O BONECO MEQUETREFE

Mequetrefe, o boneco de pano,

Jogado na caixa de papelão

Onde se deixa todo ano

Brinquedos de segunda mão.

Carrinhos, bonecas e bolas

Moram na caixa até o Natal

Quando os levam como esmolas

Para a favela do canal.

Meninos vêm pelos caminhos

Rotos, pesinhos pisando o duro chão,

E escolhem, pobrezinhos,

Os brinquedos da caixa de papelão.

Guia-lhes os rápidos passos

O sonho, a infantil ilusão

De bola no pé ou boneca nos braços

Ainda que o estômago peça pão.

Levaram tudo ou quase tudo,

Meninas e meninos da favela.

Sobrou o boneco de gorro pontudo

Vestido com roupa amarela.

E a última menina a chegar

Não tinha mais que cinco anos

Dava pulinhos para alcançar

A boca da caixa e sem danos

Ver se brinquedo havia dentro dela.

Tombada a caixa a menina entrou,

Saiu levando para sua casa na favela

Mequetrefe, o único que sobrou.

27/11/06.

(Maria Hilda de J. Alão)