tio.

Não deu outra após acender o pavio, o gato corria mais que podia, sem saber onde se esconder. Dessa vez dona Genoveva, não se conteve e chamou Joe para uma conversa.

-Joe, você não pode fazer isso com o pobre animal, dizia a velha, com toda a paciência do mundo, num tom mais severo.

-Tá bom, vou pedir desculpas pra ele.

Surpresa tal a fala do garoto, chamava o bichano que sumiu entre os cômodos e móveis.

-Viu meu jovem, quanto ele se assustou, talvez, nós nunca mais o veremos.

O menino apesar de muito esperto, entendeu de forma diferente e pôs se a chorar.

Achando que havia matado o pobre animal.

Foi difícil ela argumentar em seguida, até que os soluços, desapareceram, após um convite a uma limonada.

E do nada, passado o episódio Joe, esquecera até da suposta morte do gato.

Comendo biscoitos e tomando aquela limonada gelada e doce, a melhor que havia tomado, conversava com dona Véva, assim que ela a chamava.

Até que passado um tempo, o gato vendo a fartura sobre a mesa, deu um salto sobre a mesa.

Joe estremeceu-se todo, achando que era o fantasma do falecido gato.

-Olha você voltou, eu me enganei Joe, ele estava por ai e sentiu o cheiro dos biscoitos preferidos e veio fazer uma boquinha também.

Joe que achava que a sua travessura tinha tido um final trágico e já com os olhos brilhantes, fazia carinho no pequeno animal.

Que também esquecera do episódio, tal os pedaços de biscoitos que Joe colocava a sua frente.

Mas já arquitetando nova peça ao indefeso animal.

Roberto F Storti
Enviado por Roberto F Storti em 31/03/2007
Reeditado em 03/04/2007
Código do texto: T432336
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