O ENCANTAMENTO
O Encantamento
Através da vidraça, Alicinha lançava um olhar tranquilo pelo jardim. Ficou maravilhada com a beleza simples daqueles caminhos de avencas e de areia molhadinhos pela chuva que caía mansa, provocando um conforto na alma, uma vontade de sonhar com belas histórias que, se não ficam para sempre na memória, eternizam-se nos corações.
A folhagem sorri enquanto o vento brincalhão faz com que elas tremulem, se embaracem, se desembaracem, se enrosquem e se desenrosquem, usufruindo da alegria da dança do vento cantor.
O ar vibra de polens e de insetos.
Suavemente, a mãe Lua o chama. E o alegre menino-vento vai dormir na nuvem mais macia que encontrar, sem antes, é claro, brincar em outros jardins, pois a alegria é um dom que Deus lhe deu para ser compartilhado: aqui, ali, agora, depois, enfim...
A chuva macia acompanhou o vento, mas deixou-se transformar em belas transparências coloridas pelos últimos raios de sol daquele fim de tarde.
Alicinha observava, agora, o retorno de algumas borboletinhas, que insistiam em ensaiar seus últimos passos de balé.
“Elevé, plié, elevé, plié,”- repetia a menina mentalmente, - ou seria: “Plié, elevé, plié, elevé quando se assustou ao ouvir:
- A-LI-CI-NHA! ALICINHAAAAAA! ALICIIIIIIIIIIIIIIINHA!
- Quem está me chamando?
- Ninguém. Somos duas e estamos GRITANDO! A-LI-CI-NHA! A-LI...
- Já estou indo, calma! Mas quem... A-MAN-DA!, I-SA-BE-LLA! Venham cá, priminhas.
A gritaria foi geral! Eram abraços pra cá e beijos pra cá também, abraçaram-se e pularam, dançaram e caíram no chão porque atrapalharam as pernas, rompendo, em uníssono, uma gargalhada deliciosa!
- Que bom, vocês chegaram, disse Alicinha. Mas por que não mandaram me avisar? E por onde entraram, que eu nem vi!
-Queríamos fazer surpresa, respondeu de pronto, Isabella.
-E você não nos viu entrar pela porta lateral porque estava olhando pela janela com cara de atrizdanoveladasoitoqueacaboudeperderonamorado... - Amanda
fingia um olhar sonhador/sofredor muito sapeca e as três caíram na gargalhada outra vez.
- Enfim, férias! Flávio e Samir não estão com vocês, por quê?- Alice perguntou.
- Já estão chegando. Não seja tão ansiosa!- Disse Amanda
Lá no jardim, já sob um loiro raio de sol, Lan Lan corria de um lado para o outro, avisando a todos que se preparassem para ser um belo jardim, o mais belo cenário para as brincadeiras e para as histórias que as amadas crianças pudessem sonhar! Haveria novidades desta vez? Ah, sempre haveria , pensou.
De repente, ouviu-se um grito paralisante:
-De onde surgiu essa poça d’água cor- de- rosa?
As borboletinhas ergueram suas anteninhas, as arainhas caíram de suas teias multicoloridas, a margarida Belinha e seu noivo beija-flor assustaram-se em vez de se beijarem – afinal, a paisagem ficara tão linda depois da chuva... e todos correram para ver o que acontecera.
Alicinha, Amanda e Isabella viram o reboliço lá fora e decidiram sair também.
-Que aconteceu? Que é tão grave assim?- perguntou Alicinha, enquanto as outras primas arregalavam os olhos.
- Alicinha, você acredita que a chuva foi embora, mas deixou uma poça d’água em nosso quintal? – disse a iguana, a Lan Lan de sempre.
- Ora, isso é normal, minha amiguinha, aos poucos, a poça vai secando, secando, até sumir.
Amanda e Isabella balançavam as cabecinhas concordando, mas sempre com os olhos muito arregalados.
Alicinha percebeu o toque inusitado da situação e resolveu esclarecer:
-Isabella, Amanda esta é a Iguana Lan Lan. Ela é a prefeita de nosso jardim e...
- Ora, então era de vocês que Alicinha tanto falava? Que prazer conhecê-las!
Imediatamente, estufou o peito e disparou a fazer seus esclarecimentos:
- Pois é: se ainda não sabem, sou a prefeita perfeita e, por isso, gostaria de esclarecer à senhora proprietária deste jardim, que esta poça d’água não é comum.
-Por quê? O que há de diferente nela? Perguntou Amanda.
- A cor. Ela é cor- de- rosa!
Belinha arriscou um palpite: - Quem sabe uma de minhas pétalas foi levada pelo vento até lá? Daí, ela afundou e coloriu toda a água. Afinal, o menino-vento é tão brincalhão que pode ter tido a idéia de nos pregar uma peça! O que vocês acham, meninas?
As três concordaram, mas não Lan Lan. Ela sugeriu, meio ofegante:
- Observem bem: vocês acham que falta alguma pétala em Belinha?
-Não, responderam as meninas.
- Dentro da água vocês podem ver alguma pétala?
- Não, repetiram as meninas.
- Outra coisa: observem a consistência desta poça. Ela não é líquida, perceberam?
- Parece gelatina de morango! Disse Isabella.
- Posso provar um pouquinho? Adoooooooooooro gelatina de morango. E já ia tocando a substância com a mãozinha, quando Lan Lan advertiu:
- Não faça isso, Amanda! Puxa vida, você tem os olhos tão azuis que quando lança um olhar ao jardim parece que tudo fica delicadamente azulado...
- Amanda deu uma risadinha, ficou com as bochechas vermelhinhas e disse: - O-o-obrigada!
- E você, Isabella, com estes lindos olhos escuros, parece que está sempre antecipando lindos e suaves ocasos...
Quando Isabella deu seu sorriso de agradecimento, Alicinha comentou: Lan Lan, nunca vi você assim... ajuladora! O que houve?
-Estou apenas dando boas vindas às sua primas. É de bom tom que eu o faça. Afinal, sou a prefeita...
- Perfeita! Disseram as três priminhas em uníssono.
- Distraímo-nos tanto, que quase nos esquecemos de nossa poça cor- de- rosa. Que vamos fazer?
- Sugiro que, antes de mais nada, a observemos bem.
E estavam assim, quietas, olhando aquela poça de gelatina cor- de- rosa quando Amanda gritou: -Viram? Há dois pontinhos de luz nadando lá dentro!
-Onde? Perguntou Lan Lan.
- Também vi! Disse Isabella! Nadou para perto de você, Alicinha! Está vendo?
- Sim, sim. Olha aqui, Lan Lan, corre!
- Que será isso? Um peixe elétrico? Dois?
Levaram o maior susto, quando ouviram uma voz de menina que dizia : Se eu fosse peixe, seria peixa, mas sou rã, embora muitos me chamem de perereca.
-Você está estragada? Perguntou Alice, ao que a rã respondeu: Buá! Buááááá! Buááááááááá!
Amanda e Isabella apressaram-se em pedir a Alice que se explicasse para aquela perere... ... para aquela rã por que achou que ela estivesse estragada. A rã chorava muito!
- Escute senhorita rã-rosa, não quis ofendê-la. Eu... quer dizer, nós só conhecíamos rãs verdes ou amareladas, nadando em poças cor- de- burro- quando- foge.
- Isso mesmo, disseram Lan Lan, Amanda e Isabella.
- Calma, gente. Ela deve ter alguma explicação para nos dar. – Alice disse.
- E tenho. Sniff,sniff,sniff... mais que explicação: tenho um segredo! Desabafou chorosamente.
- Ah, ... Ah. ...AH!
-Segredo? Surpreendeu-se Lan Lan.
- Mas segredo não explica nada, Alice falou bem baixinho.
Amanda, muito curiosa, quase festejou: - Então, conte-nos! Adoramos ouvir segredos!
Isabella, toda adulta, retrucou: - Mas aí deixa de ser segredo, priminha.
Depois de ficarem decepcionadas, Lan Lan perguntou:
- Mas você pode contar este segredo para alguém?
- Sim. Para... para... esperem um pouco. Vou sair para vocês me verem. Assim poderemos nos conhecer melhor.
Quando ela foi se movimentando, a poça foi tomando forma de coração e à medida que ela nadava, apareciam cintilações nas leves ondas que se formavam por causa de seus movimentos delicados, calmos como os de uma princesa. Enfim, toda ela apareceu e a poça se desfez. É que a poça servia-lhe de lindo manto cintilante em leves tons de cereja, cobrindo-lhe todo o corpo. Seu rostinho de rã-rosa era lindo e sua voz encantadoramente melodiosa.
- Olá, meninas. Deixem-me dizer, antes de mais nada, que aprecio muito vocês. Sabem por quê?
- Não! Disseram as quatro maravilhadas com o que viam.
- Vocês foram as primeiras pessoas que me ouviram. Inclusive a margarida Belinha. Olá, Belinha! Muito prazer em conhecê-las!
-E você, pode nos dizer seu nome?
- Sim. Chamo-me Liz, isso não é segredo.
-Líz, você tem nome de rainha, de princesa, de flor, disse Isabella.
-Obrigada! Agora que nos conhecemos e nos gostamos, posso fazer um pedido à prefeita... perfeita?
Lan Lan ficou toda boba. Perguntou às meninas: - O que vocês acham? Devo exigir ofício ou posso atendê-la informalmente mesmo?
- Ora, Lan Lan, é assim que você recebe uma amiga, mesmo que recém-chegada? Perguntou Alice.
-É que a hierarquia manda que...
- Lan Lan, hierarquia, em nosso país tem muito a ver com burocracia, não acha? Por favor, não submeta nossa amiguinha a esse lixo, disse Amanda.
- Está bem. Então, como meu coração é de vocês, vamos lá, minha rãzinha predileta, qual é o bafo?
As meninas viram a Livia com o olharzinho muito atrapalhado e a Lan Lan com o nariz em pé e, simplesmente, não se agüentaram: riram tão alto, gargalharam tanto, que se descuidaram e tentaram abraçar a rãzinha, mas esta deu um salto para trás, muito assustada e disse:
-Por favor, perdoem-me, mas não me toquem ou poderei desaparecer para sempre!
- Disfarçando o susto, as meninas disseram: Líz, pode fazer seu pedido.
- Peço à prefeita e a vocês que me deixem ficar aqui por algum tempo, pois a pessoa a quem deverei contar todo o meu segredo não tarda a chegar aqui, neste jardim.
- Neste jardim? Perguntou Lan Lan. Como você sabe disso?
- Ora, esta parte do segredo eu posso falar. Tenho informações seguras de que aqui é o lugar do primeiro encontro.
- Tudo bem. Mas já está escurecendo, você não prefere ficar abrigada em nossa casa?- Ofereceu Alice.
- Bem que eu gostaria. Mas tenho medo de me movimentar muito e de perder mais pedaços do meu manto.
- Podem ficar tranquilas, meninas, pois pedirei às amigas borboletas que patrulhem o céu, às amigas aranhas que teçam-lhe teias bem aconchegantes e aos louva-a-deus que fiquem de guarda. Além do mais, faremos companhia a ela até que ela durma. Até amanhã. Vamos todos dormir bem.
As meninas entraram, tomaram banho, lancharam, muito alegres, mas sem contar nada a ninguém.
Quando se viram, sozinhas em seus aposentos, começaram a falar baixinho:
- Isabella, chamou Amanda, você acha que ela é uma fada?
- Alice acrescentou, com ares de gente grande: ela deve ser só um sonho. Amanhã, quando acordarmos, vamos entender que nada disso existiu.
A noite foi de paz para todos. Uma aurora tímida divagava de colina em colina frente aos muros do jardim da casa, mas a terra entrava na muda, trocava de cor enquanto encostada à mesma árvore sem idade.
Enquanto isso, Líz se perguntava que aparência assumir a fim de atravessar as portas daquele dia. Ela se sentia como quem não tem a senha para entrar na realidade, mas esperava, com a consciência de quem não quer ser eterno, passar pelo querido tempo das peraltices de verdade.
O sol girava em volta do mundo quando as primas deliciavam-se com as guloseimas que as vovós prepararam para a primeira e deliciosa refeição do dia. Josi, ... e Ivone, ajudantes das vovós, ficavam orgulhosas e felizes quando as meninas diziam: “que bolo delicioso!”, “que mingauzinho no ponto!” “que frutas deliciosas”.
A vovó Conceição dizia com muita graça que os pássaros, as flores e as borboletas, ajudadas por Lan Lan, foram levar as frutinhas, fresquinhas, com o orvalho da manhã, ainda.
Vovô Félix conversava animadamente com as meninas, tentando convencê-las de ele sabia conversar com os canarinhos, com os sabiás, com os sanhaços. Já o Vovô Quinquim dizia que conversava com a Senhora Saracura todas as manhãs. Era ela que lhe passava as primeiras informações do dia.
As meninas riam muito e resolveram chamar os avôs paras lhes confidenciar o acontecido da véspera, quando Vovó Fernanda gritou lá da porta da sala da frente:
Meninas, imaginem quem está chegando !
Não precisou nem esperar muito: elas gritavam felizes: Ana Luísa! Flávio! Samyr! Maria Cecília!
Foi uma correria, todo mundo se abraçando, contando coisas, Vovô Félix perguntando sobre a viagem, ouvindo boas notícias dos pais de toda a criançada. Era, enfim, uma linda festa!
Assim que se sentiram muito acarinhadas por todos, depois de colocarem os assuntos em dia, saíram para o jardim.
Lan Lan viu logo o movimento e também chegou para contar suas novidades. Como não podia deixar de ser, disse, dentre outras coisas que a rãzinha-rosa dormira tranquila por toda a noite.
Os recém-chegados entreolharam-se, sem entender nada.
- Que história é essa de rãzinha-rosa? - perguntou Maria Cecília.
Não tiveram tempo de receber alguma resposta, porque Liz chamou: -Venha cá, Maria Cecília! Estou com saudade de você.
- Olá! Nós nos conhecemos?, perguntou Maria Cecília, com muita simpatia.
- E como! – Respondeu Liz. Mas isso é uma longa história sobre a qual você ficará sabendo aos pouquinhos.
As outras crianças começaram a se aproximar aos poucos e, quando estavam quase lá, ouviram uma criancinha chorando no meio do jardim e assim ela dizia:
-V-v-v-o-vo-vo-cêêês se esqueceram de mim?
-Como íamos nos esquecer de você, Maria Cecília? Logo de você, nossa cantora predileta!
- É, eu estava meio cansada, mesmo. Mas agora não estou mais! Eu quero é cantar, brincar, pular. E também quero conversar mais com a rãzinha-rosa.
-Então vamos lá, disse Flávio.
Espantaram-se quando viram aquela poça de gelatina rosa falante.
-Quem é você? Perguntou Maria Cecília. Depois acrescentou: Isto é, você é uma poça de gelatina rosa falante? Já vi até grilo-falante, mas... gelatina?
E Liz assim se apresentou:
“Eu vou dizer olá com uma canção bonita
E vocês vão perceber que em meus cabelos não há fita.
Não conheço nada melhor que viver, sorrir, amar,
Por mais que me conheça, não consigo me encontrar.”
-Que confusão! Exclamou Flávio empunhando seu violão, enquanto todos cantavam:
“Vamos tentar até o fim esquecer a tua ausência,
Estivemos sempre juntos, e o mais era carência.
Se não és alguém a falar contigo, a sós,
Por favor, conte logo seu segredo para nós."
O segredo acabou, meninas e meninos, bichinhos e plantinhas,
Insetos e Senhora Prefeita Perfeita deste jardim. Agora, já posso contar tudo!
-Tudo o quê? Perguntaram Maria Cecília, Ana Luísa, Flávio e Samyr.
-Atenção, atenção! – disse a senhora perfeita, ô, prefeita, ô, é isso mesmo! Nossa mais nova habitante vai se identificar e...
- Lan Lan, Alice disse, estamos loucas para saber o segredo dela!
Por favor, discurso, NÃO!
- Não sou uma poça falante. Sou uma menina, que, por enquanto, é uma rã. Sei que posso contar meu segredo agora porque quem me fez passar por este encantamento disse que eu só deixaria de ser rã no dia que encontrasse um menino muito bem educado, estudioso, divertido e que soubesse tocar violão.
A criançada gostou e gritou: Ê, Flávio, você heim?
Meio ansioso, ele disse: Gente, vamos ouvir o segredo?
- Pois é: sou Liz, neta do Vovô Quinquim. Um dia, quando estava cavalgando, minha mãe delimitou uma distância. Dali, não poderia passar. Acontece que ouvi um lindo som de violino e não resisti. Fui lá ver quem estava tocando. Era um lindo rapaz. Eu fiquei parada, quietinha e ele não me viu. Quando acabou de tocar foi embora e, só então, tentei voltar para casa. Mas ouvi uma voz que me dizia:
- Agora é tarde! Você desobedeceu a sua mãe.
-Quem está falando? – perguntei.
- A graminha mais verde deste prado. Pode me ver?
- Sim, respondi.
- Pois para você aprender a obedecer a sua mãe será transformada em rã cor- de- rosa e este encantamento só será desfeito no dia que você encontrar um menino... o resto da história vocês já sabem.
- Mas, olha só, disse Maria Cecília, você é uma perere... digo uma rã linda. Mas não acha que já deveria ter se transformado em menina? Já sabemos o segredo!
Todos concordaram com ela.
Porém Liz falou: A graminha encantada me disse que, a partir do momento que eu encontrasse tal menino, poderia conviver com todas as outras crianças, até que um gesto educativo de verdade do Flávio para comigo ia me transformar em criança outra vez.
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-Como assim? – perguntou Flávio. Não sou professor.
- Sem noção, disse Samyr.
Assim, saíram pelo jardim a cumprimentar e contar as novidades a todos os bichinhos e plantinhas que encontravam.
Na hora do almoço, entraram para lavar as mãos. Foi criado o primeiro impasse do dia: Liz não podia lavar as mãos. E chorou. Todos ficaram penalizados , mas Flávio passou álcool gel em suas mão e o problema foi resolvido.
Depois do almoço, enquanto os outros conversavam, Maria Cecília lia um conto de fadas, daqueles que falam que ao receber um beijo, um sapo virou príncipe.
Saiu correndo para contar à galera.
-É isto mesmo! - diziam uns.
- Vocês podiam tentar, diziam outros.
Assim, Flávio beijou a mão de Liz.
Todo mundo prendeu a respiração.
Sabem o que aconteceu? Nada.
Liz chorava tanto que todos pensaram que ela ia derreter.
Tiveram o maior carinho com ela para consolá-la.
Resolveram, então, ir ao cinema. Estava passando um filme maneiro: A Marcha dos Pinguins.
Todo mundo tomou banho, mudou de roupa, as meninas adornavam os cabelos com arquinhos, quando ouviram: sniff, sniff, sniff... era Liz chorando.
-Que foi? Perguntou Amanda.
- Eu não posso me arrumar!
-Mas você está sempre linda, disseram Alice, Maria Cecília e Isabella.
- Mas estou sempre igual!
Os meninos também tiveram que argumentar alguma coisa, até que Liz parou de chorar.
Antes de saírem, porém, Lan Lan chamou Flávio para uma reunião em seu gabinete. Seria coisa rápida. Flávio, Lan Lan e alguns professores tiveram uma conversa de meia hora, mais ou menos. Depois, ele se juntou às outras crianças e todos foram ao cinema.
Compraram os ingressos, mas, na hora de entrar, a moça que os recolhia disse:
- Deixem sua gelatina aqui fora. Lá dentro ela pode derreter e vai estragar todo o carpete novo.
Foi o suficiente: Liz começou a chorar, a moça ficou assustadíssima, porém Flávio chamou Liz e lhe disse:
- Liz, não vejo motivo para você chorar.
Ela chorava mais alto.
- Escute-me: você está sentindo alguma dor?
- Não, ela respondeu.
- Então, pare de chorar, diga à moça que você é uma menina e não uma gelatina, que quer assistir ao filme, pois embora esteja passando por um momento de transformação, não deixou de gostar de coisas que todas as crianças gostam. Tudo bem?, Flávio perguntou com firmeza na voz.
- Vou tentar.
Chegando à porta do cinema, Liz disse: Olhe bem para mim, moça! Sou uma menina e
- Pode passar, disse a moça, mas se também trouxe gelatina, deixe-a aqui fora. Já expliquei os motivos.
- Ãh?, duvidou Lívia.
A turma estava admiradíssima e super silenciosa.
Liz procurou um espelho e viu que o encanto... acabara!
Então, ela saiu correndo abraçou todos os amigos, sem chorar. Sorria, sorria muito.
Finalmente, entraram no cinema e quando o filme terminou, na saída, a moça abordou-os, meio atrapalhada e disse: - Não consigo achar a gelatina de vocês!
Todos se olharam e irromperam numa deliciosa gargalhada.
-