UMA PRINCESINHA DIFERENTE
Era uma vez uma princesinha diferente que vivia no Reino do Contrário. Nesse reino, todos jantavam pela manhã e almoçavam à noite. Os cachorros miavam, os gatos latiam, os pássaros nadavam e os peixes voavam.
Clara, a princesinha diferente, gostava muito de estudar e vivia grudada nos livros, anotando tudo o que via e ouvia. Ela não tinha olhos azuis, cabelos loiros, pele clara e nem sonhava com um príncipe encantado. Tudo o que a nossa princesinha diferente queria era descobrir o porquê das coisas que existiam no mundo.
Ela vivia perguntando:
_Por que a água do mar é salgada?
_Por que o céu é azul?
_Por que as cobras não tem pernas?
_Por que isso? Por que aquilo?
Eram tantos os porquês que o rei, pai da nossa princesinha, mandou chamar o animal mais sábio do Reino do Contrário: o senhor Burro.
Ele passou a acompanhar Clara em suas incríveis viagens ao mundo do conhecimento, respondendo a tudo o que a nossa princesinha perguntava.
Numa dessas viagens, em uma manhã ensolarada, eles encontraram uma menina muito especial, que não falava, não ouvia e não andava.
_Olá, Vitória! Cumprimentou o senhor Burro, ao mesmo tempo em que gesticulava.
Vitória retribuiu o gesto e sorriu.
Curiosa, a princesinha perguntou:
_Por que ela não respondeu, senhor Burro? E que gestos são esses?
_Vitória é uma menina muito especial, Clara! Ela não ouve e nem fala, porém pode se comunicar com as outras pessoas através da linguagem dos surdos-mudos. Respondeu pacientemente o senhor Burro.
_E que linguagem é essa que eu não conheço?
_É uma linguagem muito especial, assim como Vitória. Chamamos de Libras.
_Então vamos brincar de aprender. Você e Vitória vão me ensinar!
_É claro que sim, Clarinha. É muito importante para Vitória conviver com as outras pessoas e brincar como qualquer criança da idade dela.
_As outras crianças não brincam com ela, senhor Burro? Perguntou Clara, admirada.
_Ser diferente assusta as pessoas, princesa.
_Assusta as pessoas, por quê?
_Elas costumam ter medo de tudo o que não entendem ou não conhecem e acabam se afastando...
_Mas isso não é preconceito?
_Exatamente, Clarinha.
_Ah, senhor Burro, eu não tenho medo de nada, muito menos de brincar com a Vitória.
_É porque você é uma princesinha diferente! Respondeu o burro.
Assim, Clara, Vitória e o senhor Burro viveram felizes para sempre, no Reino do Contrário e no Mundo do Conhecimento, amando-se e respeitando as diferenças e limitações de cada um.
FIM
Escrevi esse conto em 2009, para ser apresentado na Faculdade de Letras na disciplina Literatura infanto-juvenil.