Por um sonho de criança!...

Sou o dono de uma fábrica de brinquedos. Sempre levei a vida muito, muito a sério. Eu não brinco em serviço.

Já demiti um funcionário que fitava as pessoas com olhos brilhantes, um que tinha o hábito de rir sozinho e outro que ficava visivelmente encantado com o sol que entrava pelas janelas da fábrica.

Eu nunca consegui ver o mundo com os olhos de uma criança. Até receber a visita de uma. Naquela manhã, o despertador tocou no horário de sempre. Quando levantei da cama, dei de cara com uma criança. Eu quase morri de susto! Ela estava com uma bandeja nas mãos.

― Preparei o seu café da manhã: torradas com patê de lua acebolada e Milkshake de chuva achocolatada!... – falou ela.

― O quê?!

― Também tem café...

Fiquei mais aliviado.

― ...com lua cheia em pó!...

Eu não estava entendendo absolutamente nada.

- Quero passar um dia com você! – falou o menino.

Deixei o rapazinho falando sozinho. Mas, quando cheguei à fábrica, o garoto estava sentado na minha cadeira.

- Você de novo?... – falei.

Eu estava me sentindo estranho.

- O que está havendo?... Acordei com vontade de comer brigadeiro de panela, cantar no banheiro, plantar margaridas, dar uma cambalhota, dançar ao luar, ouvir histórias da carochinha, dar comida aos pombos, contar estrelas no céu, jogar peteca!... – desabafei.

- Você está sendo envolvido pela MAGIA!

Não entendi patavinas.

- Eu só preciso que você passe um dia comigo. – falou o garoto.

- De jeito nenhum!

- Buá, buá, buá.

Fiquei irritado com aquele choro. Tapei os ouvidos. Mas o garoto me comoveu. Peguei um carrinho de última geração que havia em meu escritório e entreguei para ele, mas ele nem ligou para o brinquedo.

- Faz um barquinho de papel para mim?

Fiz cara de tédio.

- Por favor, por favor, por favor!

- Está bem, está bem, está bem!

Simplesmente, adorei a experiência, acabamos por fazer uma frota de barquinhos! Então, brincamos juntos! Minha mesa virou um lago. Meu abajur era o sol. Clipes viraram peixes. Lápis se transformaram em varas de pesca. O grampeador era um monstro com dentes afiados. Brincamos muito, até que me dei conta de que faltava o mocinho da nossa história.

― Não está faltando não, você é o meu herói!... ― disse a criança.

Comecei a compreender a história da MAGIA...

Então, tive a brilhante ideia de continuar a brincadeira num parque de diversões. Quando chegamos ao parquinho, logo brincamos de comer pipoca, algodão doce, maçã do amor. Então, avistei um grande carrossel.

― Agora, eu serei um príncipe e montarei em meu cavalo branco! ― falei.

Nós nos divertimos muito no carrossel, imaginando a história de meu reinado. Então, alguém me tocou no ombro.

― Você já encontrou a sua princesa?...

Nem acreditei.

― Maria?...

― José!...

A vida tinha dado muitas voltas, como aquele carrossel, mas Maria continuava sendo o meu primeiro e único amor. Lembrei-me de nossa história: eu achei que Maria gostava do João, porque ela e ele andaram juntos no trem fantasma. Sempre achei que, nesse brinquedo, o menino protege a menina, num momento de romantismo. Por isso, eu persegui o João no carrinho de batida por vingança e nunca mais me aproximei de Maria.

Acabei relatando tudo isso para a Maria, no carrossel. Ela contou que, na época, ele apenas pediu ajuda para conquistar sua irmã, com quem se casara.

Meu mundo se encheu de cores novamente!

Apresentei meu amiguinho a Maria, que o achou muito parecido comigo, e fomos dar uma volta na roda gigante. Abrimos os braços e gritamos devaneios mágicos e inventivos. Comemos cachorro quente com maionese de nebulosas e mostarda solar. Fizemos compras no mercado, para que Maria nos preparasse o jantar. Aquele menino trouxera a magia para minha vida!

Finalmente, entendi que magia é sonhar acordado, magia é abraçar um ideal, magia é afagar uma criança, magia é fazer uma viagem interior, magia é curar um coração ferido, magia é compartilhar fantasias, magia é amar e amar...

Maria preparou uma sopa de letrinhas.

Contei uma história para o menino antes que ele adormecesse...

Acordei em minha cama. E percebi que havia aprendido a sonhar...

Então, a partir daquele sonho, eu renasci de mim mesmo, eu mudei completamente!... Fabriquei boas ações no meu trabalho. Procurei a Maria e escrevi com ela a mais romântica história do Livro da Vida. Espalhei várias sementes do bem no jardim onde eu cultivava gente.

Eu simplesmente...

Cresci,

Cresci,

Cresci!...

Kate Lúcia Portela
Enviado por Kate Lúcia Portela em 21/11/2012
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