O cachimbo da vovó
Fumega a vovozinha encostada no fogão,
Baforadas azuladas com seu cachimbo de barro,
Perde-se em pensamentos numa nuvem de ilusão,
Saudades quem sabe, dos idos da mocidade,
Lembranças cativas,quem pode dizer ?
Fuma a boa velhinha entretida no fogão,
Contando histórias bonitas para toda meninada,
Historias tristes dos tempos da escravidão,
Historias medonhas, fantasias, histórias de assombração,
Pita seu cachimbo a amável anciã,
Distribui bolos, bolachas e doces de mamão,
Perde-se mais uma vez nas baforadas esbranquiçadas,
Da uma risada gostosa, chega mais perto dos netos,
Afaga o gato rajado, companheiro de fogão,
Faz o chá de camomila, abençoa a criação,
Com suas mãos ressequidas pila a paçoca no pilão,
Vive assim a vovozinha, seus dias de aceitação,
Baforando no seu cachimbo, brancas nuvens de algodão.