TCHEZITO E PINTADA
TCHÊZITO e PINTADA
Era uma vez um gurizito chamado Tchêzito. Piá remelento, que mal acordava e corria para a sua égua Pintada.
Dona Dalva, prenda formosa e mãe do guri, corria feito o vento para fazer o moleque magricela comer alguma coisa no café da manhã.
- Tchêzito!! Volta aqui guri! Come um pouco de aipim frito com salame que preparei pra ti.
O guri mateiro no lombo de sua égua Pintada nem ouvia a mãe que gritava ao longe.
Pintada já estava acostumada. Quando o guri chegava ela sabia que era hora de correr. Galopa, galopa, galopa e nada do guri descansar ou beber um pouco de água.
Tchêzito não percebia o cansaço da potranca, pois estava extasiado com o Minuano que gelava o seu rosto e o sol que aquecia as suas costas. No lombo de Pintada o sol ardia e ela arfava.
Eis que a égua de repente, sem nenhum comando do guri, diminuiu a marcha e parou. Tchêzito ficou zangado, derrubou os butiás do bolso e desceu da égua aos brados:
- Mas que barbaridade é esta Pintada? Onde já se viu parar deste jeito?
Ele olhou para a égua assustada e percebeu que a boca dela espumava. Ela estava com muita sede. O piá lembrou que pegou a Pintada de supetão de manhã e nem reparou se ela terminava a refeição.
Agora que se viu nesta situação, lembrou que também estava com fome. Esqueceu-se de comer e lembrou o delicioso cheirinho de aipim frito que sentiu ao acordar. No correrio, nem água colocou no cantil para matar a sede de Pintada. Agora estava a quilômetros de casa e precisava voltar caminhando para não cansar mais a sua égua.
Durante a longa caminhada, cantava uma canção que ouvira outro dia em uma festa de Invernada:
- Quando a aurora precursora
Do farol da liberdade...
O guri e a égua ao som do pequeno hino Farroupilha voltavam para o seu rancho. Ao chegarem saciaram-se de água e comida até dar um baita cansaço.
A mãe do piá chegou-se a ele e perguntou:
- O que houve meu filho? O Minuano te derrubou?
O guri logo destramelou:
- Bah mãe!! Eu estava peleando no campo com a Pintada e ela desandou a babar. Então vi que a eguinha estava com sede e tive que voltar.
A mãe aproveitou o desabafo de Tchêzito para ensinar:
- Já te falei guri, que o animal é feito gente. Precisa de trato e atenção. Pintada faz o que tu manda por fidelidade e dedicação, mas ela não aguenta o teu correrio, sem um pingo de preocupação. Não levou água nem lanche – poderia ter matado a eguinha.
Tchêzito ficou envaretado, pois não esperava tamanho pito. Viu que o seu jeito de lidar com Pintada não era bonito. Não queria perder a sua Pintada.
Daquele dia em diante, Tchêzito mudou a sua “arrancada”. Ao levantar cuidava de sua higiene e tomava café feito gente. Após o seu trato caminhava até o estábulo e cuidava de Pintada. Desde água e comida, até uma boa escovada no pelo da cabeça aos cambitos. Só depois disso montava e saía a galope com a égua satisfeita.
Com o passar dos dias, Pintada ficava cada vez mais bonita e bem tratada. O guri que era magro e leve feito o vento ganhou uns quilinhos a contento. Os dois faziam bonita figura galopando pelos prados e inspiravam qualquer viajante que passava pela estrada.
O lugar onde o guri gostava de cavalgar ficou conhecido como o “Campo da Pintada”. Mal sabia o guri e a eguinha que a sua amizade, neste campo, ficou conhecida e eternizada.
FIM