O galo Careca (09/09/05)

O galo Careca, de madrugada,

Ficava cantando desafinado,

Encima do galho da goiabada,

E batia as asas desengonçado.

Diziam que ele era de marmelada.

Subia o puleiro sempre empinado,

Mas sua dona estava zangada.

Dizia que ele iria ser assado.

- Coitado dele! -dizia a galinha.

O porco rolava de gargalhada

E o gato voltava lá da cozinha

Dizendo que a faca foi amolada.

O galo dizia não ser culpado,

Ele gostaria de ser cantor.

Ele não queria ser cozinhado

E ficava emplorando "Por favor!"

- Esconda-me seu pato, por favor!

E o pato respondia: - Não senhor!

- Ajude-me seu pato a escapar.

E o pato respondia: - Nem pensar!

- Então senhor carneiro, posso entrar?

- No meu aprisco não dá pra ficar.

- Senhor carneiro o que eu vou fazer?

- Procure outro sítio pra viver.

- Será que o cavalo vai me ajudar...?

- Acho difícil isso acontecer

Ele será o primeiro a mostrar

O lugar onde tu vais te esconder.

O galo estava mesmo encrencado.

Já não dormia de tão preocupado

E decidiu, p'ra acabar com o espanto,

Que, finalmente, ia ter aula de canto.

Macucos, canários e o sabiá

Tentaram ensinar o galo cantar

Papa-capim, curió e piu-piu

Cada um tentou, mas não conseguiu.

Até que um dia o galo encontrou

O papagaio que então lhe ensinou

Como cantar e afinar o gó-gó

P'ra melhorar o seu cocoricó.

O galo voltou para o seu puleiro

Jurou que não iria mais cantar,

Mas antes de voltar de vez, primeiro

Com todos, teve de se desculpar.

O galo queria fazer surpresa

Mas tinha muito ainda que esperar.

Ele sabia que ia ser dureza

Era só esperar o sol raiar.

E o galo cantou no sol nascente

Ergueu-se do galho da goiabeira

surpreendeu a toda gente e....

Saiu a cantar sem êra-nem-beira.

Luis Carlos Wolfgang
Enviado por Luis Carlos Wolfgang em 10/01/2007
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