OUVINDO GRILOS
- Filha, que fazes aí sentada na escada da varanda a esta hora da noite? Não estás cansada depois da aula de música?
- Estou ouvindo os grilos, mamãe! – respondeu a menina de sete anos à pergunta da mãe.
- Não vejo graça na cantoria dos grilos. – disse a mãe.
- É que você, mamãe, ouve com os ouvidos de fora. Eu não. Eu fecho os olhos e deixo o canto penetrar nas minhas orelhas, escorregar pelos meus tímpanos e cair na minha alma preparada para receber esta orquestra de seres pequeninos. Posso até identificar em qual das notas musicais cada um deles cricrila.
- Lili, tu és sonhadora...! Escuta, escuta, agora tem um coral de sapos. – disse a mãe rindo.
- Nada disso. Vê como você não usa os ouvidos da alma! O canto é das rãs lá do ranário do vovô Dudu. – disse Lili de olhos fechados apurando os ouvidos de sua alma pura de criança.
06/01/07.
(histórias que contava para o meu neto)