Saci Pererê/ Yaci Yaterê
Jorge Linhaça
 
Nossa lenda do Saci
nasceu nas Sete Missões
Lá no sul em seus rincões
Como um esperto curumim
 
Tinha uma perna só
e um rabo de animal
traquinava ele sem dó
na floresta ou arraial
 
Sua fama foi subindo
atravessando os estados
outra forma assumindo
sendo assim sincretizado
 
Yaci mudou de cor
e ganhou também um pito
O escravo em sua dor
apossou-se desse mito
 
Dizem que perdeu a perna
ao lutar a capoeira
A lenda fez-se eterna
pela terra brasileira
 
Trás-os-montes deu-lhe o gorro
encarnado ou vermelho
do Trasgo, outro tesouro
do folclore estrangeiro
 
Mas nem só de trevassuras
vive o amigo Pererê
As ervas e suas curas
conhece como o que
 
Ajuda a quem lhe pede
sua orientação
Mas na mata ele persegue
quem não pede permissão
 
No bambu nasce o saci
sete anos a gestar
E quando enfim sai dali
é difícil de apanhar
 
Setenta e sete anos vive
A fazer suas travessuras
enquanto vive assim livre
apronta sempre das suas
 
Prum saci aprisionar
e mantê-lo em seu poder
é preciso ir rezar
e um rosário benzer
 
Também serve uma peneira
que prenda um redemoinho
onde essa figura arteira
vive bem escondidinho
 
É preciso uma garrafa
pro saci manter cativo
sem o gorro não escapa
e fica sempre contigo
 
Quando do saci a vida
vai chegando ao seu final
diz a lenda que ele vira
logo um orelha -de-pau
 
E assim findo a história
do curumim ou negrinho
antes que minha memória
vá sumindo de mansinho
 
* O saci ganhou um dia nacional, o trinta e um de outubro
 como forma de resistência do folclore brasileiro
à invasão do dia das bruxas oriundo de outras terras.
 
Salvador, 4 de fevereiro de 2012