O Menino Birrento
Jorge Linhaça
 
Joãozinho era um menino que adorava fazer birra. Bastava ser contrariado e lá estava ele se jogando no chão como se fosse  fim do mundo.
Se ia com os pais ao supermercado era sempre uma tormenta:
-Mãe eu quero salgadinho
-Pai eu quero esse brinquedo
 
Eu quero! Eu quero!Eu quero...era a frase predileta de Joãozinho.
 
As pessoas passavam e pensavam:
Que menino mais sem educação...pobres dos pais dele.
Não adiantava bater, colocar de castigo , ensinar calmamente...Joãozinho não tomava jeito.
Na escola era um terror.Se cismava em não fazer a lição não havia santo que desse jeito.
 
Pobre de sua professora que tinha de ter uma paciência de Jó.
 
Alguns diziam que Joãozinho era muito mimado, mas a verdade é que, para evitar constrangimentos maiores, seus pais muitas vezes se viam compelidos a ceder às vontades de Joãozinho.
 
O menino era tão pirracento que se houvesse um concurso de pirraças ele seria excluído como "hour concour" pois ganharia fácil todas as vezes.
 
Um dia Joãozinho conheceu um amiguinho chamado Zéquinha, que por essas coisas da vida, era exatamente o oposto dele.
 
 Acabaram se tornando grandes amigos e Joãozinho aos poucos foi percebendo que Zéquinha era diferente, nunca o via fazer pirraça, nunca o via reclamar de não ter coisas novas, pelo contrário, Zéquinha era feliz de um modo diferente:
Era grato pelo que tinha e sabia que as coisas que seus pais lhe davam vinham com dificuldade, por isso não vivia pedindo nada além do que seus pais podiam lhe dar.
 
Joãozinho achava aquilo muito estranho, como é que alguém podia não quer sempre doces, brinquedos novos, roupas bonitas e ainda assim ser feliz?
 
Ser feliz?
 Sim, Zéquinha era feliz!
Raramente demonstrava algum descontentamento, procurava dar-se bem com todos, inclusive com o Joãozinho que praticamente não tinha amigos.
 
Qual seria então o segredo de Zéquinha? O que o fazia ser assim alegre e bem disposto?
 
Joãozinho passou a observar seu novo e quase único amigo, qual um detetive passou a tentar saber mais sobre o comportamento do Zéca.
Aquilo realmente o inquietava e resolveu experimentar imitá-lo em algumas coisas, quase sem perceber Joãozinho foi-se tornando menos pirracento, já não vivia emburrado quando alguma coisa não dava certo...começou a tratar melhor seus colegas e a professora,
 
Um dia quase matou seus pais de susto quando foi com eles ao supermercado e não fez a sua lista costumeira de exigências.
 
Os pais compraram algumas coisas de que ele gostava pois todos os pais tem o desejo de agradar a seus filhos.
 
Joãozinho pela primeira vez sentia-se satisfeito de um jeito diferente, sentia a real importância que tinha para os seus pais e percebeu que não necessitava exigir deles as coisas e nem fazer pirraça. Que seus pais sabiam do que ele gostava e lhe davam com alegria dentro de suas condições.
 
Foi então que Joãozinho descobriu o segredo de Zéquinha, descobriu que mais importante do que conseguir as coisas forçado é recebe-las de bom grado.
 
Joãozinho não se tornou um santo da noite para o dia, mas o exemplo de seu amiguinho havia lhe mostrado que mais importante do que ter as coisas é ser e saber-se querido.
E foi assim Joãozinho foi melhorando e deixou de ser o rei da birra.
 
Salvador, 2 de março de 2012