A raposinha LOLY e o coelho ZUKI (lll)


Já havia passado alguns dias após a visita do ratinho Tutuko à casa de Loly. Zuki estava triste por não ter nada para fazer, além de olhar para a mata e comer. Já estava bem mais gordinho. Resultado de pouco exercício e muita comida para disfarçar sua ansiedade.
Loly mal parava em casa. Saia de dia e todas as noites também. Somente uma chuva torrencial a impedia de se aventurar pela mata.
Naquele dia, Zuki decidiu sair de casa para melhor conhecer a mata, mesmo sem a permissão de Loly.
Antes de sair, analisou a floresta ao redor da caverna, para então tomar coragem e sair saltitando em meio às plantas, sem destino certo. Queria reencontrar seu amigo Tutuko.
A mata estava fresquinha porque chovera na noite anterior e as plantinhas estavam muito saborosas. Loly havia instruído Zuki sobre quais plantas ele podia utilizar para se alimentar.
Zuki estava distraído, comendo folhas de Trevo, quando ouviu um barulho na mata. Parecia com o barulho da espingarda do seu Fritz. Apavorado, escondeu-se atrás de uma imensa árvore e ali permaneceu, espionando a mata para descobrir o que de fato acontecia.
Um novo estampido calou os Sabiás e demais pássaros da mata. Todos animais ficaram mudos para não serem descobertos pelo agressor.
Um bom  tempo depois, a mata voltou a brilhar e os pássaros a cantar.
Zuki saiu do seu esconderijo, decidido a encontrar a casa de Tutuko. Ele morava numa antiga árvore chamada Jacarandá e era a maior delas. Cada árvore grande que Zuki encontrava , batia nela e perguntava:
- É aqui que você mora Tutuko? – E o silêncio continuava.
Já ia bater no tronco de outra árvore, quando um novo estampido calou novamente a mata. Sinal que o intruso continuava por ali . Novamente Zuki escondeu-se por detrás de um aglomerado de pedras gigantes. Ficou ali calado, esperando novo estampido, mas nada. A mata se calara.
O tempo foi passando e com ele o dia também. A mata já apresentava vestígios da noite. Grandes sombras apareciam para assombrar Zuki. Era hora de voltar para casa, sem encontrar Tutuko.
Caminhou muito e já cansado e sedento, ele parou para descansar. Sentou-se sobre uma linda pedra e observou os desenhos geométricos em cor verde e marrom nela contidos. Quando a pedra se moveu, ele levou um susto e ia ao chão, quando escutou uma voz lenta e rouca a reclamar:
- Seu coelho esperto! Estou muito velha para te carregar sob o meu casco.
Pedra falante? - Pensou o coelho. Esta mata era mesmo muito inusitada. Ficou calado por alguns instantes e a pedra passou a movimentar-se devagar.
- Epa! – Pedra que fala e anda? Isto para ele era novidade. Porque a casa de Loly não falava e nem andava?
- Coelho! Você é mesmo muito inocente. Não devia andar só pela mata. Ela está cheia de ciladas.
- Oh pedra falante! Pode me indicar o caminho certo para chegar na casa da raposinha Loly? Estou meio desnorteado depois de todos estes tiros aqui na mata.
-Como se arisca a andar só na mata se nem reconhece uma tartaruga?
Envergonhado, Zuki desceu do casco da tartaruga e falou:
- Desculpe aí dona tartaruga. Ainda não estou habituado com tantos tipos de animais que habitam esta mata.
- Está desculpado coelho Zuki. Tutuko é meu amigo e falou-me de você.
- Dona tartaruga, sabe onde mora o Tutuko?
- Sei... Mas faz dias que não o avistei mais. Pode me chamar de Esmeralda por causa da minha cor.
- Prazer dona Esmeralda. Mas poderia me indicar o caminho de volta para a casa de Loly? Ela já deve estar muito zangada... Saí de casa sem avisar.
Lentamente, Esmeralda foi caminhando pela mata e Zuki vinha logo atrás, assombrado com a coruja a piar no meio da escuridão.
Assim que avistou a casa de Loly, Zuki despediu-se de Esmeralda e depois de agradecer, ela lhe confessou:
- Estou muito cansada para retornar para minha casa. Vou passar a noite por aqui e assim que clarear, volto para o meu lar.

Já era meia noite quando Zuki finalmente entrou na casa que dividia com Loly. Estava tudo silencioso. Será que Loly saíra à sua procura? Mal fizera tal pergunta e escutou um gemido vindo de um dos cantos da caverna.
No mesmo instante, Zuki estremeceu de pavor. Tentou ver na escuridão, mas seus olhos não conseguiam ver nada além do breu da noite:
- Quem está aqui? Esta casa já tem dono.
Novo silêncio. Mas instantes depois, ele escutou um novo gemido e reconheceu a voz de Loly:
- Loly! O que te aconteceu? – e correu na direção de onde vinham os gemidos. Foi tateando no escuro até encontrar o corpo de sua amiga, tremendo de dor:
-Loly? Está machucada? O que aconteceu?
- O caçador... Tiros... Ele me acertou...
- Você está baleada? Onde?
- Na perna traseira... Ai! Dói muito...
O coelho Zuki nunca havia socorrido ninguém, além de Loly na cerca. Andou de um lado para o outro sem saber como ajudar sua amiga. Sabia que precisava salvar Loly. Lembrou então das sábias palavras de Esmeralda durante o longo caminho que haviam percorrido até a caverna.
Esmeralda confessara que era o animal mais idoso daquela floresta e por isto conhecia muitos remédios e curas através das plantas. Será que ela adormecera ao lado da caverna, como pretendia?
Zuki esqueceu o medo da escuridão e da mata e saiu saltitando até o lugar onde havia se despedido de Esmeralda há pouco tempo atrás.
- Dona Esmeralda! Ainda está acordada?
- Oh coelho Zuki, na minha idade, leva-se uma eternidade para poder adormecer. Mas porque não permaneceu em sua casa até o amanhecer?
- Loly foi baleada. Os tiros hoje à tarde acertaram minha amiga. Preciso salvá-la. Me ajude, por favor. – Implorou Zuki.
- Calma rapazinho! Na pressa não consigo raciocinar. É melhor procurar o Tutuko. Há dois minutos atrás ele passou correndo naquela direção. Até quis saber o que me leva a pernoitar neste lugar.
Zuki não sabia como encontrar Tutuko na escuridão. Estava desesperado, quando Tutuko surgiu como num passe de mágica:
- Já soube do acontecido. Procurei as ervas que dona Esmeralda me indicou. Vamos logo por estas plantas sobre a ferida de Loly.
- Como soube do ocorrido?
E Tutuko simplesmente respondeu: - Aqui na mata, as notícias correm rápido.

Quando amanheceu, Loly já estava com menos dor e agradeceu:
- Obrigado Tutuko e seu coelho fujão. Desta vez passa.
Porque atiraram em você Loly? – quis saber Zuki.
- Faz questão de saber? Gemeu Loly
- Faço sim.
- Como sabe, comida está cada vez mais rara na mata... Me aventurei por um sítio e o dono logo me descobriu. Fugi, mas fui perseguida até aqui. Um tiro no traseiro. Estou lascada.
- XI! Como vou arrumar comida para te alimentar? Aceita umas frutinhas até voltar a caçar?
- Sem outra opção, de frutas vou me alimentar. Oh vida difícil ! Acho que vou virar vegetariana.

Escrito por Cristawein

 
Cristawein
Enviado por Cristawein em 29/10/2012
Reeditado em 18/10/2022
Código do texto: T3958350
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