O RATO E A CONCHA
Morando num campo de trigo
Um rato sem nenhum amigo
Decidiu que estava cansado
De viver no buraco escavado
Por seu pai, chefe da família.
Para a mãe, limpando a mobília,
Disse que ia conhecer o mundo
Era esse seu desejo profundo.
Filho, o mundo é tão perigoso,
Que até o rato mais cuidadoso
Pode se perder em seus labirintos.
Mãe, eu seguirei meus instintos,
E saberei do perigo me safar
Na hora em que ele se apresentar.
Com sua mochilinha nas costas
Lá se foi o rato calçando botas
Para conhecer o grande mundo.
Caminhou sem parar um segundo
Até chegar a um lugar montanhoso:
São montanhas? Perguntou curioso
A um esquilo que estava encarapitado
Numa árvore cujo tronco era circulado
Por uma trepadeira parecendo cobra.
O esquilo desceu lépido até uma dobra
Da trepadeira e disse àquele visitante:
Meu amigo de botas, meu caro viajante,
Sim, são montanhas. Vais para lá?
Quero conhecer tudo que no mundo há.
Disse adeus ao esquilo curioso e falante.
Andou, chegando maravilhado e arfante
Diante da grande cadeia de montanhas.
Pensou: No mundo não há artimanhas
Como disse minha amada mãe um dia.
Até agora só vi beleza e a diplomacia
Do esquilinho falador e muito camarada.
Subiu rápido, pois longa era a caminhada,
Para aquele rato descobrir o mundo,
Seu sonho, seu desejo mais profundo.
Caminhou por trilhas tortuosas,
Por florestas de árvores frondosas,
Viu riachos, rios, aves, bichos e flores,
Comia e dormia em lugares acolhedores
Sempre pensando em ir mais além
Para descobrir o que o mundo tem.
Um belo dia chegou diante do mar.
Parou extasiado para tudo olhar.
Tirou as botas para sentir a areia
E molhar os pés na maré cheia.
Lá se foi o rato pela orla da praia,
Encantado com o mar, mas de atalaia.
Poderia estar por ali o grande perigo
Se o visse teria que procurar abrigo.
Enquanto o rato pela orla caminhava,
A deusa do mar o Olimpo deixava
Para enfeitar a areia daquela praia
Com conchas que se enrolam na cambraia
Da espuma que as ondas formosas
Deixam ao desmaiarem majestosas
Na areia quente da praia.
O viajante chegou e quase desmaia
Ao ver tanta concha, para ele coisa estranha.
Todas estavam fechadas. Seria uma artimanha
Dos perigos que o mundo esconde? Pensou.
Olhando desconfiado ele caminhou
Ao redor das belas conchas até que viu,
Bem no lugar onde uma onda se esvaiu,
Uma grande concha branca toda aberta.
Opa! Isso é que é uma grande descoberta!
O surpreso ratinho balbuciante,
Encaminhou-se para ela saltitante.
Olhando a concha aberta em arco
Imaginou ser ela um grande barco
E que ele podia singrar o imenso mar
Para outros mundos encontrar.
Esqueceu-se o ratinho aventureiro
Do conselho sábio e verdadeiro
Da sua mãe que ficara chorosa pela sua ausência.
E se achando dono de extrema competência,
Entrou na concha sentindo-se um grande barqueiro.
Nesse momento uma onda com seu aguaceiro
Fez a concha se fechar levando-a para o mar bravio.
Lá dentro o ratinho, com medo e cheio de frio,
Descobriu ser a concha um dos grandes perigos
E que a situação em que se encontrava era castigo.
Mas a deusa do mar soprou uma forte brisa
Fazendo encrespar a água que estava lisa,
E as ondas jogaram na areia a concha com o rato.
Agora ele conhecia o mundo e o perigo de fato.
Fortes sacudidelas e gritos de: acorda menino!
Despertaram o ratinho sonhador Zeferino.
Então filho, ainda pensas em ver o mundo?
O mundo, mãe, é o seu colo onde eu me afundo.
20/04/13
(histórias que contava para o meu neto)