O NEGRINHO DO PASTOREIO
Jorge Linhaça
 
Nos tempos da escravidão
Lá pras bandas do Rio Grande
onde os campos são verdes
e a invernada se expande
 
Vivia um certo estancieiro
sinhô de muitos escravos
conhecido por ser grosseiro
e por seus maus tratos
 
Vivia também um negrinho
de uns doze anos ou menos
escravo também coitadinho
junto com outros pequenos
 
Um dia o Sinhô lhe chamou
e mandou pastorear
Uns cavalos que comprou
foi o neguinho trabalhar
 
Mas ao voltar em meio à tarde
deu falta de um baio o patrão
e castigou com alarde
num rito de humilhação
 
Foi o neguinho à procura
do baio perdido no pasto
com uma corda na cintura
para jogar-lhe o laço
 
Logrou o menino encontrar
o baio logo em seguida
mas quando o conseguiu laçar
a corda acabou partida
 
O Sinhô enfurecido
mandou o negrinho açoitar
e me cima de um formigueiro
fez ele a noite passar
 
E no dia seguinte cedinho
foi lá ver o resultado
do seu ato tão mesquinho
e o que viu o deixou assustado
 
O negrinho estava em pé
em cima do formigueiro
Por causa de sua fé
estava curado por inteiro
 
Ao lado do negrinho
estava Nossa senhora
escravo beijou-lhe a santa mão
montou o baio e foi-se embora
 
nenhuma palavra disse
ao assustado fazendeiro
e foi assim que surgiu
o Negrinho do pastoreio.