2. O Garnisé e a Galinha D'angola - "Aprendendo a ser livre"

A galinha pintadinha, sabia mesmo o que dizia. Enquanto ciscava ali perto do Rio, entre um tô fraco e outro, ia dizendo ao galinho que tinha acabado de ganhar a liberdade, tirado do galinheiro por ser muito pequeno:

-Veja bem meu jovem, ás vezes o que parece muito é quase nada e o que parece insignificante faz toda a diferença. É preciso sentir...Só o coração nos dá as reais dimensões das coisas.

O galinho andava ao redor de Nana, ouvindo, encantado com a paisagem e o jeito despreocupado de Nana.

- Reais? Oras, mas eu posso ver o tamanho das coisas!

- É, mas só pode definir o quanto são importantes se der atenção ao que causam em você. É desse tamanho que estou falando.

- Acho que entendi. - Disse o galinho cansado de andar pra lá e pra cá, subindo numa pedra de onde dava pra ver o rio indo longe.

- O rio é ainda mais bonito visto daqui, disse ele.

- Viu? É disso que estou falando...Vivo por aqui faz tempo e o rio sempre esteve aí, sem que eu percebesse o quanto ele era bonito. Sempre que te via, na cerca encantado com o rio eu olhava para ele também e sabe de uma coisa? Ele não é bonito. É lindo! Passa tranquilo, balançando o mato na margem, reflete o sol, reflete a lua e tem uma água tão limpinha e fresquinha...

- Ah, mas não era só isso que eu pensava quando ficava olhando o rio...Eu queria saber pra onde ele ia e ficava imaginando como era a paisagem por onde ele ia passando.Queria que as outras pudessem sentir o que eu sentia. Acho que elas eram muito tristes, mais do que eu até, porque tudo o que viam estava dentro do galinheiro. Sonhar olhando o rio, me levava pra longe das gozações por causa do meu tamanho.

Nana parou um instante, levantou a cabeça, olhou bem dentro dos olhinhos de Garnizeca e disse:

-Tamanho?Você é um gigante! Qualquer um pode ver. Quer dizer, qualquer um que veja com o coração.

-Ora Nana, deixe disso...Sou pequeno mesmo.Sou um galinho garnisé. E quer saber de uma coisa? Tenho orgulho disso! Tenho os olhos da minha mãe, o jeito do meu pai, todas as características da espécie. Faço parte da família dos galináceos, só não sou grande, ou pintadinho, ou...

- Tá certo, Tá certo. Interrompeu Nana antes que ele começasse a falar de cada tipo diferente de galinha. É pequeno, mas um galinho e tanto! E o que pretende fazer agora que pode ir onde quiser?

-Não sei Nana. Talvez eu siga o rio... Que hora chega a comida, Nana?

-Que hora?- Riu a D'angola -Hora que você pular daí e começar a procurar, disse depois de um "tô fraca !"

-Como? Procurar comida? - Espantou-se o Galinho. Quem a escondeu?

-Ninguém ué...Aqui fora é assim. Procuramos nossa comida, escolhemos o lugar onde vamos dormir, a hora do banho e tudo o que queremos fazer. Escolher é maravilhoso, mas tem-se que aprender.

-Você me ensina Nana? Perguntou com uma carinha de quem estava com fome.

-Claro! Vem cá.

Nana e Garnizeca passaram alguns dias procurando comida para que ele aprendesse.Ele fazia cara feia para algumas coisas, mas experimentava. Ouvia os conselhos de Nana, para não se aproximar demais do rio, ter cuidado com os predadores, o que podia ele podia comer e o que não podia. Um galinho inteligente, que logo percebeu que aprender com quem tem experiência facilita muito a vida, afinal saber o que faz bem e o que faz mal, o que é certo e o que é errado evitaria, desde uma dor de barriga até que fosse devorado por uma raposa, por exemplo.

Em pouco tempo, Garnizeca já encontrava a própria comida, mas dormia sempre perto de Nana, que a noitinha ficava com ele olhando as estrelas e lua no céu.

-O que tem lá em cima Nana, nas estrelas e na lua.Será que tem galinhas lá?

- Não sei...Nunca conheci alguém que tivesse estado lá. Pode ser que Tenha...

- É tão bonito... Olha lá! Olha lá! Uma estrela caindo do céu!

-Faça um pedido, menino! Faça um pedido!Dizem que estas são mágicas!

Garnizeca fechou os olhinhos com força e fez um pedido.

- Não conte a ninguém, disse Nana. Sinta o desejo em seu coração.

Dito isso, Nana bocejou...

Tô fraca!Tô fraca! Vamos dormir? Ajeitou-se na moita e fechou os olhos. O galinho ajeito-se também, desejou boa noite a Nana e deu uma última olhada para o céu.Os olhos fechados, guardavam um novo brilho e coração guardava um desejo.

Dormiu falando baixinho: Vai se realizar, vai se realizar..

Elicia Dock Holtz
Enviado por Elicia Dock Holtz em 07/08/2012
Reeditado em 08/08/2012
Código do texto: T3818684
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