O Vestido Amarelo

Era uma vez um Vestido Amarelo que sonhava com uma menina.

Podia ser a Margarida.

Ou a Violeta.

Ou a Açucena.

Ou a Azaleia.

Ou a Rosa.

Mas tinha que ser uma Menina-Flor.

Porque o Vestido Amarelo queria criar raízes na imaginação das crianças.

E formar um jardim de meninas.

De tranças.

Um dia, os pais de uma menina se encantaram com ele.

Mas não era uma Menina-Flor.

Era uma Menina-Lua.

Dessas que vivem nos céus da gente.

Lindamente.

Mas o vestido amarelo não gostou nada, nada.

Até porque Luna parecia uma bruxinha.

Travessa. Levada.

Arteira.

Serelepe. Danadinha.

Nada, nada de fadinha.

A Menina-Lua levou para casa o vestido amarelo.

Como?

Quase vermelho de raiva.

Os pais da Menina-Lua a levaram para casa.

Como?

MINGUANTE, MINGUANTE, MINGUANTE...

O Vestido Amarelo era o presente do papai e da mamãe.

Presente de mocinha.

- Mas eu preferia uma boneca! – reclamava a menina.

A Menina-Lua estava CHEIA, CHEIA,CHEIA...

Cheia de medo. Medo de ser mocinha. Mas os pais a obrigaram a vestir o vestido amarelo.

Exigiram modos.

Nada de pular corda. Nada de cabra-cega. Nada de amarelinha. Nada de ciranda cirandinha. Nada de escravos de Jó. Nada de pique-esconde. Nada de pega-pega. Nada de queimada. Nada de telefone sem fio.

Queriam uma Meninia-Lua NOVA, NOVA, NOVA...

Luna até perdeu seu brilho.

Derramou lágrimas sentidas no Vestido Amarelo.

Então, toda a raiva que ele estava sentindo passou.

Aí, o Vestido Amarelo se esqueceu, por um tempo, da Menina-Flor.

E começou a dançar, dançar e dançar.

A menina levou um baita susto.

- Quer brincar de bailarina?

Ela apreciou o convite.

- Quero!- logo respondeu a Menina-Lua.

E eles bailaram juntos. E cantaram juntos. E leram juntos.

Nos céus da imaginação e da fantasia.

Adentrando a Terra da Magia.

E brincaram de vídeo-gameiros, de chefs de cozinha, de estilistas, de cabeleireiros, de internautas, de manicures, de roqueiros, de esportistas, de festeiros...

E a Menina-Lua ficou CRESCENTE, CRESCENTE, CRESCENTE...

E o Vestido Amarelo desbotado.

Mas amado.

Mais amado.

Até que foi doado.

A outra Menina:

Florbela.

Ainda guardada na sua memória.

Mas essa já é outra história!...

Kate Lúcia Portela
Enviado por Kate Lúcia Portela em 14/12/2012
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