BRINCADEIRA DE MENINA
Brincadeira de menina
Luquinha, no auge dos seus seis anos, vinha pela rua com sua bola de futebol debaixo do braço. Adiante, encontrou com outras crianças, de sua idade, brincando.
Aninha quando viu a aproximação do coleguinha, convidou:
- Lucas, quer brincar de escolinha?
Luquinha repudiou o convite e esbravejou:
- Escolinha é brinquedo de menina. Menino joga futebol.
Aninha levantou-se, girou envolta do menino e observou-o dos pés à cabeça e falou:
- Futebol? Disso também sei brincar e ainda continuo sendo menina.
- Sabe nada, disse o menino, certamente você não sabe nem o que é bola.
Aninha posicionou-se bem na frente de Lucas e o desafiou:
- Solte a bola e veremos, se é que você tem coragem!
Lucas tremeu nos pés, mas não teve opção. Jogou a bola no chão e disse com voz firme:
- Então venha.
Aninha não vacilou. Roubou a bola dos pés do menino, afastou-se e fez um sinal com a mão pedindo para que Lucas roubasse a bola, agora, de seus pés.
Lucas correu, mas com uma ginga, Aninha saiu do lado e o pequeno jogador atravessou o vento. Voltou-se e contra-atacou. E outra vez foi em vão. E outra, e outra, e mais uma, e outra, até que o menino se cansou. Por vários minutos não viu nem a cor da bola.
Virou uma estátua e mostrou um beiço de dar pena.
Aninha aproveitou o momento e falou:
- Venha roubar a bola de mim, venha!
Lucas cruzou os braços e falou:
- Não quero mais brincar de bola. Quero brincar de escolinha.
DO LIVRO MENINS E MENINOS, EDITORA TOPÁZIO, ARARAS, SP, 2006
SÉRGIO PRADO