3. O Garnisé e a Galinha D'angola - "Um é pouco, dois é bom, três é melhor"
O sol vinha sorrindo por trás da montanha, quando o galinho garnizé acordou. Nana, a galinha d'angola, já procurava o café da manhã.
-Vamos menino! O dia chegou...
-Peraí, disse o galinho, se não me engano eu tinha que acordar primeiro, afinal sou um galo e galos cantam logo que amanhece.
- E o que é que tem, não ter acordado com o sol? Quem disse que todos os galos têm que ser iguais?
- Ah, sei lá respondeu ele, no galinheiro os galos cantavam bem cedinho...
- Nunca se perguntou por que agiam assim?Será que as coisas são porque são e pronto? Nana jogou umas pedrinhas para o lado e começou seu café. Bichinhos fresquinhos e crocantes corriam prá lá e prá cá.
- Para falar verdade, não. Nunca pensei nisso, mas pensando agora, talvez eles também nunca tenham se perguntado. De hoje em diante, canto toda vez que tiver vontade, seja de manhã, seja á tarde... foi logo batendo as asas e cantando: Cocoricóoóóó!
- É pode ser... Foi falando e tentando pegar uma minhoca que se contorcia e ia se enfiando na grama.
- Então não posso cantar quando eu quiser?
Nana engoliu a minhoca feito espagueti.
- Claro que pode!Pode cantar sempre que quiser. Alguns galos pensam que só porque somos galinhas não sabemos nos defender e nem imaginam como somos espertas e valentes. A pretexto de nos proteger, armam o maior barraco com qualquer outro que se aproxime, por isso ficam lá, madrugando, cantando alto e batendo asas que é para avisar quem está no comando de tudo. Bobagem! Bom mesmo é cantar porque se está feliz.
- Eu não quero ser assim, não...
- Então é bom começar a se perguntar qual a razão das coisas que faz ou que pretende fazer. Isso sempre nos deixa perto daquilo que queremos ser. Agora chega desse papo de cantoria de galo, que tô fraca, tô fraca... - Garnizeca riu.
Nana terminara o café. Garnizeca comeu umas minhocas e também já estava satisfeito.
- O que vamos Fazer hoje Nana? Vamos seguir a margem do rio?
- Pensei nisso quando acordei, disse Nana. Acho que está na hora de eu conhecer outras paisagens...
- Ah, duvido que você vai embora daqui.
Nana e Garnizeca se entreolharam assustados e procuraram de onde vinha aquela voz.
- Quem falou aí? Saiba que sou uma galinha muito brava!
O galinho, correu para a moita assustado e foi logo voltando, de marcha a ré, com um ratão caminhando em sua direção, rindo.
- Ora o que é isso Nana, não está me reconhecendo?Sou eu, Ranói.
- Puxa Ranói, como cresceu! A voz engrossou, a cauda esticou e que dentões! Por onde andava?
- Por aí. Sabe como é, onde tem comida fácil.. E quem é seu amigo? Perguntou o rato, medindo o galinho dos pés à cabeça.
- Garnizeca, é o Garnizeca... Morava no velho galinheiro
- Muito prazer, Garnizeca! Sou Ranói, o rato. Cutucou a D'angola e cochichou: Medrosinho não?
-Que nada Ranói. Ele é muito valente! Lembra você, quando era um ratinho pequenininho, sozinho no meio do mato...
- Vamos mudar de assunto que é melhor. Passado é passado...Só serve mesmo para lembrar de onde viemos para decidir para onde vamos. Por falar nisso, quando cheguei diziam que seguiriam a margem do rio. Para o norte ou para o Sul? Aliás, porque ir?
O garnisé ficava como se estivesse assistindo uma partida de tênis, coitado, não falava nada.
- Pois é, Ranoi...Preciso de novas experiências, ver novas paisagens, conhecer outros que vivem por aí. Esse mundo é grande e o que sei é nada, comparado ao que ainda posso aprender.
Garnizeca interferiu:
- Você é a galinha mais inteligente que conheço, Nana. Ensinou-me tanto e tem me , ensinado tanto, que não acredito que tenha tanto assim para aprender.
- É verdade! Concordou Ranói com o galinho.
- Não é bem assim, não meninos. Sempre há o que se aprender, principalmente quando convivemos com outros.Eu, por exemplo, aprendi muito com o Ranói, que desde pequeno sabia se esconder no mato sem que pudesse ser encontrado, com o Garnizeca aprendi a ter esperança...Tantas coisas aprendi com vocês e enfrentando as coisas do dia a dia, errando umas vezes, acertando outras. Não percebem que passamos o tempo todo aprendendo coisas novas?
-Tá, disse Ranói, entendemos.- Acenou positivamente com a cabeça para o Garnisé -Mas precisa ir embora?
-A idéia foi minha, Ranói. Falou o galinho. Quando eu morava no galinheiro, ficava imaginando como seria poder ver tudo por aí. Nana tem sido minha melhor amiga...Corrigindo, minha única amiga. Até você chegar, tínhamos apenas um ao outro e...
- Chega de tanta explicação, Garnizeca. Vou porque quero ir, simples. Porque não vem conosco Ranói? Podemos aprender muitas coisas juntos e ainda nos divertir, o que acha?
- Bom, pensando bem não é uma má idéia.Descer ou para o subir?
- Tanto faz. Nana respondeu.
- Descer! Gritou Ranói.
- Subir! Gritou Garnizeca.
- Quando entrarem num acordo, me avisem.
Nana sabia que para seguir viagem, Ranói e Garnizeca precisavam se entender. Deixou que um explicasse ao outro suas razões, mas deixou claro que se fossem capazes de fazer isso dialogando, chegariam a um acordo mais rápido e poderiam começar a aventura antes do anoitecer.
Um pouco depois, eles decidiram:
- Vamos descer!
- Ótimo! Vamos lá... Mas vamos devagar, apreciando tudo!
- Mas Nana, devagar assim?
Nana ia ciscando, olhando para os lados e tranquilamente disse:
- Devagar se vai longe... E depois, Tô fraca! Tô fraca! Tô fraca...