O vôo frustrante da pipa
Lino era muito pequeno ainda, já admirava muito as crianças de sua rua soltar pipa, queria fazer o mesmo, então pediu ao seu pai:
─ Pai compra uma pipa pra mim, compra pai!
─ Mas meu filho, não é tempo de pipas, pipas só sobem com vento e você só tem 4 anos precisa que eu o acompanhe.
Quando for época de muito vento, eu compro ok?
Mas, pai, o senhor sabe fazer de jornal, faz pai, para eu aprender.
─ Está bem, mas antes vou lhe ensinar a primeira lição: nunca, jamais poderá soltar perto de poste, fio elétrico.
─ O que é” nunca” “ jamais”?
─Lino meu filho, estas palavras significam que não pode, nem hoje nem sempre. Porque é perigoso, se a pipa enrolar no fio e qualquer pessoa tentar tirar, pode morrer eletrocutado.
Lino gaguejou ─ O que é ele-tro, ele, tro...?
─ É ser queimado na corrente elétrica nos fios do poste
─ Pai e onde eu posso soltar?
─ Quando for hora eu levo você, onde não tem poste, nem fios,só têm árvores em volta.
Seu pai fez uma pipa de jornal, Lino treinou, corria para cima e para baixo, ria sozinho quando pipa subia um pouquinho. Sonhava ter uma pipa de verdade, aprendeu com o pai molhar o dedo para ver se ventava bem. O dedo esfriou:
─ Pai, pai, tá ventando, vamos comprar a minha pipa pai.
─ Tá vamos lá, ainda bem que está ventando e o papai está de folga.
Compraram uma linda pipa, toda colorida de várias cores parecia um belo arco- íris.Lino voltou todo feliz e satisfeito, perguntou ao pai:
─ Pai a minha pipa já vem com cerol, eu escutei os meninos falar em cerol na pipa, para que serve?
─ Meu filho, cerol é muito perigoso!
─ Pai ,por que tudo é perigoso?
─ Meu filho, têm muitas brincadeiras perigosas ou não, é melhor brincar com a que não tem perigo, o cerol só serve para cortar a pipa do outro, tipo competição,ou pode cortar uma pessoas e ela morrer. É melhor, soltar livremente, deixar o vento levar, subir e você controlar, vou lhe ensinar direitinho.
Assim fez, Lino gargalhava quando a pipa fazia pirueta, achava interessante controlar no carretel a linha, dava linha, depois recuava, tudo isso num terreno no fim da rua, longe da rede elétrica. O vento era forte, de longe se ouvia duas risadas, depois um grito:
─ Pai, a árvore tomou minha pipa, olha pai lá em cima.
─ Pai, e se o sr subir na árvore ela devolve?
O pai subiu, tentou tirar a pipa enroscada na árvore, a pipa rasgou. O pai desceu e consolou o filho dizendo:
─ Deixa filho, o pai compra outra, vamos lá?!
Dora Duarte