ZÈ BENTO E A LENDA DOS DIAMANTES -*
As folhas ainda estavam molhadas de sereno e o sol começava a despontar no horizonte. Seria mais um dia como qualquer outro se não fosse por um chamado desesperador.
— Zé bento, Zé bento, Zé bentooo.
Ele estava sentado na soleira de sua porta apreciando o ar do alvorecer e o campo sendo banhado pelos primeiros raios de sol, enquanto lia seus e-mails no seu computador portátil sossegadamente, até a hora que viu o Chico viola correndo em sua direção gritando:
— Tem um elefante no meu quintal!
— É! E o que ele esta fazendo?
— Só está se balançando de um lado pro outro e me olhando sério.
— Assim que acabar de ler vou resolver isso.
— Esta lendo o que?
— Como surgiram os diamantes.
— Você descobriu os diamantes?
— É claro!Foi com...
E antes que Zé bento começasse a contar Chico viola saiu em disparada gritando pelo vilarejo:
— Diamantes, viva, diamantes, viva, venham aqui, viva, vivaaa diamantes, Zé bento descobriu os diamantes. Venham todos, diamantes.
E todo mundo da vila se perguntava:
— Onde será a mina?
E Chico viola:
— Eu não sei, mas Zé bento descobriu é o que importa!
E para garimpalos juntaram uma quantidade enorme de ferramentas. E Chico viola:
— Vamos gente anda rápido!
E saíram carregando o que cada um dava conta. Queriam os diamantes, e enquanto caminhavam falavam de seus sonhos e o primeiro a puxar a conversa foi Chico viola, que alem de ferramentas trazia consigo sua inseparável amiga a viola e falou:
— Quando eu for rico vou comprar um barco e darei uma volta no mundo. Singrarei pelos sete mares tocando baladas românticas.
— Eu quero ser astronauta, nem que seja uma única vez vou ver tudo lá de cima. Falou Pedrinho,
— E eu vou mandar fazer um balão, para ser levado pelos ventos aos quatro cantos do mundo, falou Ditinho.
— Primeiro é encontrá-los e depois vamos ver. Falou Pedrosa
E deram um grito de alegria, diamantes, dançavam e cantavam, e depois se puseram a ir atrás de seu sonho. Diamante essa palavra não saia de suas cabeças, tinham pressa, mas mesmo assim a alegria os contagiava estrada afora, brincavam de tão felizes.
Era uma pequena vila, ao lado de uma reserva florestal, alguns moradores trabalhavam para mantê-la e protegê-la, eram guardas florestais, fiscais, ecologistas ou simplesmente moradores.
Ao caminharem pela estrada, iam rente a uma cerca que delimitava a reserva, enquanto andavam observavam que vários animais estavam perto dela em silêncio, lá estavam a onça, o lobo, o urso, o tatu, e o tamanduá entre outros e pousada na cerca estava a coruja encarando o grupo, o que arrancou um comentário do Manoelzinho.
— Nossa! Acho que até eles estão querendo os nossos diamantes.
— Mas não vão saber o que fazer com eles, falou Pedrinho.
— E isso, é com agente! Gritaram todos.
E continuaram caminhando alegres pela estrada afora. A onça vendo o grupo barulhento sumir de vista vira para o lobo e pergunta:
— Cadê o elefante? Perguntou a onça.
— A ultima vez que o vi estava reclamando. Respondeu o lobo.
— É mesmo! Não sei de que reclamava tanto. Falou o urso.
— A sua lagoa esta secando e me disse que isso não ia ficar assim, rompeu a cerca e foi para vila logo cedo. Falou o tamanduá.
— Tomara que não aconteça nada com ele. Falou o tatu.
— Grande daquele jeito, eles é que se cuidem. Falou o urso.
Mas mesmo assim um ar de preocupação ficou estampado em suas caras, e resolveram saber noticias do amigão, o elefante, e foram em silêncio ate o limite da floresta com a vila para tentar ouvir alguma noticia dele ou até mesmo vê-lo. Zé bento que ainda estava entretido com sua leitura, fitava o horizonte pensativo. Seu computador o colocava em contato com o mundo, pela internete, e isso ele adorava, conhecer pessoas pelo mundo afora e suas historias, e foi uma delas vinda por e-mail de um amigo do Mato Grosso que absorvia tanto sua atenção, até a hora que avistou a turma vindo em sua direção, e comandando o grupo, Chico viola, que assim que chegou perto foi lhe perguntando, enquanto os outros se acomodavam ao seu redor:
— Aonde é a mina?
— Estamos prontos e com pressa de começar a ver os diamantes, falou Pedrinho.
Chico bento olha para o grupo e pergunta:
— Que mina é essa?
— Que você descobriu! Falou Ditinho.
ZÉ bento bate as mãos nos joelhos, impaciente e olha para o Chico viola espantado e fala:
— Você ouviu a metade da estória, entendeu como bem quis e ainda sai contando por ai, você devia ter aguardado para saber do que eu estava falando ou pelo menos à estória inteira.
Na mesma hora todos perceberam que não havia nenhum diamante, era um engano e fitam o chão balançando as cabeças, desanimados. Chico bento olha pausadamente um a um e sente a tristeza no ar. E fala olhando para todos.
— Foi por causa de uma guerra e depois é que vieram os diamantes.
— Guerra! Falaram em coro.
— É isso mesmo! Se quiserem eu vou contar para vocês.
E todos um a um foram se acomodando junto a ele para saber da guerra. Ele coloca cuidadosamente seu computador numa mesa próxima. E fala:
— Há muito tempo atrás viviam nas bandas do Mato Grosso duas tribos indígenas, eles eram fortes, ativos e exímios caçadores e guerreiros, mas estavam em guerra.
Neste momento os animais que estavam escondidos na mata ficaram apreensivos quando ouviram falar dos caçadores e a onça vira para o lobo e fala:
— Ainda bem que foi há muito tempo atrás.
— Fiquem quietos se não agente não escuta nada. Falou o urso.
E voltaram a ouvir Zé bento.
— E numa das aldeias existia uma linda índia que não se conformava com a guerra, pois sabia que haveria muita tristeza, e numa manhã ouviu um murmurinho era seu pai, chefe da tribo, convocando seu marido para a guerra. Ela implorou, suplicou em prantos, mas seu pai antes de qualquer coisa era um grande chefe e precisava da ajuda de todos para defender a aldeia, pois a outra tribo era conhecida por suas atrocidades, e quando ela menos esperava, seu marido Itagibá estava pronto para partir para a guerra e só restou para Potira acompanhá-lo até a beira do rio e velo partir em sua canoa ate sumir de vista. Alguns dias se passaram e teve a triste noticia de sua morte em combate.
Todos estavam em silêncio até que Pedrosa Perguntou:
— E os diamantes?
— Antes de ela morrer, Tupã o Deus e protetor da floresta para alegrar um pouco seu coração, e quem sabe? Fazê-la parar de chorar, transformou todas as suas lágrimas derramadas na beira do rio, em diamantes.
— Pelo menos ela ficou rica. Falou Ditinho.
— Nem isso a alegrou chorou ate morrer.
— E os diamantes? Queria saber ditinho.
— Você já os tem. Esta na alegria de viver e no amor ao próximo. Esse sim tem um valor inestimável, e no mais eu sinto muito, mas se Chico viola tivesse me escutado não teria havido essa confusão.
Chico viola bate a mão na cabeça e diz:
— Só agora é que me lembrei que tem um elefante no meu quintal!
— É claro, para onde você acha que iria depois que você desviou o curso da nascente do rio que abastece a lagoa? Falou Pedrosa.
— Então é por isso que todos eles estão olhando para cá. Falou Zé bento.
E na mesma hora, todos pegaram suas ferramentas e partiram para a nascente. Precisavam salvar a lagoa. E quando o elefante ouviu o barulho da água correndo novamente pelo leito seco do rio, voltou á floresta e ao chegar perto de seus amigos o urso:
— Como era lá?
— Muito apertado, eles não sabem como é bom viver livre. Estavam atrás de umas pedras que não valem nada, não servem nem para me coçar.
— Mas que idéia! Dar valor nisso, falou o urso.
E foram direto para a lagoa brincando com a possibilidade do elefante ter que se coçar em uma pedra tão pequena.