PSICOLOGIA DO MEDO.
Chagaspires
Quando eu era criança minha avó Maria, mãe da minha mãe se encarregou de povoar o meu mundo com estórias e personagens que causavam medo. Era uma maneira de dar limites aos netinhos. Contava ela estórias de Papafigo, de lobisomem, de bicho papão, e de outras figuras bisonhas que atacavam à noite as crianças que eram malcriadas, fujonas, ou não obedeciam aos pais e aos avôs.
Hoje depois de passado muitos anos, ainda me lembro daqueles mitos da infância e dou muitas gargalhadas.
Garanto que não me deixaram nenhum trauma, e acho que até me fizeram bem.
Nessas alturas do campeonato eu já possuo oito netinhos nas vésperas do nono, o Yan Carlos.
Com a idade entre cinco e oito anos ainda tenho quatro: Sávio, Samuel, Isaac e Guilherme; esse último mora conosco. Pois bem, o Gui, como é chamado é um menino bastante inteligente, vivo e muito sacudido; e como não podia deixar de ser estou passando minha herança do medo para ele.
Como os tempos estão mudados, procurei criar alguns personagens interessantes que ganharam vida na imaginação fértil do meu netinho.
São eles: O Ratapum, o Carangula, o Quanduru, e o Pangareta.
O Carangula é uma espécie de caranguejo misturado com ave que mora num galho de árvore de uma frondosa mangueira que fica do outro lado da rua bem em frente ao prédio onde moramos.
O Carangula só sai à noite e vem arranhar os pés de menino que mão gosta de obedecer à mamãe e aos avôs; ele emite um pio igual ao da coruja: uh, uh, uh...
O Ratapum é uma espécie de rato misturado com cotia que perambula pelos latões de lixo dos prédios e roi as unhas de menino preguiçoso que gosta de dormir tarde; ele mora debaixo da mesma mangueira em um buraco profundo e só sai pela madrugada. Sua presença é anunciada por um forte ruído muito parecido com o ronco de um porco espinho. Ele faz raaaatapum!
O Quanduru é um ser pavoroso parecido com um tatu bola misturado com pica-pau, só que tem as unhas grande; ele belisca o bumbum de crianças que não gosta de tomar banho: ele mora no oco de um galho da mesma mangueira, e emite um assovio forte e persistente.
E finalmente o Pangareta; ser misterioso que aparece vez por outra, quando algum morador de rua toca fogo nas folhas da mangueira. É um ser formado de fumaça muito parecido com o fogo fátuo que aparece no cemitério à noite. Ele possui uma língua grande e visgosa. Quando o menino teima em querer ficar jogando até tarde no computador, amanhece com a boca melada de mingau que o Pangareta passou com sua língua pegajosa. Desta maneira o pequeno Guilherme tem sido convidado a nos obedecer senão os bichinhos irão aparecer para tomar satisfações com ele.
Alguma psicóloga moderna ou mesmo qualquer outra pessoa, poderá insinuar que o meu neto está morto de medo, e poderá adquirir alguma fobia, e que esta forma de proceder não será a correta para se educar uma criança; talvez até seja.
Só sei dizer que ele gosta dos personagens, e até tem me pedido para desenhá-los, e pelo contrário do que possa ser imaginado; tem brincado comigo e pergunta sempre pelos bichinhos não se fazendo de rogado. Passamos grande parte do dia brincando de fazer de conta e misturando a ilusão com a realidade. Dessa maneira o meu neto vai crescendo com limites que com certeza irão colaborar para uma formação sadia bem parecida com a que eu tive.