A fábula de Lillyan, a fada.
Há muito tempo atrás, em uma pequena fazenda habitada por uma família de humanos, constantemente, para aqueles que mantinham seus olhos bem abertos, uma fraca luz via-se passar para lá e para cá, deixando um rastro de divertimento por todos os lugares.
Naquela pequena fazenda, que abrigava também uma vaca e um cachorro de pequeno porte já em idade avançada, a pequena fada Lillyan costumava passar boa parte do seu tempo, usando a vantagem de que o casal de senhores não conseguia reparar em sua presença para que pudesse rir com o desconforto dos pobres velhinhos.
Todos os dias era a mesma coisa. Lillyan acordava, dirigia-se à fazenda e passava o dia derrubando as coisas das altas prateleiras ou atiçando o cachorro para que latisse incessantemente. Ao retornar para casa, sua mãe sempre lhe advertia de que, algum dia, ela não poderia mais rir pelo fim de suas traquinagens. Mesmo assim, a pequena fadinha sempre voltava a fazer as mesmas travessuras, ignorando completamente a lei tríplice de que tanto lhe falavam (e que ela, honestamente, pouco se importava).
E assim se passavam os dias, as semanas e os meses. Lillyan tanto se divertia, que mal percebia que, entre uma artimanha e outra, o pobre cão se tornava mais esperto e ágil. A criatura verde movia suas asinhas para lá e para cá, caindo na gargalhada toda vez que a doce velhinha se abaixava às dores para apanhar um jogo de potes, sempre se esquecendo de que o cão podia vê-la.
Certo dia Lillyan acordou mais cedo que o de costume, levantando-se de sua cama em miniatura e voando apressada para o seu casal-alvo. Mais uma vez sua mãe tentou lhe avisar "Querida, deixe os pobres em paz, os mesmos mal nenhum fizeram a você. Lembre-se da lei tríplice, filha, e tente viver a sua própria vida". E, dando de ombros para a mãe, a fadinha mais uma vez ousou atormentar os velhos.
Ao chegar na fazenda, Lillyan percebeu que algo havia mudado no cenário. O canil estava vazio, e a porta da frente entreaberta como nunca havia ficado. Mesmo assim, ela entrou, mais uma vez esquecendo-se de tomar o devido cuidado do qual sua mãe sempre a lembrava.
E então, pousando em uma pequena mesa de centro que era cercada por duas antigas cadeiras e um sofá mais velho ainda, a fadinha olhou ao redor à procura das conhecidas figuras que ela tanto adorava perturbar. Só então percebeu que havia um grande carro do lado de fora onde dois homens de jaleco conversavam.
Indo até lá, ela avistou seu "amigo" canino deitado, com uma péssima cara de solidão, enquanto os dois rapazes falavam em alto e bom som, revelando à fadinha o que de fato acontecia.
Na conversa, ela descobriu que a pobre senhora já não aguentava mais muita coisa, e qualquer esforço que fizesse poderia ser fatal para a mesma. Segundo eles, um carteiro havia visitado a casa na noite anterior para uma entrega de importância extrema - alguns remédios, segundo ele -, e encontrou a mulher na cozinha, caída ao lado de algo pequeno de plástico.
O carteiro checou se não havia mais ninguém na casa gritando pelo marido da mulher, que logo desceu cuidadosamente as escadas. Ao ver a cena, sua mulher caída sem vida alguma bem na sua frente, o senhor não aguentou de tanta tristeza e cedeu a um infarte, partindo logo depois.
Agora, o corpo dos dois era levado, e o cachorro seria doado à alguém com boa vontade suficiente para adotar um cão idoso. A fazenda, como o casal não possuía filhos com condições de manter, foi a leilão no dia seguinte à tragédia.
Para Lillyan, nada demais havia acontecido, até que, algumas semanas depois, a residência do antigo casal de velhos foi vendida para um grande homem de negócios que não hesitou em derrubar tudo que havia no lugar, expandindo rapidamente o terreno e derrubando todo o tipo de mata que ali havia para construir um novo hotel.
No meio da confusão, muitas árvores foram derrubadas, incluindo aquela em que Lillyan e sua mãe, Noryah, costumavam viver. Além de terem sido despejadas, não havia para onde ir, pois quase toda a floresta havia sido derrubada para que aquele projeto do homem fosse para frente.
Lillyan ficou sem casa, bem como sua mãe, e logo perdeu as forças devido à poluição gerada pela população que a nova atração do lugar havia chamado. Em um de seus últimos dias, e sendo obrigada a viver em um pequeno vaso de plantas no jardim do hotel, Lillyan avistou um belo cão entrando ao lado de um homem de terno pelo portão principal, e logo reconheceu seu velho "amigo".
O cachorro havia sido adotado por um dos gerentes do lugar e passaria a morar ali pelo resto de sua vida ao lado de seu novo dono. Sendo assim, todos os dias o velho cão acordava e dirigia-se ao jardim, correndo atrás de uma fraca fadinha que mal tinha forças para voar, e teve que aguentar isso até o seu último segundo de vida.
- Moral da história: Não importa como ou quando você faça, tudo exige uma reação de mesma intensidade na direção oposta à que foi lançada. Na física chamamos de ação e reação, na Wicca de lei tríplice e no espiritismo de lei do retorno. Portanto, pense muito bem antes de fazer qualquer coisa, pois tudo acaba voltando para você.