O PINGO D’ÁGUA

Todos os dias a vovó arrumava a cozinha: lavava a louça, guardava no armário, secava a pia e depois ia fazer o seu tricozinho. Naquele dia seria a mesma coisa se não fosse um fato: ela não fechou a torneira da pia direito.

A cozinha estava silenciosa. As crianças estavam na escola. Na sala o som da televisão indicava que a vovó fazia seu tricô assistindo a novela da tarde tendo deitado aos seus pés um pachorrento gato angorá.

Enquanto isso acontecia, lá na pia de mármore da cozinha, um pingo d’água vinha, vagarosamente, lá do fundo do cano. Ele chegou à boca da torneira e ficou pendurado olhando o ambiente. Paredes revestidas com azulejos claros, a geladeira branca com bilhetes das crianças presos à porta com imãs, uma mesa espaçosa com suas seis cadeiras, armários e o fogão ao lado da pia. Curioso ele pensava:

- Como é diferente aqui fora. Tudo é claro e bonito. Acho que vou descer para conhecer melhor este lugar.

Mas quando ele olhou para baixo e viu a altura, tremeu de medo. Se caísse acabaria esborrachado e seria tragado para aquele enorme buraco que era o ralo da pia. E agora? Ele já estava cai-não-cai... A pia, com pena do pobre pingo, sugeriu:

Por que não pede ajuda a sua mamãe torneira?

O pingo aceitou o conselho e pediu:

- Mamãe, não me deixe cair... eu estou com tanto medo...

E a torneira, cuidadosa como todas as mamães, fez: Glub – engolindo o curioso pingo d’água evitando o acidente.

31/10/06.