O Cavalo Amarelo
O Cavalo Amarelo
(Uma fábula onírica)
Num dia azul
De céu belo
Encontrei
Passeando no campo
Um cavalinho amarelo.
Lembro-me bem,
Um domingo,
Que cavalinho lindo...
Garboso e saltitante...
Se não fosse amarelo...
Tinha o porte de um alazão
Era lindo o cavalinho!
Parei,
Prestei atenção,
O sol brilhava em seu pêlo,
Todo,
Todinho amarelo.
Parecia feito de ouro,
Que cavalinho belo!
E o cavalinho dourado
Deixou-me extasiado.
De repente ele parou,
Olhou para mim
Me viu...
E bem devagar,
Devagarzinho,
Veio se aproximando,
Chegou bem pertinho.
Parou,
Olhou-me bem,
De acima a baixo,
Relinchou
E falou...
Disse bem no meu ouvido:
- Oi! Como vai baixinho?
(Gozador o cavalinho).
E com ar irreverente,
Olhou bem pra minha cara,
Como quem espera resposta.
Olhei, então, bem pra ele,
Olhando olho no olho,
E respondi no ato,
Bem malcriado...
- Baixinho é a vovozinha!
Ta legal?
Só porque eu sou pequenininho?
Não precisa me gozar...
Ele relinchou saltitante,
Querendo fazer amizade,
E disse-me:
Calma, baixinho!
Não precisa se zangar...
- Baixinho é a...
- Tá bem... Tá legal, baixi...
Desculpe!
Só queria ser gentil!
Eu só queria agradar...
- Eu tenho nome, sabia? -
Respondi zangado.
Então fizemos as pazes
E ele me perguntou
Se eu não queria montar nele.
- Montar em você?
Assim? Em pêlo?
Sem rédeas para me segurar?
Você tá é doido!
Vou cair e me esborrachar...
- Deixa de ser medroso...
Você não confia em mim?
Segura bem na minha crina,
Não tem perigo nenhum...
E aí? Cadê a coragem?
Aquele cavalo maluco,
Doido de hospício...
Cavalo sem dono.
Além de falar,
Ainda por cima... Amarelo!
Já viu cavalo amarelo?
E eu nem sabia direito
Quem ele era.
Agora, vontade de montar nele,
Isso eu tinha,
E como tinha...
Ah! Que vontade...
Mas e o medo?
Cadê que eu tinha coragem...
- Como é que é, baixinho?
- Oh! Olha lá, hein?
- Tá bom... Tá bom...
Desculpe outra vez
Foi sem querer...
Mas, e aí? Vai ou não vai?
- Tô pensando...
(e o medo?)
- Vai pensar o dia todo?
Vai ficar pensando um mês?
Aí contei até dez...
Respirei bem fundo
E pensei com os meus botões:
- Seja o que Deus quiser...
Mostrei então a coragem,
Sim...
"Porque eu sou corajoso!"
Pulei na sua garupa e
Montei nele com vontade,
Segurando em sua crina
Com toda a força que eu tinha.
E fomos nós vida afora...
Cavalgamos,
Trotamos,
Galopamos...
Eta cavalinho bom!
E quando eu me dei conta,
Nós estávamos voando...
Voando em pleno céu.
Lindo céu!
Aquele lindo céu azul...
Limpinho, limpinho...
Sem uma nuvem,
Nem uma nuvenzinha...
Que beleza!
Que maravilha!
Só uma coisa eu não entendia:
- Como é que nós estávamos voando
Se o cavalinho não tinha asas?
Ah! Deixa pra lá...
Isso não tinha a menor importância.
Ter asas ou não ter asas,
O problema não era meu...
O importante, isso sim, era estar ali voando.
Voando além do horizonte...
Voando com asa ou sem asa,
Voando em pleno céu,
Parecia até um sonho...
E o pior
É que era mesmo...
Era um sonho
Lindo sonho!
Tão lindo que até doeu
Quando minha mãe me acordou...
- Menino, não vai pra escola?
Você vai perder a hora!
Já era segunda-feira
E era dia de aula,
E além da aula
Tinha prova de matemática.
Acordei, abri os olhos...
E sentei na cama.
E vi. Juro que eu vi
O cavalinho amarelo...
Piscou o olho pra mim e falou:
- Tchau, baixinho,
A gente se vê por aí...