A menina invisível

Era uma vez uma menininha que tinha um dom especial:

Ela não era vista por ninguém...

Tinha superpoderes.

De filha invisível.

De irmã invisível.

De neta invisível.

De sobrinha invisível.

De prima invisível.

Ninguém lhe dava atenção.

A não ser que aprontasse alguma.

- Angélica, tira a mão do bolo! – gritava a mãe.

- Angélica, me dá meu carrinho! – berrava o irmão.

- Angélica, devolve minha bengala! – brigava o avô.

- Angélica, não mexa nos meus cristais! – reclamava a tia.

- Angélica, não suja meu vestido! – resmungava a prima.

A menina virou uma pedrinha no sapato de todos.

Logo ela que gostava de sapatinhos de cristal.

Logo ela que queria ser uma princesa.

Logo ela que sonhava em ser uma fada.

Virou bruxa.

Virou bicho-papão.

Virou cuca.

Um dia, Angélica resolveu implicar com um velhinho.

Um simples vendedor de doces.

Angélica deu um pisão.

No seu pé.

E ele?...

Viu um docinho na sua frente.

E lhe deu um pé-de-moleque.

Angélica fez um gesto feio, lhe dando uma banana.

E ele?...

Viu um docinho na sua frente.

E lhe deu uma bananada.

Então, Angélica ficou com o coração mole, mole.

Que nem Maria-Mole.

Porque o velhinho era bom.

Que nem bombom.

- Você é um docinho! – falou o velhinho.

Parecia um sonho.

De padaria.

De fantasia.

A menina perdeu seus superpoderes.

Estava visível.

Como era possível?...

Então, logo, logo ficaram amigos.

O velhinho conhecia crianças,

Que com Angélica formaram alianças.

Glória, adorava histórias.

Marina, adorava gelatina.

Hilário, adorava dicionário.

Rosa, adorava prosa.

Daniel, adorava corcel.

Crianças que faziam festa.

Seresta.

Na casa de Angélica, fizeram uma ciranda.

Bem na varanda.

- Angélica, você é tão amorosa! – elogiou a mãe.

- Angélica, você é tão bondosa! – disse o irmão.

- Angélica, você é tão formosa! – falou a avó.

- Angélica, você é tão carinhosa! – afirmou a tia.

- Angélica, você é tão mimosa! – declarou a prima.

Angélica não aprontava mais nenhuma...

Apenas se aprontava.

Ficava bonita, uma beleza.

Mais parecia uma princesa!...

Ou doce de framboesa.

Com certeza!...

Kate Lúcia Portela
Enviado por Kate Lúcia Portela em 26/12/2012
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