A ESCOLINHA DA ROÇA

Ana Rita, filha de Nicanor e Maria Luiza, com apenas 11 anos já ajudava a mãe nas tarefas da casa e o pai nas duras lidas da roça, com calinhos nas mãos, apesar de ser tão frágil pela sua idade.

Era a mais velha dos 04 irmãos, Luizinho, Carlinhos, Denise, Yolanda, a caçulinha muito paparicada, que ela ainda ajudava a mãe a cuidar.

Caprichosa nos estudos, frequentava a Escolinha do Bairro junto com os irmãos Luizinho e Carlinhos, já com idade escolar e tinha a professora Tia Cidinha, muito meiga, carinhosa com seus alunininhos, por serem pobrezinhos e viverem em condições de extremas dificuldades, não tendo nem lápis e borrachas para escreverem e os cadernos e livros ela mesmo trazia da cidade grande onde morava, comprando com seus próprios recursos.

Ana Rita tinha pela professorinha uma verdadeira admiração, achando-a muito linda, elegante, com cabelos loiros e bem penteados, as unhas pintadas de esmalte vermelho, batom nos lábios de forma discreta, mas realçando suas formas, brincos com pingentes que caiam graciosos no rosto bonito e seus olhos tinham a cor azul, que davam um realce bonito na pele clara. Suas sandálias, suas bolsas, seus brincos e o seu perfume que aspirava profundamente quando ela passava perto para observar os cadernos de seus alunos, isso encantava Ana Rita que um dia sonhava em ser como ela, uma professorinha de Escola da Roça, para ensinar os alunos pobrezinhos e também os adultos, em sua grande parte analfabetos.

Com esses sonhos, dizia para sua mãe Maria Luiza que queria aprender tudo, ser aplicada nos estudos e um dia se pudesse, ter uma Escolinha só sua para ajudar na recuperação escolar de seus coleguinhas, que tinham dificuldades de aprendizagem e também ajudar a tia Cidinha nas tarefas das aulas diárias, pois via que era difícil atender todos os alunos, alguns mais adiantados, outros ainda iniciando as aulas de alfabetização e ela gostaria de colaborar.

Sua mãe Maria Luiza, apesar de ser da roça, foi alfabetizada e fazia questão de acompanhar as tarefas de seus filhos já em idade escolar e ainda ajudava os menores a fazerem seus desenhinhos, pintarem figuras para que fossem já tomando gosto pelos estudos e com isso, seus filhos eram muito mais adiantados das demais crianças que viviam naquela comunidade rural, Arraial do Meio.

Falou com a professora Cidinha dos desejos de Ana Rita, que já percebia pelas atitudes e seus gestos e se comprometeu a ajudar, dando liberdade para que ela já bem adiantada nos estudos, colaborasse com os coleguinhas.

Com o tempo, viu quanto era preciosa a ajuda da pequena aluna, muito inteligente, vaidosinha, olhos incrivelmente azuis, que pegava nas mãos dos pequenos coleguinhas e com paciência, fazia com que escrevessem as letras do alfabeto que tinham dificuldades e as contas de somar, dividir, multiplicar e os resultados foram aparecendo, para alegria da própria professora, que admirava sua pequena aluna por sua inteligência e capacidade de ensinar.

Até que um dia Ana Rita pediu para seu pai Nicanor construir atrás da pequena casa onde moravam, um puxadinho, mesmo que fosse de taquaras e assim ela ter sua Escolinha para ajudar os coleguinhas nos fins de semana e também os adultos que quisessem se alfabetizar.

Com ajuda dos moradores e de seu avô Manelão, Ana Rita conseguiu a sua escolinha que ficou uma graça, com tocos de madeira como cadeiras, uma lousa de uma porta velha que lixaram e depois pintaram de preto para que pudessem escrever com gis e cada um com sua carteirinha meio que improvisada para que pudessem colocar seus livros e cadernos e copiarem as lições que ela dava para estudarem nas casas.

No dia da inauguração foi um dia de glória para a pequena professorinha, com todos os moradores presentes, todas as crianças, alguns adultos já querendo se matricular para serem alfabetizados e a tia Cidinha toda orgulhosa presente, que não continha as lágrimas ao ser sua aluninha tão aplicada ter sua própria Escolinha.

Fez questão de doar todos os materiais escolares para os pequenos alunos, que conseguiu com a cooperação de seus colegas de outras Escolas da cidade, sendo que uma representante da Diretoria de Ensino esteve presente e também se emocionou diante de tudo que viu.

Assim a pequena Ana Rita teve a sua Escolinha do Bairro, seus aluninhos foram cada vez mais aprendendo as lições e com o tempo, os adultos foram se encorajando a aprender as primeiras lições do alfabeto, mesmo que desajeitados, pois as mãos grossas impediam de segurarem os lápis, mas Ana Rita com um jeitinho todo especial não deixava eles ficarem melindrados, segurando em seus dedos e devagarinho as letras iam tomando formas, até que ficavam orgulhosos e exibiam seus sorrisos quando um A, um B, um C tomava suas formas meio que tortos, desajeitados, mas como se uma vitória fosse conquistada.