A história do Vento e do Tempo

Comecei a escrever uma poesia. E sem eu perceber nasceu essa história de fantasia. Por isso resolvi contá-la a você.

Era uma vez o Vento que quis ser amigo do Tempo.

Aproximou-se e apresentou-se a contento.

Envolveu o Tempo com seu longo braço refrescante.

O Tempo rendido ao Vento interessou-se em saber o que o novo amigo tinha a dizer de interessante.

O Vento, alegre por ter conseguido a amizade do Tempo, pôs-se a contar sua vida de viajante.

Mostrou-lhe seu guarda-roupa de viagem. Para cada lugar ele vestia uma diferente roupagem.

A roupa cinza possuía o nome de Furacão. Com a roupa o Vento transformava-se em uma grande sensação! Por onde andava deixava rastros de destruição e todos apavorados fugiam da sua direção!

A roupa transparente chamava-se Aragem. Vestida nela o Vento surgia suave e trazia uma leve friagem.

A roupa escura tinha o nome de Tornado. Igual a roupa chamada Furacão, com ela o Vento arrasava tudo que estivesse do seu lado!

A roupa sintética era chamada de Redemoinho. Usando essa roupa o Vento não ficava sozinho.

Acompanhava as águas do mar ou a poeira e areia da terra. Subia tão alta a imensidão que ficava maior que qualquer serra!

As horas foram passando e o Vento ia contando toda a sua aventura e traquinagens.

O Tempo calado e maravilhado ouvia as histórias e ficava imaginando as paisagens.

Depois de concluída sua narrativa, o Vento indagou ao Tempo o que ele poderia contar-lhe naquele momento.

O Tempo ficou quieto e pensativo. Não era como o Vento, aventureiro e ativo.

Apesar da vergonha o Tempo resolveu contar ao Vento que não viajava.

Na sua simples e pacata vida apenas as coisas ele transformava.

Pelas suas mãos os segundos voavam e os minutos passavam. As horas partiam e os dias sumiam. As semanas se despediam e os meses desapareciam.

Como resultado final o ano morria e sempre um novo ano nascia.

E o ano novo trazia uma nova família de segundos, minutos, horas, dias, semanas e meses.

Seu trabalho não era empolgante como o do amigo Vento. Tudo se repetia para o seu desalento.

Transformava os bebês em crianças, as crianças em adultos que envelheciam e faleciam.

Animais e plantas igualmente sucumbiam.

Todos os outros objetos do mundo se não fossem restaurados desapareciam.

Cansava-lhe a faina do nascer, crescer e morrer.

De o eterno aparecer e desaparecer.

O Vento admirado e boquiaberto, atento ouvia.

Por que o Tempo não dava importância para o seu poderoso poder e sua distinta supremacia?

- Quem o dera eu tivesse seu poder, amigo Tempo!

O Tempo abismado refutou a idéia do Vento.

- Que bobagem! - Exclamou o Tempo

- Quem o dera fosse eu que possuísse o poder do amigo Vento!

Por vários minutos os dois se lançaram em uma calorosa discussão para decidir qual poder era o melhor.

O Vento defendendo o Tempo e o Tempo defendendo o Vento e cada qual se expressando como se fosse o pior.

A exaustão da discussão fez Vento e Tempo desistirem do debate continuar.

Um silêncio enorme tornou-se presente, fazendo cada qual parar para pensar.

Depois de muita reflexão o Vento foi o primeiro a falar:

- Amigo Tempo é certo que nós dois somos bastante importantes. As coisas que nós fazemos são deveras interessantes.

O Vento prosseguiu sua conversa ao ver o Tempo expressar concordância.

- Eu quero ser muito o amigo e o amigo quer muito ser eu.

O Tempo concordava com seu amigo Vento e concluiu que estavam diante de um grande perigo. O perigo de aquela discussão provocar uma intriga. E a intriga terminar em uma briga.

O que o Vento e o Tempo poderiam fazer?

Teria um modo do terrível impasse se resolver?

O Vento admirava o poder do Tempo. Estava cansado de tanta viagem e contratempo. Queria algo que mudasse a sua vida agitada. Tendo o poder do Tempo pisaria em uma nova estrada.

O Tempo por sua vez estava fascinado pelo Vento e sua vida de turista. Viajar para vários lugares seria uma grande conquista.

Abandonar o ciclo interminável dos acontecimentos. O Tempo com o poder do Vento teria a chance de desfrutar novos momentos.

Faiscantes estrelinhas de repente saiam da cabeça do Vento. Elas rodopiaram até formarem a palavra I D É I A.

O Vento animado se pôs a falar sem parar:

- Amigo Tempo, eu não posso ser você e nem você pode ser eu. Mas nós podemos trocar pedaços de nossa qualidade.

O Tempo escutou a idéia do Vento. Era verdade. Um não podia ser o outro, porém poderiam trocar pedaços de qualidade.

O Tempo ficou todo animado:

- Amigo Vento eu quero um pedaço da sua qualidade de viajante! Quero fazer viagens maravilhosas!

O Vento concordou e imediatamente pleiteou:

- Eu quero a sua qualidade de transformação, amigo Tempo!

E assim os dois trocaram alegres os seus pedaços de qualidade.

O Tempo não quis esperar.

Arrumou logo a sua mala para viajar.

Andou e andou, mas não ficou satisfeito.

Observou que todos os lugares que o amigo Vento havia descrito ele já conhecia. Há milhares de anos já os percorria.

Nesses lugares, em diferentes instantes ele agia.

Ficou triste e curioso.

Por que através do amigo Vento achara tudo tão maravilhoso?

Repentinamente pequenos cometas azuis saíram da cabeça do Tempo e dançando foram formado a palavra RECORDAÇÃO.

O Tempo recordou-se então do guarda-roupa do amigo Vento. As roupas fantásticas usadas em cada momento.

Ele percebeu que tinha se enganado na troca de qualidade.

O guarda-roupa do amigo Vento era o que queria de verdade.

Longe dali estava o Vento.

Havia voado ligeiro para testar seu novo talento.

Mexeu e remexeu, porém ficou em desalento.

Compreendeu tarde demais que já era capaz de transformar o lugar por onde voava.

Nada permanecia igual, pois sua força tudo modificava.

Os quietos galhos da árvore com a sua chegada punham-se a balançarem agitados.

As ondas ao seu comando agigantavam-se e o imenso mar via-se dominado.

Ele é quem decidia o lugar onde iria chover.

Dava ordens para as nuvens que não ousavam o desobedecer.

Difícil entender o motivo da admiração por seu amigo Tempo.

A qualidade que trocara com ele não o satisfazia no momento.

O Vento repensou sua atitude e concluiu que o erro fora na troca da virtude.

Transformação com certeza não era o que ele queria.

A eternidade do amigo Vento com certeza o alegraria.

O Vento correu para ver se encontrava o seu amigo Tempo.

O Tempo também estava procurando seu amigo Vento

Isso provocou no nosso planeta terra uma enorme confusão!

Onde o Vento entrava o Tempo saia e não conseguiam se encontrar não!

O Tempo triste e cabisbaixo.

O Vento aflito e solto no espaço.

Até que passadas muitas horas o Tempo infeliz e cansado resolveu descansar. Descansaria um pouco para depois continuar a andar.

O Vento continuou a voar.

Foi aí que a confusão resolveu sumir.

E o Vento conseguiu ver seu amigo Tempo que estava calmo a dormir.

Acordado pelo Vento o Tempo se pôs de pé atento.

Quem primeiro falou foi o Vento:

- Amigo Tempo, que bom o encontrar! Estava o procurando por todo lugar!

O Tempo desperto rebateu:

- Amigo Vento, pois o mesmo eu lhe digo! Adormeci porque estava cansado de tanto procurar o amigo!

O Vento sem demora devolveu o pedaço do poder de transformação que recebera do Tempo:

- Não preciso dela, amigo Tempo! Tal poder já possuía de verdade. O que quero mesmo é um pedaço da sua eternidade!

Ao pegar seu pedaço de qualidade o Tempo imediatamente se livrou do pedaço que não queria.

- Sua qualidade também não me serve! Trocar um pedaço de seu guarda-roupa é que me empolgaria!

De pronto o Vento concordou. E novamente um pedaço de sua qualidade trocou.

Realizada a nova troca os dois se afastaram.

O Vento se espichou e se espichou.

E tornou-se alegre ao saber que podia ficar a hora que bem desejasse em qualquer cidade.

O pedaço de eternidade era agora a sua felicidade.

Quantas e quantas vezes o vento se lembrava que antes era pego de surpresa e tinha que fugir.

Saía alvoroçado sem caminho certo para seguir.

A eternidade era sentida na ponta de seus dedos. E ele resolveu a esconder em seu baú de tesouros e segredos.

Não precisava mais ter de aguardar estações do ano para aparecer. Surgia espantando a humanidade que via tudo sem entender.

Desequilibrara-se totalmente a natureza! Por que ventava forte ou fraco em estações impróprias tornara-se um mistério cheio de incerteza!

O Vento despreocupado não possuía mais lista para obedecer. Outono, verão, primavera e inverno ele passou a desconhecer.

E assim o Vento nunca mais deixou de existir.

Mesmo fraquinho a humanidade consegue o sentir.

O Tempo por sua vez fez questão de usar o pedaço do guarda-roupa que trocara.

A monotonia da transformação finalmente se acabara.

Sua vida agora era diferente. Os variados tons da novidade o deixaram contente.

E assim surgiram os vários tipos de tempo: tempo ruim, tempo bom, tempo fechado e tempo conturbado.

A mudança do tempo dependia da roupa que ele decidisse usar.

Quando usava a roupa cinza a humanidade de imediato percebia.

O tempo ruim vinha e trazia uma enorme epidemia.

Doenças diversas assolavam a terra completamente.

Via-se em todos os cantos gente doente.

A roupa transparente do tempo tranquilizava a humanidade.

O Tempo bom trazia uma enorme felicidade.

Não havia briga, doença, ódio e incompreensão.

O diálogo fazia-se presente em toda região.

A roupa escura do Tempo era para verdadeiro um horror.

Distribuía a incompreensão, a desunião, as guerras e o desamor.

A humanidade comentava que o Tempo estava fechado.

O canal do diálogo e do entendimento era descartado.

A roupa sintética do Tempo também não permitia que a humanidade ficasse contente.

A roupa incitava as forças da natureza.

Enchentes e terremotos terríveis causavam a maior tristeza.

A humanidade conhecia bem esse Tempo conturbado.

A tragédia espalhava o choro desesperado do desabrigado.

O Tempo gostava muito da roupa transparente.

A fina camada de tecido cobria-se de detalhe refrescante.

Se fosse possível ele não vestiria outra roupa diferente.

Porém ele não queria viver na rotina.

Mesmo a contragosto trocar de roupa tornou-se a sua sina.

Desse jeito não era mais sempre igual.

Inesperado e original era o seu novo visual.

Ficara melhor para o Tempo viver a sua vida.

Apesar de não ter gostado das roupas de Tornado, de redemoinho e de furacão, elas é que lhe tiravam da lentidão.

Sacudiam sua sonolência e o fazia andar.

Tempo ruim, conturbado e fechado não podia descansar.

Termina assim a história do Vento e do Tempo.

De suas qualidades trocadas e nosso envolvimento.

A humanidade infelizmente é a grande culpada.

Por causa da falta de amor no coração, do desrespeito à natureza e a enorme poluição jogada no planeta é que a confusão foi armada.

Tudo isso fez Vento e Tempo se encontrarem e o desequilíbrio em nosso planeta começar.

E todo esse problema parece não ter data para terminar.

Nós seres humanos devemos aceitar o Tempo que sempre muda e o Vento com sua eternidade.

Vento e Tempo continuam amigos e felizes de verdade.

E nós seres humanos temos que conviver com essas mudanças em nossa realidade.

Mas, sempre existe a esperança que a humanidade encha de amor o seu coração, respeite a natureza e acabe com a enorme poluição.

Caso isso aconteça, Vento e Tempo entrarão em contradição.

As qualidades trocadas eles irão devolver e a normalidade retornará ao seu devido lugar.

Você por acaso não quer ser o primeiro a ajudar o nosso planeta a mudar?

FIM