A FESTINHA DE NATAL
Lourenço Vergara vivia apressado. Professor da escola primária, ele passava correndo de uma sala para outra sem olhar para as crianças que transitavam pelos corredores. Às vezes trombava nelas e pedia desculpa afobado. As crianças achavam engraçado o jeito do professor. Diziam que ele parecia um grande urso de óculos. Por causa dessa estranha pressa, ele não participava das festas da escola. Sempre que era convidado, agradecia e dizendo que estava atrasado ia embora.
Faltavam poucas semanas para o Natal e as classes de Lourenço Vergara faziam planos para o encerramento do ano letivo. Seria uma festinha de natal. A diretora já havia comprado os presentes e os arrumou cuidadosamente ao pé da grande árvore de natal que enfeitava o salão de festas da escola. Chamava atenção a caixa embalada com papel dourado.
Aquele era o presente do professor Lourenço Vergara, comprado com o dinheiro rateado entre os alunos. Embora apressado e muito sério, Lourenço Vergara era um ótimo professor e todo ano era o que mais alunos aprovava com qualidade.
- Professor, o senhor vai à festinha de natal? Nós gostaríamos que estivesse presente. – perguntou uma das crianças.
- Não. Tenho um compromisso muito importante. – respondeu apressado abrindo a porta da sala de aula.
- É mais importante do que os seus alunos? – insistiu a criança.
- É tão importante quanto... – não deu para ouvir o fim da frase porque a porta se fechou.
Finalmente o dia da festinha de natal. Muita alegria, comes e bebes e a troca de presentes. Aos poucos as crianças foram se despedindo. No salão vazio a árvore de natal iluminava o único presente que sobrou: o presente do professor Lourenço Vergara. Luciana, uma das alunas do professor, pediu à diretora que a deixasse levar o presente para entregá-lo ao professor em sua casa.
Acompanhada dos amigos, Mário e Ritinha, Luciana partiu para a residência do mestre. A casa ficava numa rua sossegada e era circulada por um gramado bem tratado. As crianças bateram palmas e como ninguém as atendeu elas entraram pelo jardim encaminhando-se para os fundos.
De repente Luciana parou fazendo sinal para os dois amigos. Nos fundos da casa, um gramado especialmente desenhado e com brinquedos infantis, lá estava o professor com duas crianças paraplégicas, seus filhos. Ele brincava com elas.
- Papai, eu quero escorregar no escorregador. – pedia a menina.
- Papai, vem brincar de cavalinho comigo. – pedia o menino.
E o professor atendia, participava da brincadeira como se ele também fosse criança. Agora ele tinha nas mãos uma prancha de madeira pintada de verde. Colocou os dois filhos sentados nela e começou a puxá-la.
- Vamos lá, papai! Vamos lá! – gritavam alegremente os dois filhos de Lourenço. Isso se repetiu por quase uma hora.
Luciana e os amigos aproximaram-se e ela estendendo o presente para o professor disse.
- O senhor tem muita energia.
Sorrindo Lourenço respondeu.
- Eles são paraplégicos, resultado do acidente de carro que vitimou minha esposa. Sou eu quem cuida deles. Venham crianças, venham brincar com eles.
E foi uma tarde de muita alegria e confraternização. Luciana, Mário e Ritinha entenderam a pressa do professor. E quando as aulas recomeçaram no ano seguinte, a escola toda ficou conhecendo a história de Lourenço Vergara, o pai cheio de energia que tudo fazia pelos filhos especiais.
07/12/10.
(histórias que contava para o meu neto)