A MOEDINHA QUE QUERIA SER FELIZ

Era uma vez – conto infantil que se preze, precisa começar com era uma vez -, a muito tempo atrás – essa idéia de tempo passado também é obrigatória -, uma moedinha triste. O nome dela era Lidinha. Lidinha era triste porque ficava passando de mão em mão, desde que nasceu, isto é, foi fabricada. Ela nasceu e foi presa. Deixaram Lidinha muito tempo, assim que nasceu, num lugar chamado Casa da Moeda, que Lidinha sabia que era uma prisão para as moedas; principalmente moedinhas novas, recém nascidas. Quando Lidinha saiu para o mundo, ficou loucamente passando de mão em mão, numa rotina sem parar. Já houve vezes em que ela voltou para o mesmo dono. Lidinha viajou o mundo inteiro, conheceu países e lugares; foi a restaurantes caros, serviu de gorjeta – que chic -. “–Salut, Ça va?: Oi, como você está?”, “- Bonsoir: Boa tarde.” Mas o tempo de glória passou e Lidinha ia valendo cada vez menos.l Outras prisões surgiram. Chamavam essas prisões de “Porquinho”. Eram locais pequenos, abafados, mas tinha uma vantagem, outras moedinhas estavam ali também. Algumas mereciam estar presas, serviram para comprar coisas feias, mas Lidinha não tinha feito nada. Um dia o Porquinho foi chacoalhado terrivelmente de um lado para o outro, Lidinha pensou que era um terremoto, na única janela e porta, que ficava em cima, Lidinha viu uma faca entrar ameaçadora, ao encontro das prisioneiras. Todas as moedinhas gritaram desesperadas. Algumas colegas foram libertadas e nunca mais Lidinha as viu. Ainda sentia saudades. Um dia foi a sua vez. Mas já não estava importando muito, ela perdia as esperanças de dias melhores. Dias de cinema e pipoca acabaram para ela. E assim a vida ia levando, na tristeza a pequena moedinha, agora velhinha e sem valor. Um dia ela caiu do bolso e foi atropelada várias vezes, por caminhões e carros gigantes. Lidinha ficou ali, jogada no asfalto durante dias, na chuva, no sol, ao relento. Cachorros pisaram nela, a chuva a arrastou para um buraco no asfalto e fim... Acabou para Lidinha, era o fundo do pocinho.

O tempo passou e um dia um menino muito bonito com o rostinho cor-de-rosa pegou Lidinha do lugar onde estava, a mãe falou: Joga fora isso, menino!, Ai ele falou algo que Lidinha nunca ouvira antes: “Ela é minha e vou ficar com ela!” O menininho a limpava todo dia. De vez em quando ele estava com preguiça de lavar Lidinha na pia do banheiro, então ele dava uma boa lambida de cada lado e a enxugava na beirada da camiseta. Que felicidade! O pequeno menininho de três anos a guardou durante anos, até que ele passou para seus filhos. Um dia, os bisnetos daquele menininho de rosto cor-de-rosa, a venderam por muito preço ao museu. Agora Lidinha fica exposta no Museu para todos a olharem. E eles a olham atém com lupa, comentam como ela é bonita e velha, o que agora é bom. Lidinha era a moedinha mais feliz do mundo.

P S, assim que acabar de contar essa estórinha de uma moedinha para seu filho e a chame de Lidinha.

pslarios
Enviado por pslarios em 18/01/2012
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