QUEM NÃO CONHECE O FERDINANDO?
Ferdinando era um garoto tão levado que não havia, na vizinhança, quem não o conhecesse.
Quase todos os dias vinham à sua porta pra contar à sua mãe, o que ele tinha aprontado.
-Dona Jordana, o seu filho amarrou uma pedra no rabo do meu cachorro e o botou em cima do telhado. Agora ele não consegue descer.
Dona Jordana, seu filho pendurou o galo no secador de roupas.
Dona Jordana, seu filho pintou o meu cabelo de vermelho enquanto eu estava dormindo, gritava a empregada.
Dona Jordana, seu filho tirou os meus peixinhos do aquário porque disse que eles iam pegar uma gripe – dizia o vizinho, que tinha adoração pelos seus peixinhos.
E assim os dias iam passando e Ferdi-nando sempre arranjando alguma manei-ra de perturbar a todos.
Ele era um menino muito carinhoso e sonhador e seu maior sonho era dar um passeio num disco voador.
Um dia, depois de fazer muitas traves-suras, adormeceu no jardim de sua casa e só acordou quando uma luz muito colo-rida iluminou o seu rosto.
Primeiro esfregou os olhos achando que estava sonhando. Depois viu que era verdade. Diante dele estava um disco, não muito grande, mas muito brilhante. Emitia uma luz ora vermelha, ora verde, ora azulada, mas sempre com um brilho intenso.
Primeiro Ferdinando ficou deslumbrado e não podia nem se mexer. Logo a curio-sidade o fez aproximar-se cada vez mais, para ver o interior do disco. Era comple-tamente diferente de tudo que ele já havia visto na vida.
Por uma janela ele podia ver uma família que conversava.
Estavam todos falando a nossa língua e, depois de algum tempo, se decidiram a descer do disco.
Era uma família composta de um homem louro de olhos amarelos, cujo nome era Magno, uma mulher de cabelos azuis, que se chamava Astrid, e dois meninos verdes, Silas e Togo, que pulavam de um lado para o outro, alegres por poderem conhecer o nosso planeta Terra.
Logo que abriram a porta deram de cara com Ferdinando que, imediatamente, de-monstrou vontade de conhecer o disco, por dentro.
- Posso entrar no disco? – perguntou Ferdinando.
- Claro! – respondeu a moça com cabe-los azuis.
Ferdinando foi entrando e admirando tudo com grande curiosidade.
As paredes eram forradas com um papel prateado que eles haviam conseguido na Lua e dava, realmente, uma claridade de luar.
O chão era fofinho, como se tivesse si-do feito com pedacinhos de nuvens.
Do teto pendiam flores que perfumavam o ambiente. Tinham também uma aparelha-gem moderníssima, cheia de botões, le-tras e números. Parecia um supercom- putador.
Os meninos começaram a explicar, a Fer-dinando, a finalidade daqueles botões. Em pouco tempo já eram amigos e Ferdi-nando os convidou para passearem pelo nosso planeta.
- Como é que vocês entendem a minha língua? – perguntou Ferdinando.
- Nós entendemos todas as línguas do mundo porque somos muito evoluí-dos. Aqui no seu planeta são 6,7 mil idiomas diferentes e nós mudamos um chip aqui na nossa cabeça para cada país, quando a gente pousa. Nossa mis-são é ajudar aos planetas menos evo-luídos e, para isso a gente precisa se entender, não é mesmo?
- Mas me diga uma coisa, o que vocês podem fazer por nós daqui da Terra?
- Muitas coisas – respondeu Silas, como se chamava o garoto mais velho. Pode-mos, por exemplo, ensinar a vocês as fórmulas que temos para curar todas as doenças. Podemos ainda ensinar as pessoas a se respeitarem mais, como lá em Marte. Aqui na Terra as pessoas ainda fazem guerra, uma coisa ultra-passada. Nós usamos toda a nossa inteligência para melhorar o mundo e não para destruir
- Você falou que tem remédio pra tudo. Será que você podia curar esse machu-cado aqui no meu joelho? – perguntou Ferdinando.
- Claro! mas o que foi isso?
- É que eu fui andar de bicicleta em pé e caí de cara no chão. Para não quebrar o nariz eu me apoiei no joelho e ficou desse jeito. Na hora eu berrei um bocado, mas não adiantou nada.
- É claro! - Quem foi que disse que ber-rar cura ferimento?
- Ninguém disse, mas eu aproveitei-para fazer um pouco de manha.
- Ferdinando, você é um bocado levado, não? Perguntou Togo, o menino mais no-vo.
- É, sou um pouco, mas às vezes eu faço as coisas com a melhor das inten-ções e não sou entendido.
Ainda outro dia eu estava fazendo um joguinho para um amigo meu que é muito pobre e acabei arranjando encren-ca. O jogo é feito num quadrado de madeira cheio de pregos. Nós chamamos de tabuleiro para jogo de botões. Pois bem, quando eu já estava quase ter-minando, a minha mãe me chamou. Respondi que estava ocupado, mas você sabe como é mãe quando chama, não é? Deixei o quadro sobre a cadeira. Quando meu pai chegou, com todo aquele peso, sentou em cima do tabuleiro. Morri de pena dele, que ficou com o bumbum todo furadinho e morri de pena de mim também, que fiquei com o meu ardendo com as palmadas que minha mãe me deu. Meu pai disse que cadeira é pra sentar, nem pé se pode botar nela.
Eu, para me desculpar, passei a semana toda contando histórias pro meu pai porque ele não podia sair pra tra-balhar. Consegui que ele me perdoasse e lhe expliquei que não fiz por mal. Agora somos amigos outra vez.
- Mas chega de falar de mim – disse Ferdinando.
Conte alguma coisa do seu planeta. Essa nave é de vocês? Eu posso ter uma igual?
- Calma, garoto! Diga primeiro o seu nome – disse dona Astrid, que vinha chegando.
- Eu sou o Ferdinando. A senhora não me conhece ainda? Todos aqui no plane- ta Terra me conhecem. Eu sou muito popular por aqui, mas conte do seu planeta.
- Pois bem, disse dona Astrid. Vou contar a você alguma coisa sobre o nosso planeta. Nós somos de Marte, um planeta muito desenvolvido. Temos remédios para tudo, até para o envelhe-cimento. Lá ninguém fica velho ou doen-te. Todos têm uma saúde de ferro.
- Ah...mas eu queria uma saúde de ouro ou de prata.
- De ferro deve ser muito pesada!
- De ferro quer dizer muito boa, que não acaba nunca.
- Mas deixe-me te falar de outro planeta, o Plutão.
Você já deve ter ouvido falar de Plutão. Lá eles estão desenvolvendo um projeto maravilhoso. É o projeto sorriso. Você já reparou como tem gente que está sempre com as feições contraídas?
- O que quer dizer contraída?
- É cara fechada, rugas na testa e expressão de preocupação.
Ah...sei. É como o meu pai fica no fim do mês, quando recebe o salário e começa a fazer as contas. Acho que é porque o dinheiro não dá. Eu até já dei a idéia para fazerem dinheiro de borracha. A gente poderia esticar ele até o fim do mês. Ninguém deu bola pra essa minha idéia maravilhosa.
Ferdinando - continuou dona Astrid, tem um outro projeto também, mas esse é em Netuno. É para o controle da poluição. Sem poluição as pessoas viverão muito melhor e as flores serão muito mais bonitas. As árvores são nossas amigas em todos os momentos de nossas vidas. Você já reparou que desde que nasce-mos usamos a madeira? A nossa cama, a nossa mesa de trabalho ou a mesa de jantar, sempre são feitas de madeira. A madeira ainda é utilizada para fazer as carteiras da escola, as portas das casas, os pisos, os móveis e muitas outras coisas. Muitas vezes as pessoas não tratam as árvores com o devido respeito. Você já não viu crianças arrancando ga-lhos de árvores ou arrancando flor?
- Ih...tô cansado de ver – disse Fer-dinando
- As árvores ainda nos dão sombra, ali-mento, remedios e flores para enfei-tarmos nossas casas. Devemos tratá-las com muito carinho. Em Marte ainda temos muitas árvores e bichos que já não existem aqui na Terra, mas se você quiser eu posso levá-lo até lá para você trazer mudas e filhotes para povoar a Terra.
Ferdinando aproveitou o convite e já está com a viagem marcada para visitar o planeta dos novos amigos.
Boa viagem, Ferdinando!