O PEQUENO CAMINHEIRO - PARTE FINAL - VOLTANDO PARA CASA
(Sócrates Di Lima)

A tarde termina e o pequeno caminheiro feliz pelo seu dia,
Caminhou pelos campos juntamente com o cavalo, pois, os demais amigos resolveram ficar só na "vóia" junto com o bicho preguiça.
Não muito longe dalí, o mar bramia contra as rochas, com a violência de costume, esparramando espuma branca trazidas pelas suas ondas.
Havia uma maresia ao final da tarde, o cheiro do mar transfixava as narinas a pele arrepiava com o friozinho vindo de longe.
Então, o Sr. cavalo sugeriu:
- Meu amigo, vamos galopar na orla?
- Não é má idéia, vamos.
- Então suba aqui no meu dorso, agarre firme nas minhas crinas e vamos nós a galope sentir a liberdade do vento roçando nossas caras.
- Espera ai resmungou o menino:
- Cara tem você, eu tenho rosto!
- Deixa de ser bobo, cara, rosto, face, tudo é a mesma coisa, o que você tem eu tenho, só que em formatos diferentes, você é humano e eu sou animal.
- É verdade, seu cavalo, o Senhor tem razão, afinal, só somos diferentes porque voce tem quatro patas e eu tenho dois pés, braços e mãos.
- É, mas você nasceu num berço e eu numa cocheira.
- Lembre-se seu cavalo, Jesus nasceu numa manjedoura bem numa junto aos animais, não nasceu num berço e nem numa casa.
- Iruuuuuuuuuuuu...gritou o cavalo, vamos deixar essa conversa e sinta a liberdade...
-Bom demais isso seu cavalo, corra...corra...corra mais, quero sentir o vento bater no meu peito e eu vencer sua barreira como se atravessasse o túnel do tempo.
- Segura ai seu rapaz....lá vamos nós....
E o cavalo saiu numa desabalada carreira, como se estivesse nos campos, correndo...correndo com seus pares.
- Ei menino, você já tomou banho de mar?
- Eu não, não quero não, a água é fria e eu tenho medo de me afogar.
- Você não sabe nadar?
- Não.
Enquanto corria o cavalo pensava em fazer uma brincadeira com o menino e jogá-lo na água. Ficou meio apreensivo, mas, decidiu fazer o que pensava.
Enquanto corria distraia o menino com suas gritarias, até que adentrou pelo mar e parou de repente.
Nem deu tempo, e o menino foi lançado ao mar com a parada brusca do cavalo.
- Socorro..socorro..seu maluco...seu doido, eu te falei que não sabia nadar...
O cavalo ria que se matava, e gritava:
- Levanta ai seu moleque, levanta, que vai ver que a água vai estar abaixo do teu trazeiro.
Levantou-se e viu que realmente a água estava na sua cintura. Mas, como já estava ali dentro, resolveu ficar e se divertir, pulando ondas. Só que com a queda na água, o menino ficou sem o shorts e nem percebeu e lá fora a bicharada ria e pulava ao ver o menino plantando bananeira na água com a "bunda"de fora.
Com as ondas, o shorts ficou boiando e o falcão voou até lá e pegou-o.
- Vem cá seu falcão safado, traz meu shorts aqui....esbravejava o pequeno.
Depois de muita gozação, muita folia, o falcão soltou o shorts e o menino se vestiu, saindo da água,
- Adorei nadar no mar, gritava o menino chutando a água, já na areia.
A tarde caia ligeiro, e a turma precisava encontrar um lugar para passar a noite.
Saíram ainda com dia claro e foram procurar abrigo.
Encontraram uma gruta e ali acenderam uma fogueira e passaram a noite.
Ao amanhecer o dia, todos se reuniram e o menino falou:
- Preste atenção, já andamos muito por ai, viajamos por muitos lugares, e chegou a hora da gente voltar pra casa.
- Como é? Perguntou a tartaruga.
- Que é isso menino, espantou-se o urso.
- É isso, não temos mais pra onde ir, rodamos tanto e acabamos perto de casa, não estou muito longe de casa não, estão vendo aquele morro ali, pois é, se a gente sair logo, a noite chegaremos la, temos que atravessar toda essa mata ai.
- Nossa, parecia perto, resmungou o Urubu.
- Então, vocês vem comigo?
- Claro que vamos, não temos pra onde ir, iremos com você pra onde você for.
- Todos concordam?
- Simmmmmmmmmmmmm....responderam em coro.
Então vamos embora pra casa.
Andaram o dia todo, estavam famintos e com sede, e nunca que chegava o tal morro que o pequeno caminheiro mostrou.
Depois de andarem muito, atravessarem os campos de girassóis, belos roseirais, plantações de milho, soja, atravessarem riachos, chegaram a uma porteira onde tinham dois pés de flamboyant  florido. Era primavera, tudo era verde e colorido.
- É aqui que eu moro, falou o menino.
- Nossa que lugar lindo, mas está muito quieto aqui. Disse o cavalo.
- Verdade, alguma coisa aconteceu.
Chegaram até a casa grande, bateram na porta, e o Dito, preto velho, apareceu e vendo o menino, gritou:
- É você meu menino, é você?
- Sim meu preto velho, sou eu, eu voltei...
- Por onde andou? Você desapareceu, seus pais saíram á sua procura e com ele sua mãe e os empregados da fazenda. Olha ai, esta tudo parado, ninguém mais trabalhou aqui, foi muito triste, muito triste o seu desaparecimento.
- ô meu preto velho, meu pai brigou comigo, me bateu, me mandou embora e eu fui.
- Você não deveria ter ido, ele brigou com você porque você fez arte, mas, não era pra você ir embora, foi um momento de sangue quente que teu pai disse aquilo tudo pra voce.
- Eu sei...eu sei, mas, estou aqui, são e salvo, e voltei pro senhor e pra eles.
- De quem são esses animais ai? Disse o preto velho.
- São meus amigos, me acompanharam o tempo todo, e durante minha caminhada fui fazendo amigos e eles vieram todos comigo, vão ficar aqui.
- Então entrem, entrem....descansem, vou mandar fazer comida pra vocês, entrem...
Três dias se passaram em o menino estava preocupado, triste com a ausência de seus pais, pois, não sabia pra onde tinham ido procura’-lo e nem poderia ir atrás deles.
Na tardinha do quarto dia, estavam todos no celeiro quando ouviram barulho d e gente chegando.
Saíram correndo e o menino viu seu pai numa carroça e sua mãe no colo dele.
- Pai...pai...pai...gritava o pequeno caminheiro.
- Pai..pai..pai...gritavam todos os outros ao mesmo tempo.
Foi uma gritaria só, até chegarem perto.
Quando ficaram frente a frente, o silêncio sem fim...quando o menino disse:
- Perdão meu pai..perdão, por ter feito o senhor sofrer com minha partida.
- Ô meu filho, meu filho voltou...Ô meu Deus...obrigado senhor...
- Mãe..mãe...gritava o pequeno caminheiro.
- Sua mãe está muito doente, ficou muito triste, não te achávamos e pela doença dela resolvemos voltar, foi Deus quem mandou a gente voltar.
- O que ela tem?
Não sei filho, não sei...
- Meu menino...vem cá meu menino...vem com sua mãe....
- Mãe....mãe...que saudade mãe...o que você tem mãe, eu voltei....voltei pra ficar com a senhora.
- Meu filho, meu menino, dá um abraço na sua mãe.
Um abraço longo, lágrimas derramaram.
O urso chorava tão alto que espantou a todos.
- Que é isso Pandolé, não é sua mãe, disse o cavalo.
- Eu sei, eu sei, como eu gostaria de reencontrar minha mãe, meu pai, meus irmãos que foram levados para um circo.
Um silêncio tomou conta do lugar e todos com lágrimas nos olhos se abraçaram.
- Vamos entrar, falou o pai.
Naquela tarde, o pai chamou todos os empregados, mandou fazer muita comida para festejar a volta do pequeno caminheiro.
Com o reencontro com o filho, a mãe sarou, estava doente de tristeza, mas, já não tinha mais motivo para continuar triste e feliz com a chegada do filho, o amor lhe curou, o seu amor incondicional de mãe.
A festa durou a noite toda e por três longos dias.
- Meu filho, nunca mais vá embora, nunca mais vou brigar com você, espero que tenha aprendido alguma coisa pela vida que seguiu enquanto a gente aqui chorava com a tua ausência.
- Meu pai, ah!Meu pai, nunca mais vou embora, senti muito a falta de vocês, só não foi pior porque encontrei no meu caminho todos esses meus amigos que vão morar aqui com a gente.
- Sim filho, podem ficar, Deus ouviu nossas preces e te mandou d e volta.
- Pai, aprendi que a família nunca deve ser separada, a família é o elo dos entes de sangue, uns cuidando dos outros. O amor nunca deve deixar a família, porque é na família que a gente encontra apoio para viver, formar o clã e unidos vencer na vida.
Aprendi que o amor está em todos os lugares, e que os verdadeiros amigos seguem a gente na dor, na tristeza, na alegria, na fome, na sede, no frio, mas, somente o verdadeiro amigo. Aqueles que não são amigos, vão ficando para traz, vão desistindo da caminhada, porque são fracos, interesseiros, aproveitadores, mas na hora de mostrar o valor da amizade, fogem, deixam a gente sozinho. Graças a Deus eu só fiz amigos e eles estão aqui comigo.
Aprendi que o sofrimento faz a gente valorizar a vida, repensar nas coisas erradas, perdoar, pedir perdão, redimir-se da rudez, faz a gente ser humilde, mais tolerante e humano. Muita coisa passamos juntos na minha caminhada, mas, estou aqui, venci cada obstáculo junto com meus amigos. Se não fosse eles, talvez não estaria aqui revendo vocês.
E como é lindo o nosso lugar. A gente reclama do que temos, as vezes sente inveja dos outros, mas, é tudo bobagem, o importante é o que temos e o que conseguimos na vida. Devemos ser ambiciosos sim, mas,sempre pensando no nosso bem e no bem de outras pessoas, nunca magoar, pisar nas pessoas, desfazer dos outros, aprendi que na vida nunca devemos maltratar a ninguém, nem mesmo aos animais, pois eles sentem como nós, vivem como nós e precisam de nós.
Aprendi que o ódio é uma doença que mata, destrói a paz e faz a gente amargurado e triste, não vale a pena ter ódio, inveja ou qualquer sentimento negativo, é destrutivo demais.
Aprendi que nada se faz sem amor, sem o carinho da amizade, sem ajudar a quem necessita, sem fazer a caridade para com quem está em situação difícil, pior que a da gente. O pouco para nós é muito para eles, então, aprendi que vale a pena lutar por nós e por quem nos ama. Vale a pena buscar a felicidade, mesmo que pra isso tenhamos que lutar contra o mundo, não devemos desistir nunca e de nada, pois, somente nós sabemos da nossa força, da nossa condição física e psíquica para enfrentar os desafios.
Pai, obrigado por me receber de volta e meus amigos, perdão por ter feito o senhor sofrer, a mãe chorar e ficar doente, me perdoa pai.
- O meu filho, não tenho nada que te perdoar, o erro foi meu, eu não soube te compreender, te tratei mau, achei que com a violência eu iria te endireitar, fazer voce compreender aquilo que para nós tinha que ter compreensão. Fui ruim com você quando pela raiva te mandei embora, mandei embora meu menino, achando que você não teria coragem de ir embora, que sentiria minha raiva e se endireitaria. Sei que o que fez foi coisa de criança, mas tem uma frase que a gente usa que é: -“faça o que eu mando mas não faça o que eu faço”. E eu fiz exatamente o que voce fez e nem por isso meu pai me mandou embora. Eu é quem te peço perdão meu filho.
-Está bem pai, nós dois erramos e nós dois reconhecemos nossos erros e nos perdoamos.  Daqui para a frente vamos fazer de tudo para não errarmos mais, aprendermos com nossos erros, é errando que se aprende não é mesmo.
- É verdade meu filho, hoje é o dia mais feliz da minha vida, e da tua mãe também, pois, temos nosso filho de volta. Claro que temos os outros filhos e amamos também, mas, você é quem necessitou  de mais carinho, mais atenção e não lhe demos.
Está bem meu pai, vamos comemorar nosso reencontro e agradecer a Deus por ter nos dado essa chance de reencontrarmos com nós mesmos e descobrirmos que somos e podemos ser muito mais do que somos que o amor é a chave para tudo, só pelo amor vale a vida, só pelo amor vale a pena viver, amar e ser amado.
E assim amanheceu o dia, o Sol radiante, tudo estava belo, a primavera atacou a paisagem de forma esplendorosa e deixou tudo florido, colorido e perfumado.
E o pequeno caminheiro retornou á sua vida, mais forte, mais experiente, mais sábio e um menino muito melhor do que fora quando deixou sua casa com o coração cheio de ódio e mágoas.
E assim se tornou um homem bom, honesto, iluminado e viveu em paz o resto de sua vida.

Socrates Di Lima
Enviado por Socrates Di Lima em 17/05/2011
Reeditado em 17/05/2011
Código do texto: T2974787
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