O RELÂMPAGO, O TROVÃO E A CHUVA
Sobre as ondas do mar caminhava um ser dourado. Da cabeça até o pescoço era peixe, dos ombros para baixo ele se assemelhava a um homem cheio de escamas que brilhavam como pequenas placas de ouro.
Caminhou até a praia. Parou e recolheu areia com a mão, deixando-a escorrer por entre os dedos. Até parecia que era a primeira vez que tinha contato com a terra. Quem era o ser? Era Anfibi, o senhor das águas e nas horas vagas guardião do planeta Terra.
Anfibi caminhou olhando tudo com muita atenção. Tudo estava em silêncio. Deus ainda não havia criado o homem, então só bichos e plantas viviam no planeta. O ser dourado continuou andando. O sol, escaldante, deixava a terra ressequida e as plantas murchas de sede. Bichos encalorados e sedentos deitavam-se à sombra das árvores que aos poucos perdiam as folhas. Anfibi percebeu que estava faltando algo. Sim! Algo que caísse do céu para refrescar a terra, dar de beber aos animais e às plantas. Olhou para o alto e, na sua linguagem de peixe esquisito, pediu:
- Grande Espírito das estrelas, quem te chama é o guardião da Terra. Alguma coisa está faltando porque a tua criação está desfalecendo de calor e de sede. Este teu servo não tem como resolver o problema.
Logo em seguida um forte barulho. O céu azul se abriu e uma voz poderosa se ouviu:
- Anfibi, meu filho, eu vejo que zelas pela minha criação. Sossega teu coração porque enviarei três irmãos para a terra. Eles são: o relâmpago, o trovão e a chuva. Tu cuidarás para que eles se comportem e não destruam nada.
- Como posso saber o momento da chegada deles, senhor, se estarei no fundo do mar cumprindo a minha missão? – perguntou Anfibi.
- O primeiro irmão, o relâmpago, rasgará o céu num raio luminoso clareando o mar e a terra, o segundo, o trovão, dará um grito forte com sua voz de milhões de dragões que chegará aos teus ouvidos. Tu emergirás do mar para receber o terceiro membro da família, a irmã chuva. Ela será gerada no teu reino por meio da evaporação, um sistema inventado por mim, e cuidarás para que seja distribuída por todo o planeta. As tuas marés influenciarão este sistema e o sol cuidará da evaporação.
E o Senhor terminou a conversa fechando a janela do céu. Anfibi ficou pensativo. Será que daria conta do recado? Voltou para o mar, pois já não agüentava o calor. Desceu ao fundo onde ficava o seu castelo para meditar sobre a nova função que Deus havia lhe dado.
Alguns dias depois, enquanto Anfibi nadava vistoriando o seu reino aquático, ele viu um clarão na água e a seguir um imenso estrondo. Subiu à tona para ver. O céu, que estava sempre azul, estava cinza-chumbo. Pela primeira vez ele viu o relâmpago e em seguida ouviu o trovão. Tudo era novo para o ser dourado. Ficou maravilhado olhando para cima. Foi neste momento que sentiu um pingo na sua cabeça de peixe e, em seguida veio a chuva torrencial. Aí ele entendeu que aquela água caindo do céu era igual a do seu mar. Provou um pouco. Não tinha sal. Entendeu que o processo de evaporação retira o sal o que torna a água boa para beber. E a criatura cumpriu a ordem do Senhor cuidando para que tudo fosse distribuído por igual sem causar prejuízo à natureza.
Depois de passada a chuva o planeta estava verdinho. Tudo equilibrado. Aves e animais cantavam e saltavam felizes. Comida não faltaria nunca mais, muito menos água para beber. Mas um dia Deus resolveu criar o homem e...
- E daí, vovó? – interrompeu o netinho.
- Daí é que o mundo está do jeito que está. Florestas postas abaixo para satisfazer a ganância de alguns, seca em vários paises, enchentes, incêndios em reservas de matas, rios poluídos, o clima descontrolado e a atmosfera poluída.... – respondeu a vovó.
- Até a casa do Anfibi o homem poluiu, né vovó!
- É, meu filho, até a casa dele... e se Deus não se cuidar verá a poluição chegar às portas do seu paraíso, ela já furou a camada de ozônio...
- Já pra cama, menino! Ordenou a vovó terminando a história.
17/01/07.
(histórias que contava para o meu neto)