A festa da dona Jurubeba
Ao chegar da casa da tia Alaúde, não havia outra coisa que quisesse a não ser matar a saudade dos meus grandes amigos. Afinal foram as mais longas férias de inverno que se passaram longe de casa. Mal podia chegar em casa e por as bagagens no chão, queria sair correndo de pressa para poder brincar e rever todo mundo.Desde meus amigos : Robert o coelho e Nana a pata desengonçada, só ela sabia ser tão engraçada e ao mesmo tempo animada, como também queria rever o pobre coitado do seu Adolfo, que não suportava ser chamado pelo simples nome, antes disso se sentia mais estimado se o chamasse nobremente de Senhor Adolfo, ele com seu andar vagaroso, típico de uma tartaruga, era motivo de chacota do meu amigo Robert, que no final sempre se dava mal, quando ele lhe dava suas grandes lições de sabedoria. A Dona Jurubeba era a mais camarada, uma Joaninha muito cuidadosa e habilidosa, cheia de cuidados conosco todos os dias. No nosso bosque os dias passavam voando porque as mínimas coisas se tornavam divertidas e por isso nunca sentia o tempo passar.
Robert, Nana e eu éramos o trio parada dura, dona jurubeba dizia: - lá vem eles e com eles suas traquinagens, o que estão aprontando? E como sempre respondíamos, em coro bem alto: _ Nada! Dona Jurubeba. Nós brincávamos muito, quando mamãe chamava para entrar já tinha se passado horas e nem tínhamos percebido. Mas eu tive que ir pra casa da minha tia Alaúde, fazia muito tempo que mamãe não a via, e sabe como é : “conversa vai conversa vem” e passasse o mês e a férias vão embora e agora de volta estava ansiosa pra saber das novidades e tirar todo o atrazo das nossas brincadeiras.
- Mamãe! Mamãe! Me deixa ir, por favor!
- Fifi, acabamos de chegar da casa da sua tia, eu nem dês fiz as malas.
- Mas mamãe, eu já arrumei tudinho, me deixa ir vai, eu quero ver meus amigos.
- Ai! Que ursinha teimosa! Ta bom! Pode ir, mas não venha tarde, ouviu?
- Sim, ouvi, pode deixar. Um beijo mãezinha.
Ufa! Que legal, minha mãe me deixou ir brincar. Ai que saudade, mal posso esperar pra rever meus amigos, eles vão ficar surpresos quando me virem, eles não sabiam que eu ia chegar neste fim de semana.
- Olá! Senhor Adolfo, tudo bem?
- Menina! Quanto tempo? Você sumiu hein !
- É mesmo eu dei uma sumidinha sim, fui visitar a minha tia Alaúde.
_ Eu percebi algo diferente, este bosque estava muito tranqüilo.
- Risos... Não é pra tanto seu Adolfo.
- Seu Adolfo não! SENHOR ADOLFO!
- Sim senhor Adolfo, mil desculpas.
- Tudo bem, não tem problema, uma desculpa só basta, risos. - Senhor Adolfo muito bom rever o senhor, mas tenho que ir ....
- Ué! Já vai?
- É eu estou com um pouquinho de pressa porque tenho ainda que ver os meus amigos Robert e Nana, eles não sabem que cheguei.
- AAAH! Você está indo procurar aquele coelho levado, eu o vi indo lá pra margem do rio, na certa ele estava indo fazer alguma traquinagem.
- Obrigado por me avisar eu vou procurá-lo então. Tchau!
No meio do caminho, antes de chegar à margem do rio, vi o meu amigo Robert, vindo em minha direção. Ah! Que saudade! Sai correndo para abraçá-lo queria contar todas as minhas novidades e saber como havia sido aquelas férias sem mim. Só que algo estranho aconteceu, meu amigo estava diferente, não parecia o mesmo coelho de 1 mês atrás. Será que esse tempo que passei longe fez ele se esquecer de mim? Não senti nele o mesmo entusiasmo a me ver, ao contrário, parecia ainda mais apressado, do que o de costume, e mal me deu atenção.
- Oi Robert! Quanto tempo! Que saudade amigão!Como foram essas férias sem mim? Aprontou muito com a Nana?
- Sim! É claro!Você acha que eu não ia aprontar? Tinha que me divertir, mas sentimos sua falta, mas agora eu tenho que ir Fifi, desculpe, mas estou com um pouco de pressa...
-Aonde você vai?
- Eu vou à casa da dona Jurubeba... Depois falo com você.
- Mas Robert! Espere! Nós nem conversamos...
Mal terminei de falar e o Robert já havia ido embora, não entendi o porquê de tanta pressa, tudo bem que ele sempre foi um coelho muito do apressado, mas quando estávamos juntos, perdíamos a hora. Robert sempre gostou de conversar e brincar comigo, era para ele querer ficar mas tempo e não sair com tanta pressa, afinal era 1 mês que não nos víamos. O que ele poderia fazer que fosse mais importante do que estar comigo?
Fiquei muito chateada com isso, será que toda vez que se afastamos das pessoas que gostamos, com o tempo elas nos esquecem? Poxa! Então o Robert me esqueceu muito rápido... Mas não tem problema ele pode não ligar pra mim, mas eu ainda tenho a minha amiga Nana, eu duvido que ela não vá ficar feliz em me ver.
Fui logo à busca da minha amiga Nana, eu já não agüentava mais tanta ansiedade, eu queria ter com quem conversar. Com o Robert eu não podia falar, “Ele tinha outras coisas, mas importantes do que eu”, só me restava a Nana e nela eu podia sempre contar, isso eu tinha certeza.
Próximo à casa da Nana havia um grande alvoroço, isso geralmente não acontecia. O que poderia estar havendo? Logo perguntei a dona Raposina, que estava próxima ao alvoroço, pra saber se ela sabia de alguma coisa. Dona Raposina era uma raposa muito curiosa, com certeza se ela estava próxima à confusão, saberia todos os detalhes do que estava acontecendo.
- Bom dia, Dona Raposina!
- Bom dia, Fifi! Faz um bom tempo que não a vejo!
-Pois é! Eu estava viajando. Mas a senhora sabe o que está acontecendo?
- Ah... Eu não sei direito não Fifi, você sabe que eu sou muito discreta, eu só vim olhar porque estranhei a barulheira, mas não sei o que ta acontecendo não!Pergunta a sua amiga Nana, ela ta ali na frente.
- Ta bom! Obrigado dona Raposina.
Muito estranho, a Dona Raposina, sempre foi nossa Repórter do bosque, o que ninguém sabe ela sempre sabe, esquisito ela estar desinformada, mas fazer o quê? O importante é que minha amiga ta ali e eu enfim vou poder matar a saudade e certamente se ela souber o que está havendo irá me dizer.
- Nana!Minha patinha favorita!
- Oi Fifi! Que saudade amiga! Você demorou!
- É minha mãe foi ficando... Foi ficando... Quando vi já tinha ficado as minhas férias todas na casa da tia Alaúde. E como você está? Alguma novidade, nesse período que passei fora?
- Eu estou bem, mas novidade não tem muita não, agente só sentiu muito a sua falta.
- Agente quem??Só você né! O Robert nem se importou muito quando me viu, mal me deu atenção, estava com pressa!
- Não fique zangada Fifi, ele sentiu sua falta também....
- Deixa isso pra lá, me diz uma coisa que alvoroço é esse que estava tendo próxima a sua casa?
- Ah... É por causa da festa da dona jurubeba, o pessoal veio me perguntar...
- Festa! Legal! Eu quero ir, agora eu não sabia que era aniversário da dona Jurubeba. Você que está organizando?
- Não! Não! O Robert que está de frente na organização da festa...
- Poxa! Ele quando me viu disse que tava com pressa, que ia na dona Jurubeba e nem se quer lembrou de me chamar pra ir na festa....
- Não esquenta com isso Fifi, ele deve ter esquecido. Olha eu vou ter que ir, tenho que ajeitar as coisas pra mamãe se não ela vai brigar comigo. Tchau Fifi! Depois agente se fala.
- Mas espera Nana! Você nem....
Mas uma vez me deixaram falando sozinha, nem consegui terminar de falar e Nana havia entrado dentro de casa. Me arrependi completamente de ter saído da minha casa com tanta pressa pra ver esses meus “amigos”. Nenhum deles demonstrou sentir a minha falta, que amigos são esses que a amiga fica fora há 1 mês e eles nem dão importância quando ela chega? Eu não sei quem é pior o Robert que saiu com pressa e nem se quer me falou da festa ou a Nana que me falou da festa, mas também não me convidou!
Eu não podia estar, mas triste, nunca pensei que meus amigos poderiam me deixar de lado, pelo menos eu não teria coragem de fazer isso com eles, mesmo que eles ficassem anos longe de mim. Tentei não chorar, mas é muito difícil quando agente se sente esquecida, estava voltando pra minha casa, mas não queria que mamãe me visse assim, ela me viu sair tão feliz, isso iria a entristecer, porque ela sabe o quanto eu gostava do Robert e da Nana. Mas a partir de hoje, não vou ligar para eles, se não me dão valor eu também não irei dar valor a eles.
Quando estava me aproximando de casa, mas uma vez me encontrei com o senhor Adolfo, ele logo percebeu que eu estava triste, tentei até disfarçar, mas para o sábio senhor Adolfo, não tinha como fingir.
- O que houve menina? Porque está triste Fifi?
- Nada senhor Adolfo, estou bem.
- Eu a conheço Fifi, sempre passa sorrindo, ou brincando, hoje cedo mesmo eu a vi, mas alegre, agora está com o rostinho desanimado, triste. Você esteve chorando?
- Não, não seu Adolfo, quer dizer senhor Adolfo...
- Tudo bem menina, agora não estou preocupado em que você me chame de seu Adolfo ou Senhor Adolfo, estou preocupado em saber o motivo de estar com esses olhinhos vermelhos e esse rostinho tão cabisbaixo.
- Não tem como esconder nada do senhor né?Se eu não disser o que está havendo o senhor também não vai parar de me perguntar não é?
- Você me conhece Fifi! Diga o que está havendo, quem sabe eu não posso a ajudar?
- O problema seu Adolfo é que eu fiquei 1 mês de férias na casa da minha tia e agora quando voltei meus amigos nem me deram atenção, eu senti tanta falta deles, mal cheguei em casa já pedi a mamãe pra poder ir vê-los e eles nem se importaram ao me ver, foram estranhos comigo. Eu pensei ter amigos, mas agora eu vejo que estava enganada, nunca tive amigos de verdade, mas também não importa, eu não vou perder nada com isso, pelo menos agora percebi que eles não merecem a minha amizade, e se eles não me dão valor eu também não darei valor a eles.
- Fifi, deixa eu te ensinar uma coisa, a amizade é cultivada através de um sentimento tão bonito que se chama amor, e o amor não têm interesses, nem reservas, não importa se muitas vezes mereçamos ou não ser amado por alguém, pois a todo o momento nós podemos errar e entristecer quem nos ama. Mas é nesse momento que escolhemos continuar amando e cultivando aquilo que para nós é valioso e certamente colheremos o fruto de tudo o que plantarmos e se plantarmos amor nos corações até de quem não mereça, colheremos o amor também, em algum momento em nossas vidas. Não dê Fifi para o outro aquilo que você não gostaria de receber, se foi ruim para você se sentir desprezada, como irá dar aos outros o mesmo sentimento que entristeceu tanto a você, de o seu melhor, mesmo que não mereçam assim estará fazendo o bem para a sua própria vida, pois tudo tem seu retorno. E lembre se de uma coisa, nem sempre as coisas são como aparentam ser, não julgue pelo que vê os nossos olhos podem nos enganar, talvez seus amigos tenham seus motivos para terem agido dessa forma, será Fifi que essa atitude deles errada, é maior do que as muitas vezes que eles acertaram com você?Pense nisso e enxugue essas lágrimas! Um rostinho tão bonito não foi feito para estar chorando!
- Obrigado Senhor Adolfo, eu estava tão zangada, que me deixei levar pelo sentimento de raiva e esqueci o amor e de como os meus amigos sempre foram bons para mim. Eu vou fazer como o senhor disse, mesmo que eles tenham errado comigo, depois eu vou falar com eles, agora eu vou pra casa, mas uma vez obrigado.
- De nada minha filha, só não se esqueça nunca do que te ensinei hoje.
- Pode deixar, não vou esquecer, só espero ser um dia tão sábia quanto o senhor!
- Será Fifi! Será! Com o tempo a vida irá lhe ensinar a ser cada vez mais sábia.
Depois de falar com o sábio senhor Adolfo, fui de pressa para casa, já tinha passado um bom tempo fora, mamãe deveria estar furiosa, porque ela pediu para eu não vir tarde.
- Fifi! Isso são horas!
- Desculpe mamãe! Perdi a hora, a senhora sabe que eu ia rever os meus amigos, e conversa vai, conversa vem e quando vê a hora vai embora. É tanta coisa para por em dia...
- Ta bom! Eu sei como é! Mas deu pra matar um pouco a saudade?
- É mamãe deu um pouquinho...
- Mas tarde você vai poder matar um pouco mais a saudade, vai ter uma festa na Dona Jurubeba e ela me disse que convidou todos do bosque, então seus amiguinhos devem estar lá.
- Mas mãe! Quem veio te avisar da festa?
- A própria jurubeba, querida. Ela veio aqui em casa logo depois que você saiu para ir ver seus amiguinhos.
- E que horas vai começar a festa?
- Ela disse que depois das 18 horas. Então trate de se adiantar, arrume as suas bagunças, para nós não sairmos tardes de casa.
- Tudo bem, já vou mamãe.
Estava inquieta, não via o momento de chegar a hora da festa, agora teria a oportunidade de conversar melhor com Robert e Nana, queria por fim o quanto antes na insatisfação que estava sentindo desde cedo.
Enfim mamãe terminou de se aprontar, já não agüentava mais tanto esperar, tudo bem que a mamãe parecia, mas pertencer à família das lesmas do que a dos ursos, quando procurava se arrumar, só que desta vez a demora parecia ainda maior, devido a minha enorme ansiedade. Graças a Deus, saímos de casa, agora sim eu ia para a famosa festa da dona Jurubeba, e enfim falaria com meus amigos.
Mas algo surpreendente aconteceu, ao chegar à festa da dona Jurubeba, não sabia o que dizer, não sei se era maior a surpresa ou a alegria, porém com certeza aquilo eu nunca esqueceria. Meus olhos encheram de lágrimas, junto com um enorme sorriso, mal sabia descrever meus sentimentos, estava muito emocionada.
Quando entrei pela porta ouvi um coro de vozes que exclamavam bem alto: - Parabéns Fifi! Seja bem vinda! Na realidade a festa era para mim, todos estavam comemorando a minha chegada, nunca pensei que fossem sentir tanto a minha falta, naquele momento eu percebi o quanto tinha amigos. Em seguida a dona Jurubeba se aproximou e me deu um forte abraço e disse:
- Menina difícil hein? Difícil esconder algo de você!
- Foi a senhora que organizou tudo!
- Em partes minha querida a idéia partiu do seu amigo Robert, eu e Nana cuidamos de ajudá-lo no resto.
- Então foi por isso que eles não me deram atenção, eu os julguei tão mal. Eles só não queriam estragar a surpresa.
- Não fique assim querida, eles são seus melhores amigos, é comum você ficar chateada, já que eles a ignoraram, depois de 1 mês que não a viam. Agora não perca mas tempo e fale logo com eles!
- Mas onde eles estão? Desde que eu cheguei não os vi!
- Ah! Minha querida, que cabeça a minha, esqueci! O Robert e a Nana estão lá na cozinha adiantando os salgados por isso que eles não vieram falar com você! Eu pedi a eles que adiantassem os salgados enquanto eu falava contigo, eles devem estar irados porque eu disse que não demoraria...
Mal dona Jurubeba terminou de falar e logo os dois apareceram atrás dela. Quando eu os vi dei um salto para abraçá-los, coitada da dona Jurubeba, a alegria nossa foi tanta, que quase fazemos pastel de joaninha.
- Ei! Seus loucos! Sei que a saudade é grande, mas não precisam me esmagar! E a propósito quem ficou olhando os salgadinhos?
- Shiiii! Exclamaram Robert e Nana!
Depois daquela Exclamação, juntamente com a cara de espanto dos dois, dona Jurubeba, saiu correndo e gritando “Meus pastéeeis!” Pobre pastéis, ficaram todos queimados!
Mas por fim tudo terminara bem, eu e meus amigos havíamos nos entendidos e a lição do Senhor Adolfo, tão sábia e tão certa, me fez apreender a não julgar pelo que se vê, e a amar mesmo quando não se fazem por merecer. E com o olhar, do senhor Adolfo, no meio da festa, percebi que por hora tinha aprendido muito mais que uma simples lição.