Borboteó - A Terapeuta ocupacional

Borboteó é uma borboleta azul que resolveu ser terapeuta ocupacional. Os outros bichos da floresta não sabiam bem o que era isso, mas de uma coisa eles sabiam: Borboteó possuía um jeitinho bem especial de cuidar de cada um deles.

Para aqueles mais curiosos, Borboteó explica o que é terapia ocupacional:

– É a arte de ajudar a quem precisa através de atividades, restaurando o desempenho, facilitando o aprendizado de ofícios e a adaptação da função em cada caso.

Alguns bichos achavam que Borboteó era uma psicóloga, pois ela ouvia pacientemente suas lamúrias. Acontece que Borboteó não fica apenas ouvindo. Ela leva os bichinhos que falam de suas dificuldades a realizarem alguma atividade, sozinhos ou em grupo, fazendo com que eles consigam descobrir como resolver o problema e ter uma vida melhor.

Outros achavam que Borboteó era uma fisioterapeuta, pois muitos bichinhos a procuravam com as patinhas machucadas, sem conseguirem fazer quase nada e Borboteó dava um jeito de melhorá-las. Acontece que Borboteó cuida das patinhas que os bichinhos usam como mãos, dos ombros até as mãos, dando exercícios para restaurar os movimentos dessas patinhas, fazendo com que os bichinhos tenham uma vida normal.




Ainda que os bichos não saibam exatamente o que é Terapia Ocupacional, Borboteó não liga muito. O que ela quer é ajudá-los a melhorar a qualidade de vida.

Borboteó estuda o comportamento dos bichinhos em todo lugar: em casa, na escola, no trabalho, no lazer. Ela inventa jogos, brincadeiras e atividades bem legais, para bichos de todos os tamanhos - desde a pulguinha até o elefante – e de todas as idades – desde a pequena larva até a velha e sábia tartaruga.

– Para ter qualidade de vida não importa o tamanho nem a idade! – diz Borboteó toda empolgada.

Por mais dificuldade que algum bichinho tenha, Borboteó sempre procura um jeito de ajudá-lo a viver tão bem como os outros bichos, fazendo adaptações para que ele desempenhe suas funções e atividades diárias da melhor forma possível.

Quando o bichinho procura a ajuda de Borboteó, ela primeiro avalia a situação dele para perceber como pode ajudá-lo a melhorar as habilidades importantes para ele.

No tratamento, em cada caso, Borboteó leva o seu paciente a reaprender a fazer o que fazia antes da dificuldade. Se o bichinho já nasceu com a dificuldade, Borboteó ajuda-o a lidar com ela, superando-a e vivendo da maneira mais independente possível.



Certo dia, uma raposa procurou Borboteó. Mas não era uma raposa qualquer, igual a cem mil outras raposas. Era a raposa amiga do Pequeno Príncipe que viera visitá-la, cativou-a e deixou-a, dizendo que ia conhecer outros mundinhos.

– Sinto-me tão só, Borboteó! – disse a raposa em prantos, pois quem se deixou cativar sempre corre o risco de chorar – prosseguindo entre soluços:

– Depois que o Pequeno Príncipe se foi, nunca mais fui a mesma. Eu corria pelos campos, alegre e matreira no dia em que os caçadores descansavam de caçar e saíam para dançar. Ia ao galinheiro à noite pegar alguns ovos e pregar susto nas galinhas. Agora nada disso tem graça. Tudo me faz lembrar o principezinho e não me aguento de saudade. A vontade que tenho é de ficar paradinha, sem fazer nada!

Borboteó ouviu atentamente o problema da raposa, avaliou a situação e perguntou-lhe:

– Você se lembra de coisas boas que lhe aconteceram depois que o príncipe se foi?

A raposa pensou por alguns instantes e respondeu:

– Vejo algumas coisas na mata com outros olhos! Os trigais, por exemplo, nunca me chamaram a atenção. Agora, sempre que os vejo lembro-me dos cachos dourados do principezinho e que brincamos de esconde-esconde ali.

Enquanto a raposa falava, Borboteó lembrou-se da toupeira, que não enxergava direito e precisava de ajuda para andar pela mata. Como ninguém se dispunha a ajudá-la, a toupeira se escondia em túneis intermináveis. Lembrou-se também da hiena, que não achava graça nenhuma que os bichos não a levassem a sério só porque ela vivia sorrindo sem parar. Então Borboteó teve uma ideia:

– Vamos aos trigais! – disse toda animada à raposa.

No caminho, passaram na toca da toupeira e a convidaram para ir com elas aos trigais. A toupeira ficou muito contente, pois há dias cavava sem parar e precisava de um pouco de ar fresco. Em seguida, as três se encontraram com a hiena rindo à toa. Borboteó chamou-a para fazer uma coisa séria lá nos trigais. A hiena topou toda prosa, sentindo-se importante porque Borboteó estava levando-a a sério para ajudar.

Ao chegar nos trigais, Borboteó sugeriu:

– Vamos brincar de esconde-esconde! A raposa, que já tem experiência de brincar aqui nos trigais vai ali naquela árvore contar até 50, enquanto nós nos esconderemos no meio dos trigais! A hiena pode ajudar a toupeira a encontrar um bom local para se esconder sem tropeçar em nada! Só não vale cavar túnel para se esconder!



A raposa gostou daquela brincadeira. Percebeu que havia bichos que podiam ser seus amigos, que bastava olhar ao redor, chegar perto, puxar conversa, que muitos bichos topariam cativá-la e serem cativados por ela.

A toupeira admirou a disposição da hiena em orientá-la sem deixá-la tropeçar. Percebeu que, apesar de rir o tempo todo, a hiena não é assim tão jocosa e espalhafatosa, e que, mesmo em meio a tantas gargalhadas, ela é muito prestativa e atenciosa.

A hiena risonha ficou feliz por se sentir útil e por ter sido levada a sério por Borboteó, pela raposa e pela toupeira. Percebeu que pode ser importante fazendo coisas simples, como orientar a toupeira durante a brincadeira de esconde-esconde. Só teve um probleminha: como a hiena não conseguia parar de rir, foi a primeira a ser encontrada pela raposa.

Borboteó ficou satisfeita ao ver o entrosamento da raposa com a toupeira e a hiena. Sugeriu a elas que se encontrassem mais vezes para brincar, conversar e contar casos. Claro que elas gostaram da ideia e, depois que combinaram o próximo encontro, foram para suas casas se sentindo mais realizadas naquele dia. Borboteó pousou em uma flor para tomar néctar, com a sensação de dever cumprido.





Outro dia, a macaquinha procurou Borboteó. Com as mãozinhas encolhidas e, fazendo carinha de dor, lamentou-se:

– Borboteó, não aguento mais! De tanto pular de galho em galho, fiquei com as mãos doloridas e não posso mais passear pelas árvores!

Borboteó pediu que a macaquinha lhe estendesse as mãozinhas e mexesse os dedos. Com muito esforço, a macaquinha fez o que Borboteó pedia.

Depois de observar os movimentos das mãos da macaquinha, Borboteó avaliou a situação e recomendou:

– Parece que suas mãozinhas estão com os ligamentos inflamados por causa de movimentos repetitivos. Procure a doutora Cobrinha para receitar-lhe uns remedinhos. Volte aqui quando suas mãozinhas estiverem menos inchadas para fazermos uns exercícios. Enquanto isso, nada de pular de galho em galho! Ande em terra firme e, ao subir nas árvores, peça a algum dos seus irmãos maiores para levarem você.

A macaquinha seguiu as recomendações: tomou remédios receitados pela doutora Cobrinha para dor e para desinflamar as mãos e voltou ao consultório de Borboteó, que a ensinou exercícios para fortalecer as mãos.

Hoje, a macaquinha pula de galho em galho, mas sempre fazendo alongamentos antes e depois, como aprendeu com Borboteó.

Um caso interessante que veio parar nas mãos de Borboteó foi o do elefante:
– Borboteó, – ele disse – sempre admirei a natureza, os pássaros voando em bando, o nascente e o poente! Tenho um grande desejo de pintar algumas telas para retratar tanta beleza. Mas, como você vê, tenho as patas muito grossas e os dedos muito juntos. Não consigo segurar os pincéis!

Borboteó observou as patas do elefante. Claro que ela já conhecia patas de elefantes. Afinal, ela é a maior conhecedora de patas de toda a mata. Sabia que o elefante não conseguiria mesmo segurar os pincéis com suas patas. Pensou um pouco, avaliou a situação do elefante e o quanto ele se sentiria realizado e melhoraria sua qualidade de vida com a função de pintor. Então disse a ele:

– Vamos fazer alguns exercícios com a sua tromba para que você aprenda a usá-la como uma pinça, capacitando-o a pegar os pincéis! Depois, basta usar a sua criatividade e a sensibilidade artística para pintar as suas telas!

O elefante fez os exercícios que Borboteó lhe ensinou e passou a criar telas incríveis, tornando-se um pintor reconhecido em toda a mata! Pintou até cenas que nem existem mais na mata, mas que ele tem guardadas em sua grande memória!






O tamanduá também precisou dos serviços da Borboteó. Chegou a ela todo choroso e com cara de fome:

– Borboteó, estou faminto! Estava caçando algumas formigas para me alimentar arrancando cascas de algumas árvores. Senti o cheiro delas num tronco diferente e usei minhas garras afiadas para arrancar a casca dele. Só que não era um tronco. Era um poste que o bicho-homem colocou no limite da mata. Como resultado, quebrei as minhas longas unhas e agora não consigo tirar as cascas das árvores para me alimentar de formigas.

Borboteó olhou detalhadamente as patas do tamanduá, que estavam apenas com os tocos das unhas. Avaliando a situação do tamanduá, ela lhe disse:

– Vou lhe fazer uma órtese, que é um aparelho provisório para corrigir sua deformidade. Vou pegar alguns pedaços de bambu, afiar suas pontas e amarrá-los firme em suas mãos com cipós. Assim você poderá arrancar as cascas das árvores e se alimentar de formigas. Apenas tome bastante cuidado caso encontre outro poste pela frente. Ah! Mais uma coisa: coma somente formigas suficientes para saciar sua fome. A mata e outros predadores precisam de formigas também!

O tamanduá foi embora agradecendo a Borboteó por ter resolvido seu problema!




A vida de Borboteó é assim: todos os bichinhos que chegam a ela com algum problema, ela dá um jeito de auxiliar, minimizando as suas dificuldades e ajudando-os a terem uma vida mais adequada ao ambiente em que vivem.

Borboteó ajuda os bichos da mata também a selecionarem e praticarem atividades significativas para eles, valorizando a identidade de cada um, levando-os a aprender através da ocupação.

Entretanto, os bichinhos com dificuldade precisam querer ser ajudados, fazendo os exercícios propostos e seguindo as orientações e recomendações de Borboteó, para que possam se adaptar à realidade em que vivem e superar com êxito os problemas. De nada adianta Borboteó ter ideias fantásticas e originais, mas os bichinhos não fazerem nada para mudarem suas próprias situações.

Para isso, Borboteó procura motivar os bichos da mata a se relacionarem cada vez mais uns com os outros, ajudando-se mutuamente a superarem suas deficiências. Ela recomenda que um não faça para o outro o que ele dá conta de fazer, e incentiva todos a serem independentes, apesar das limitações que porventura tenham.

– O mais importante – diz Borboteó – é cada um exercer da melhor forma possivel a função para que foi criado!