A raposinha Loly e o coelho Zuki I



A raposinha Loly sentia-se solitária na floresta e decidiu abandonar seu lar para aventurar-se pelos sítios próximos à mata. A vida na floresta andava difícil. Mesmo se embrenhando pelos cantos mais remotos da floresta, voltava muitas vezes para seu lar, cansada e faminta e sem ter o que comer.
Naquela dia ela saiu sem destino por um caminho desconhecido. Decidira abandonar a mata, para tentar a vida nos sítios ou fazendas da região. Antes de sair, calçou botas resistentes e vestiu seu casaco de pele castanho avermelhado, e lá se foi ela.
Antes do por do sol, chegou a um sítio muito bonito, com vastas plantações de milho e soja e diferentes espécies de animais. Todos pareciam saudáveis e bem alimentados.
- Bom sinal !-  pensou Loly . Ela estava muito faminta.
O galinheiro logo chamou atenção dela. Ele encontrava-se repleto de galinhas gordinhas. Elas já haviam se recolhido, e empoleiradas, aguardavam a noite chegar para dormir. Estavam bem protegidas por uma cerca de arame trançado e pelo portão trancafiado. Fato que preocupou Loly.
     Loly encontrava-se escondida atrás de uma moita, observando o movimento no galinheiro, quando um lindo coelho, de pelo negro, passou saltitante por ela. Parecia apressado. E Loly feliz, pensou: Galinha ou coelho para o meu jantar?
Observou novamente o galinheiro e concluiu que as galinhas estavam muito bem protegidas. A opção mais fácil seria seguir o coelho de pelo negro. Ele se chamava Zuki.
     Mas ele sumira, como num passe de mágica.

Procurou muito até descobrir o paradeiro de Zuki. Acabou encontrando-o no quintal, distraído, comendo cenouras em meio à plantação. Seria uma presa fácil, concluiu.
Tentou entrar no quintal, mas estava cercado com arame trançado como o  galinheiro. O portão também estava trancado.
Loly saiu à procura de uma passagem para entrar no quintal e surpreender o coelho, que continuava mastigando uma cenoura deliciosa. Logo encontrou a passagem secreta do coelho. Um buraco na cerca.
Correu e se enfiou no buraco. Só então percebeu que  era bem maior que o coelho Zuki e entalou. As pontas da cerca enrolaram-se em seu pelo e machucaram seu corpo.
Zuki espichou as orelhas compridas para descobrir de onde vinham os sons desconhecidos. Será que o dono do sítio o descobrira roubando cenouras?
Rápido como um raio, saltitou em meio às plantações de hortaliças, na direção do buraco na cerca e foi parar bem diante da raposa Loly, que parou de se debater, assim que percebeu dois olhos vermelhos muito assustados olhando para ela:
- Parece que estamos em apuros. – arriscou Loly.
Zuki ao perceber a situação caótica em que se encontravam, desabafou:
- Tem razão... Estamos enrascados e é melhor permanecermos em silêncio porque a estas horas, o Tupi já deve estar solto.
- Quem é Tupi? –  perguntou Loly assustada.

     - É nova por aqui? Então não sabe que Tupi é o cão de caça e guardião do sítio? Se me pega, estou com os dias contados. O senhor Fritz não pode descobrir que roubo suas cenouras.
     Esperta, Loly fez uma proposta: - Vamos fazer um trato... Você me ajuda a sair daqui e libero a passagem para você sair antes que o cão nos descubra aqui.
Quando Tupi latiu novamente, Zuki desabafou:
- Estamos fritos... Acho que Tupi nos descobriu.
- O que? E agora? Vai me ajudar ou não?
A situação de Zuki era tão complicada quanto o da raposinha Loly: - Estamos em apuros... A gula me traiu. Seu Fritz ordenou que todos os animais do sítio, menos Tupi, devem permanecer dentro de suas casas, das cinco da tarde até o amanhecer.
Desesperado, Zuky trabalhou rápido para livrar Loly do arame e comentou:
- Pena. Seu pelo é tão macio. Vai levar um tempo para ficar lisinho novamente.
- Faça logo o que tem para fazer. Do meu pelo cuido depois. Tupi já deve estar perto.
Zuki confessou: - O senhor Fritz é caçador e tem uma espingarda. Quando Tupi late à noite, ele sai atirando para espantar os intrusos.
-Mais essa! Porque não fiquei na floresta... Mesmo com fome, lá eu corria menos perigo.

     --Eh! Você é raposa e está faminta. Pretende me comer, assim que eu te soltar deste buraco?
- A estas alturas até perdi a fome. Quero sair desta enrascada e voltar para minha caverna na mata.
- Posso ir com você? Como te chamam por lá?
- Loly!
-- Sou o coelho Zuki. Então? Posso morar com você na floresta? Dizem que por lá os animais vivem livres e não precisam trabalhar. Deve ser muito bom morar por lá. Sem patrão. Sem horário para nada.
- Não é bem assim. Lá impera a lei da selva... Acho que não será uma boa idéia. Nossas dietas alimentares são diferentes. No desespero, posso esquecer que salvou a minha vida.
- Acabei o trabalho. É só afastar a cerca para livrar você deste buraco.
Assim que Loly conseguiu sair da passagem, Zuki também deixou o quintal antes de Tupi descobrir o seu paradeiro. O latido estava cada vez mais próximo do quintal.
Loly no desespero afirmou:
- Amigo coelho! Vamos sair logo deste sítio.



     Já havia escurecido quando juntos deixaram o sítio do senhor Fritz. Loly, com sua visão noturna privilegiada, logo encontrou o caminho para retornar à mata.
Loly e Zuki chegaram tarde da noite na caverna. Estavam cansados. O coração disparado pela perseguição sofrida por Tupi e seu Fritz. Só haviam escapado ilesos porque haviam entrado no riacho para despistar seus perseguidores.
Loly confessou: - Aqui na floresta posso até passar fome, mas sou livre. Você Zuki, que é vegetariano, não terá dificuldade para encontrar alimento. Cuidado com certos tipos de plantas. São bonitas para os olhos, mas não servem como comida. Eu, ao contrário, vou ter que batalhar muito por minha sobrevivência.
- Então porque não vira vegetariana como eu?
- Porque gosto de carne. Frutas, só numa emergência.
E ali, na escuridão da noite, fizeram um pacto: Loly e Zuki viveriam juntos na floresta, como parceiros e amigos, pelo resto de suas vidas.



Escrito por Cristawein
Cristawein
Enviado por Cristawein em 14/10/2012
Reeditado em 18/10/2022
Código do texto: T3932700
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